Alto comando do Exército discute amanhã o caso Pazuello

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Foto: ANDRE BORGES / AFP

O Alto Comando do Exército realiza nesta quarta-feira uma reunião virtual que vai discutir a crise causada pela participação do general da ativa e ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello na manifestação de apoio ao presidente Jair Bolsonaro, em 23 de maio.

Pazuello está respondendo a um procedimento disciplinar por violar o Estatuto dos Militares e o Regulamento Disciplinar do Exército, que proíbem seus oficiais de participar de manifestações políticas coletivas. A decisão do comandante do Exército, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, deve sair até o final da semana.

Os generais de quatro estrelas que compõem o comando estão indignados com a nomeação de Pazuello para um cargo no Palácio do Planalto, como Secretário de Estudos Estratégicos da Secretaria Especial de Assuntos Estratégicos (SAE).

Foram pegos de surpresa, assim como o comandante Paulo Sérgio, e se consideram traídos por Bolsonaro e pelos também generais e ministros Luis Eduardo Ramos, da Casa Civil, e Walter Braga Netto, da Defesa.

Em reuniões internas do generalato realizadas ao longo desta terça-feira, vários oficiais interpretaram a nomeação de Pazuello como uma tentativa de “criar embaraços” para uma punição.

O próprio presidente da República já deixou claro ao comandante do Exército, nos últimos dias, que não quer que Pazuello seja punido. Em sua defesa, Pazuello sustentou que o ato não era político.

A possibilidade de não haver punição, porém, não é considerada pelos generais do Alto Comando. A quebra de hierarquia representada pela atitude de Pazuello é uma das principais transgressões na força, e a punição, indispensável para para a manutenção da autoridade do comandante. “Ou o comandante pune Pazuello, ou ele perde a autoridade”, têm dito esses generais, nos últimos dias.

A equação, porém, é delicada, porque Bolsonaro pode mandar revogar a punição, aprofundando ainda mais a crise com o Exército. Por isso, muitos oficiais de alta patente defendem uma punição branda e negociada com o presidente.

Conforme a solução adotada, porém, o mal-estar persistirá. Em conversas com suas tropas, os oficiais concluíram que muitos subordinados apostam que o caso “vai acabar em pizza”.

Eles têm passado essa impressão ao comandante Paulo Sérgio, junto com a mensagem de que não punir Pazuello pode levar aos outros oficiais da ativa a julgar que podem se manifestar livremente em atos políticos. “Os subordinados estão olhando. O que for feito agora, enviará uma mensagem para os próximos meses”, comentou um interlocutor do comandante.

Uma das possibilidades que se cogita internamente, por exemplo, é que seja aplicada uma punição consignada em boletim reservado, ou secreto, do Exército. Para vários generais, essa não seria uma solução aceitável. Dizem que, para as tropas, seria a confirmação de que a crise resultou em “pizza”.

Dado o nível de tensão nos quartéis, tudo indica que qualquer solução deixará sequelas. Muitos consideram que a crise atual é ainda mais complicada justamente por ocorrer muito pouco tempo depois da demissão coletiva dos comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, em março passado. Para esses generais, Bolsonaro está “testando os limites do Exército”. Resta saber se quais são esses limites.

O Globo