Senadores governistas tentam “vender” cloroquina na CPI
Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado
O senador Luis Carlos Heinze (PP-RS), integrante da CPI da Covid, tem usado seu tempo de fala na comissão para defender o uso da cloroquina no tratamento da Covid-19. Por dois dias seguidos, Heinze questionou estudos científicos e defendeu médicos que receitam o medicamento.
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A droga, com comprovada ineficácia no combate ao vírus, foi recomendada em diversas ocasiões pelo presidente Jair Bolsonaro e seus apoiadores, assunto de que a CPI vem tratando. Heinze apresentou um requerimento, que ainda não foi apreciado, para ouvir médicos defensores da droga na CPI.
Na sabatina do ex-ministro da Saúde Nelson Teich, nesta quarta-feira, Heinze questionou estudos científicos sobre a cloroquina, como uma pesquisa conduzida pela Fiocruz.
— Qual é o tratamento? Ivermectina, cloroquina, hidroxicloroquina, azitromicina, vitaminas, sei lá, um pacote de tratamentos que podiam fazer. É uma guerra, Ministro. Fazer o que nesse momento? Vai para a casa? Vai dormir? — questionou Heinze.
O senador foi repreendido pelo presidente da comissão, Omar Aziz (PSD-AM). Aziz tem reiterado que, em relação à eficácia dos tratamentos contra Covid, é preciso ouvir os cientistas e especialistas no assunto.
— Eu respeito a opinião de todos. Eu cursei Engenharia Civil por alguns anos e me formei em Engenharia Civil. Agora, o que não dá, senador Luis Carlos Heinze, é pessoas que nunca passaram na porta de uma faculdade de Medicina quererem saber mais do que um médico — disse Omar.
O senador Otto Alencar (PSD-BA), formado em medicina, também pediu a palavra e marcou posição contrária às falas do colega.
— Se tomar um copo de água, é a mesma coisa que tomar um comprimido ou dez ou vinte de hidroxicloroquina. A água é melhor, porque não dá efeito colateral. Então, como 90% a 95% das pessoas cursam dessa forma, não custa nada um charlatão receitar hidroxicloroquina, o doente ia ficar bom de qualquer jeito, e ele diz que foi a hidroxicloroquina que salvou o paciente.
Na terça-feira, Heinze usou sua pergunta ao ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta para o mesmo fim: defender o uso de drogas sem eficácia comprovada contra a Covid-19. Mandetta disse que é preciso diferenciar crendice de ciência e defendeu o método usado em pesquisas.
Procurado pelo GLOBO, Heinze disse que há um esforço em “queimar esse produto” (a cloroquina e a hidroxicloroquina), motivado pelo fato de o presidente Jair Bolsonaro ter defendido o seu uso. Citou a cidade de Rancho Queimado, no Rio Grande do Sul, onde o tratamento com a droga teve sucesso, de acordo com o senador.
— Se esse tratamento não fosse demonizado como foi, se fosse aplicado como os médicos que priorizam e preconizam esse tratamento, poderíamos ter 200 mil mortos em vez de 400 mil mortos — argumentou o senador.
Heinze cita médicos renomados que, contrariando a comunidade científica, defenderam medicações como cloroquina e ivermectina, como Didier Raoult e Luc Montagnier. Raoult, porém, já voltou atrás e admitiu que o uso do medicamento não reduz o número de mortes.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que a hidroxicloroquina e a cloroquina não sejam usadas no combate à Covid-19, especialmente devido à ineficácia e efeitos adversos.
Suplente na CPI, Heinze é engenheiro agrônomo de formação e integrante da bancada ruralista no Congresso Nacional. De 1999 a 2019, foi deputado federal pelo Rio Grande do Sul.
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