Má vontade com Pfizer tirou 4,5 milhões de vacinas do Brasil

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Foto: TONY WISTON/MS

Se o Brasil tivesse negociado com a Pfizer a aquisição de vacinas em agosto de 2020, o país poderia ter recebido 4,5 milhões de doses a mais de vacinas contra a Covid-19. A melhor oferta feita pela empresa na época previa 1,5 milhão de doses já em 2020 e outras 3 milhões no primeiro trimestre de 2021. As informações foram prestadas por Carlos Murillo, ex-presidente da empresa no Brasil e atual gerente geral na América Latina, na CPI da Covid.

Com as 4,5 milhões de doses que deixaram de ser fornecidas, o Brasil poderia ter imunizado 2,25 milhões de pessoas com a duas doses recomendadas do vacina da Pfizer. Esse total seria suficiente para imunizar mais de quatro vezes toda a população de uma cidade como Niteroi, que tem aproximadamente 513 mil habitantes, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Essa oferta também incluía 14 milhões no segundo trimestre de 2021. Mas o acordo que viria a ser fechado este ano também já prevê o mesmo quantitativo até junho.

Murillo fez uma ressalva que poderia fazer com que as 4,5 milhões não fossem entregues.

— Essa é a oferta. O que não posso afirmar é que teria sido exatamente esse, porque teríamos outras condições que tinham que ser cumpridas, como o registro sanitário da Anvisa [Agênca Nacional e Vigilância Sanitária] — disse Murillo.

A Pfizer fez três ofertas diferentes tanto de 30 milhões como de 70 milhões de doses em agosto do ano passado. A cada nova oferta, antecipava um pouco mais a entrega de parte dos lotes. As primeiras, por exemplos, previam 500 mil doses em 2020 e 1,5 milhão no primeiro trimestre de 2021. Em novembro, após as tentativas frustradas de agosto, houve nova oferta de 70 milhões, das quais 2,5 milhões seriam no primeiro trimestre de 2021 e 6,5 milhões no segundo.

Em fevereiro, foi feita a oferta de um contrato de 100 milhões de doses, que seria fechado no mês seguinte, das quais 8,7 milhões no segundo trimestre. Houve uma repactuação em março, que aumentou o total dos meses de abril, maio e junho para 14 milhões.

Há ainda um segundo contrato, de mais 100 milhões de doses, previstas inicialmente para o terceiro trimestre — 30 milhões — e quarto — 70 milhões. O executivo da Pfizer disse que, em razão da logística, após conversa com o Ministério da Saúde, houve uma mudança e tudo será entregue apenas no quarto trimestre.

O executivo da Pfizer disse que o Brasil não respondeu a oferta de vacinas em agosto. Ele também discordou da avaliação feita pelo ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello que justificou não ter fechado acordo em razão da cláusulas “leoninas”. Afirmou ainda que são os mesmos termos dos acordos firmados com mais de 100 países.

— Nossa oferta de 26 de agosto tinha, como era vinculante e estávamos nesse processo com todos os governos, tinha validade de 15 dias. Passados esses 15 dias, o governo do Brasil não rejeitou, mas tampouco aceitou a oferta — disse o executivo.

Perguntado se o governo dificultou a negociação, ele respondeu:

— Não poderia afirmar que se dificultou a conversa. O que objetivamente posso afirmar é que as condições foram ofertadas e o tempo de validade de nossa oferta. Não tivemos resposta e nem negativa.

O senador governista Marcos Rogério (DEM-RO) afirmou que há a tentativa de construir uma narrativa mentirosa sobre as negociações com Pfizer em 2020, porque isso não seria possível na época. Ele perguntou Murillo sobre quando conseguiu avançar com as tratativas com o governo, e o executivo respondeu que isso ocorreu com a aprovação de um projeto de lei em março de 2021 que deu segurança jurídica. A oposição, por outro lado, argumenta que o governo poderia ter editado uma medida provisória antes para resolver esse problema.

O presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), também rebateu os senadores governistas:

— Sabemos que, se o presidente quisesse editar uma medida provisória, não precisaria da boa vontade do presidente do Senado e muito menos do senador Randolfe, nós teríamos resolvido essa questão jurídica. Daqui a pouco é o Congresso que é o responsável pelo atraso da negociação com a Pfizer.

O Globo 

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