Ministro da Justiça tenta reduzir danos para o chefe no STF

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Foto: Paulo H Carvalho / Agência Brasília

Há pouco mais de um mês no cargo, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Anderson Torres, faz um esforço para tentar diminuir a tensão com o Supremo Tribunal Federal (STF) apesar de os apoiadores do presidente Jair Bolsonaro voltarem a fazer manifestações contra a Corte. Desde que assumiu o posto, Torres tem procurado ministros para estabelecer uma relação em que fique marcado o seu distanciamento dos ataques de bolsonaristas contra eles e até mesmo das falas mais controversas do próprio presidente, que voltou a comparecer aos atos.

No sábado, porém, Torres, além de outros ministros, acompanharam Bolsonaro na manifestação organizada por ruralistas. O ato tinha faixas contra o STF e a CPI da Covid. Havia também pedido por intervenção militar com Bolsonaro no poder.

Ao tomar posse em 6 de abril, Torres procurou imediatamente o presidente do Supremo, Luiz Fux. Também esteve com os ministros Dias Toffoli, Gilmar Mendes e Kassio Nunes Marques. Empenhado em demonstrar simpatia, em 19 de abril decidiu ligar para a ministra Cármem Lúcia, que estava completando 67 anos no dia. Ao pedir que o contato fosse feito, foi alertado por uma assessora que a ministra não gosta de cumprimentos de aniversário. Torres evitou a gafe e adiou o telefonema de apresentação.

O encontro com Fux no STF ocorreu em 8 de abril, dois dias após ser empossado em cerimônia no Palácio do Planalto. A primeira reunião com o presidente da Corte teve a participação de Rogério Galloro, ex-diretor-geral da Polícia Federal e hoje assessor especial de Fux. Não mencionaram Bolsonaro ou manifestações contra a Corte. Concentraram-se em falar sobre as dificuldades da vida pública e o assédio da imprensa. A agenda de Torres registra o encontro entre 16h e 17h, mas a conversa durou apenas 15 minutos.

Uma semana depois, o ministro da Justiça voltou ao STF, dessa vez para se reunir com Nunes Marques, o “novato” da Corte, indicado por Jair Bolsonaro. Embora sem registro na agenda, Torres também se reuniu com Gilmar e Toffoli.

Entre os ministros que já visitou, Torres deixou boa impressão. Na avaliação de um integrante da Corte, o ministro da Justiça demostrou habilidade política e abertura para buscar o diálogo nos momentos mais tensos. Por ora, magistrados, em conversas reservadas, têm preferido minimizar os atos bolsonaristas que voltaram a bradar contra o STF. A avaliação é que faz parte da retórica e do momento “panela de pressão”, com o Executivo sendo alvo da CPI da Covid, instalada por decisão do Supremo.

O desafio de Torres, por ora, reside numa aproximação com o ministro Alexandre de Moraes, considerado no Planalto uma “pedra no sapato” do presidente. Moraes é relator do inquérito que apura notícias falsas e ataques contra ministros do tribunal, e também de outro que investiga atos antidemocráticos organizados por apoiadores do presidente.

Após a aposentadoria do ex-ministro Celso de Mello, Moraes também se tornou relator do inquérito que apura a suposta interferência indevida de Bolsonaro na Polícia Federal. Em fevereiro, o ministro determinou a prisão do deputado bolsonarista Daniel Silveira (PSL-RJ) por defender o AI-5, o mais duro ato da ditadura militar, e fazer ataques aos membros do STF.

Em junho do ano passado, em meio à escalada da crise entre os poderes, três ministros estiveram em São Paulo para se reunir com Alexandre de Moraes. A missão de paz envolveu o antecessor de Torres, o hoje advogado-geral da União, André Mendonça, o ex-chefe da Secretaria-Geral, Jorge Oliveira (atual ministro do Tribunal de Contas da União), e José Levi, então chefe da AGU. A interlocutores, Torres reconhece que a missão é difícil, mas gaba-se de ser bem articulado para construir uma ponte com Moraes.

Delegado da Polícia Federal desde 2003, ele estava até abril à frente da Secretaria de Segurança do Distrito Federal. Próximo do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), já vinha sendo cotado para o comando do Ministério da Segurança Pública.

Em 2010, Torres assumiu como chefe de gabinete do então deputado federal Fernando Franceschini (PSL-PR). Na Câmara, acompanhou o parlamentar na comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado. Foi nesta época que se aproximou do então deputado Jair Bolsonaro, que assim como Franceschini, integrava a bancada da bala — grupo que agora apoiou seu nome ao ministério.

Após diversas vezes ter sido cotado para ganhar um cargo no governo federal — e trabalhado nos bastidores para isso —, Torres se surpreendeu com a ligação de Bolsonaro para ir ao Palácio do Planalto. Naquela segunda-feira, 29 de março, tinha ido trabalhar sem terno e com a barba por fazer. Precisou ir em casa se aprontar para se apresentar no gabinete presidencial. Bolsonaro, que naquele dia faria seis mudanças no primeiro escalão, perguntou, sem maiores explicações, se Torres estava pronto para a missão. Ele saiu de lá ministro.

O Globo