Bolsonaristas seguem divulgando fake news sobre mortes por Covid
Foto: Editoria de Arte
A fake news divulgada por Jair Bolsonaro sobre a supernotificação de óbitos por Covid-19 no Brasil, que segundo o presidente da República teria sido constatada pelo Tribunal de Contas da União (TCU), movimentou as redes bolsonaristas nos últimos dias.
Nem mesmo os desmentidos do TCU e do próprio Bolsonaro, que recuou da afirmação nesta terça-feira, adiantaram: apoiadores do governo federal insistiram na versão de que as mortes foram infladas em mais de 50%. E ficaram ainda mais agitados depois que o presidente disse que a Controladoria-Geral da União (CGU) investigará o suposto excesso de vítimas fatais.
O vídeo em que Bolsonaro denuncia a falsa discrepância chegou a ser compartilhado na lista do filho 01, o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ), e foi reproduzido diversas vezes nos grupos bolsonaristas de WhatsApp e Telegram.
Poucas horas depois, a corte de contas divulgou um comunicado desmentindo que houvesse o tal relatório. Os grupos, porém, o receberam com desconfiança, e passram disseminar boatos de que o suposto relatório havia desaparecido do sistema do TCU.
O caso é que havia de fato, um documento do tribunal compilando relatórios e acórdãos, e dizendo que o critério de distribuição de verbas aos estados a partir da incidência da Covid-19 poderia levar alguns estados a notificar mais mortes do que o que de fato ocorreram, para poder receber mais recursos.
Mas o texto não tratava em nenhum momento de casos concretos e tampouco calculava um número de notificações falsas no ano de 2020, como alardeado pelos bolsonaristas. E também não era, no fim das contas, o material que chegou ao conhecimento do presidente da República.
O “relatório” que acendeu o sinal de alerta em Bolsonaro, e que a revista Crusoé revelou na terça-feira ter sido formulado por um servidor do TCU à revelia da instituição, era um arquivo em PDF que teve sua primeira página distribuída nos grupos logo depois da fala do presidente.
O documento, embora destoante do padrão da corte e nitidamente amador, serviu para reforçar a tese de que houve sim um relatório e que ele teria sido abafado pelo tribunal após a repercussão. Nesse arquivo, fala-se que os estados manipularam os os números da Covid-19 para prejudicar o governo federal.
Depois da nota pública do TCU, os grupos passaram a receber novas mensagens reforçando a tese de operação-abafa para “esconder” o excesso de mortes por Covid. “Jogada da esquerda, vamos tomar cuidado. Afinal, o presidente jamais falaria uma mentira”, escreveu uma apoiadora de Bolsonaro. “O Brasil é o país onde o TCU desmente o presidente sobre o relatório que o próprio tribunal gerou e, depois de vazado e exposto nas redes, o tira do ar. Tudo aparelhado. Mas eles vão cair, todos, um a um”, ameaçou outro militante.
Um site bolsonarista reproduzido com frequência nos grupos de WhatsApp deu o tom da suposta trama. “Alguém do TCU está mentindo. Em relatório entregue a Bolsonaro, claramente há um grande número de óbitos por Covid sem confirmação”, destacou o portal. “O TCU insistiu em negar a afirmação do presidente, mas o documento deixa claro que os números realmente foram enviados com questionamentos pela entidade (sic)”.
Outros apoiadores também enxergaram manipulação contra o presidente, mas sob uma perspectiva diferente. “É falso (o relatório). Fizeram um relatório porco. O Bolsonaro teve que admitir que errou ao falar dele. Alguém armou contra o presidente”, escreveu uma bolsonarista. “Pode ser. Dentro do TCU tem gente que não aceita a vitória em 2018”, retrucou outro militante.
Por Johanns Eller