Cientista diz na CPI que só Brasil ainda fala em cloroquina

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Foto: Reprodução/TV Senado

A microbiologista Natalia Pasternak defendeu, nesta sexta-feira, que ciência não é questão de ponto de vista e que é resultado de um processo e método de investigação da realidade. “Ciência não é qualquer coisa que foi publicada em artigo científico ou dita por um cara de jaleco; não é questão de opinião”, disse durante a sessão da CPI da Covid no Senado.

Segundo ela, graças à ciência, é “possível produzir a melhor descrição possível da realidade com as ferramentas que temos nas mãos”.

Ela também defendeu que a pandemia provou que a comunicação da ciência é essencial para levar informação correta às pessoas. “Se a pandemia nos trouxe algum benefício, foi de mostrar que a ciência pode ser levada e compreendida por toda população”, disse.

Pasternak também fez uma crítica ao uso da cloroquina, defendida pelo presidente Jair Bolsonaro. Segundo ela, estamos pelo menos seis meses atrasados nesse discussão, pois todo o mundo já descartou o uso dessa droga no tratamento da covid-19.

“Cloroquina, infelizmente, causa muita confusão no nosso país hoje. Cloroquina, infelizmente, nunca teve ‘plausibilidade biológica’ para funcionar. Já foi testada e falhou para vários vírus e, por isso, também não tem probabilidade para funcionar”, disse.

A microbiologista disse que não interessa quantas pessoas a gente conhece que usaram cloroquina e se curaram, pois isso não se transforma em evidência científica. “Correlação não é a mesma coisa que causa e efeito.”

Em uma brincadeira com as emas que habitam o Palácio do Planalto, ela disse que a cloroquina foi exaustivamente testada. “Cloroquina já foi testada em tudo, em animais, humanos; só não testamos em emas porque elas fugiram”, disse.

Para ela, esse discurso sobre o uso da cloroquina é uma “mentira orquestrada” que tem sido usada pelo governo. “Isso é negacionismo. Essa mentira mata porque leva as pessoas a comportamentos irracionais não baseados em ciência”, disse.

Segundo ela, isso não acontece só com o uso de cloroquina, serve para uso de máscaras, distanciamento social e atraso na compra de vacinas.

A microbiologista afirmou que, via de regra, doenças virais são tratadas com vacinas e não remédios. “Doenças virais são tratadas tradicionalmente com vacinas. Com antivirais, é difícil. Em geral, doenças causadas por vírus não têm remédio”, disse. “Nunca erradicamos ou controlamos doença no mundo com imunidade de rebanho, mas, sim, com vacinas”, acrescentou.

Ela aponta que vale a pena investir no desenvolvimento de remédios, mas isso precisa ser um investimento contínuo e não pontual.

A posição foi reforçada pelo médico sanitarista Claudio Maierovitch, que também é ouvido na CPI. Ele lembrou que o presidente Jair Bolsonaro, quando era deputado, foi um dos autores do projeto que autorizava o uso da fosfoetanolamina sintética, conhecida como “pílula do câncer”, cuja lei foi derrubada pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Natalia, por sua vez, recordou que patrocinar estudos sobre o “remédio” contra o câncer custou R$ 10 milhões ao governo de São Paulo. “Isso movimenta dinheiro público. Não aprendemos a lição, pois repetimos essa história anos depois com medicamentos sem comprovação científica.”

Os dois são críticos ao chamado tratamento precoce e ao uso da cloroquina no tratamento para a covid-19.

No início da sessão, o senador Humberto Costa (PT-PE) criticou a fala de Bolsonaro de que o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, iria publicar um parecer para desobrigar o uso de máscara por quem já se vacinou ou contraiu a covid-19. O senador cobrou “coerência” do ministro da Saúde, que é um defensor de medidas preventivas, como o distanciamento social, para o enfrentamento da pandemia.

Valor Econômico