Bolsonaro demonstra envolvimento nos crimes de Salles
Foto: Lula Marques
Em menos de duas semanas, o ministro Ricardo Salles (Meio Ambiente) migrou definitivamente do noticiário político-administrativo para as manchetes da editoria de polícia. Bolsonaro demora a perceber. Mas Salles tornou-se um subordinado infeccioso. Ao mantê-lo no cargo, o presidente se contamina, ganhando uma incômoda aparência de cúmplice.
A gestão antiambiental de Salles forneceu material para dois inquéritos no Supremo Tribunal Federal. Ambos tratam de negócios escusos com madeira ilegal. Num, já aberto, o antiministro amargou, em 19 de maio, batidas de busca e apreensão em seus endereços. Coisa ordenada pelo ministro Alexandre de Moraes e municiada com dados repassados por autoridades dos Estados Unidos.
Noutro inquérito, prestes a ser inaugurado pela ministra Cármen Lúcia, a Procuradoria-Geral da República pede a apuração de denúncias levadas à Suprema Corte por meio de notícia-crime do delegado Alexandre Saraiva, destronado do comando da Polícia Federal no Amazonas depois que iluminou os calcanhares de vidro de Salles.
No caso relatado por Alexandre de Moraes, apura-se a tentativa de socorrer madeireiros pilhados tentando enfiar madeira ilegal no mercado dos Estados Unidos. No despacho em que autorizou os rapazes da PF a varejar os endereços do ministro e de uma penca de assessores, Moraes reproduziu um relato policial.
Diz o seguinte: “A situação que se apresenta é de grave esquema criminoso de caráter transnacional. Esta empreitada criminosa não apenas realiza o patrocínio do interesse privado de madeireiros e exportadores em prejuízo do interesse público, notadamente através da legalização e de forma retroativa de milhares de carregamentos de produtos florestais exportados em dissonância com as normas ambientais vigentes entre os anos de 2019 e 2020, mas, também, tem criado sérios obstáculos à ação fiscalizatória do poder público no trato das questões ambientais com inegáveis prejuízos a toda a sociedade”.
Na encrenca conduzida por Cármen Lúcia, o delegado Alexandre Saraiva, que chefiada a PF no Amazonas desde 2017, acusa o ministro do Meio Ambiente de dificultar fiscalizações ambientais e exercer advocacia administrativa em favor de desmatadores. Gente pilhada na maior extração ilegal de madeira de todos os tempos. Coisa de 200 mil metros cúbicos de toras. Mercadoria estimada em R$ 129 milhões.
Intelectualmente lento, Bolsonaro permitiu que Salles se convertesse num ministro moralmente ligeiro. Consumado o desastre, o presidente revela-se politicamente devagar, retardando a demissão do titular do Meio Ambiente. Essas três velocidades —lentidão mental, ligeireza moral e vagareza política— são insultuosas.
Gestores públicos costumam ruminar uma dúvida: Qual é o melhor momento para mudar? A resposta é muito simples: antes que seja necessário. Salles vai se revelando um ministro capaz de tudo. E Bolsonaro, um presidente incapaz de todo. O afastamento de Salles, por incontornável, virá cedo ou tarde. Se tardar demais, Bolsonaro não demitirá o ministro, dará alta a Salles. Quanto mais demorar, maior será o contágio.