CPI serve de palco para médicos charlatães

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Foto: Pablo Jacob

A CPI da Covid vive nesta terça-feira o resultado previsível da sua opção por dar palco para médicos defensores do tratamento precoce para a covid-19, comprovadamente ineficaz. Diante da insistência de Nise Yamaguchi em defender sua pregação pró-cloroquina e hidroxicloroquina, inclusive tergiversando a respeito de sua atuação no curso da pandemia, senadores começaram a berrar, a se exasperar. E fica a pergunta: para que, então, esse depoimento?

O histórico de Nise era conhecido de entrevistas, artigos e lives das quais ela participou. Se não queriam que ela fosse para a CPI defender terapias ineficazes e até perigosas, para que convidá-la a depor? Como convidada, ela nem tem o compromisso de dizer a verdade.

Agora o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), ameaça encerrar a reunião e convocar Nise como testemunha. Por que não o fez desde o primeiro momento? Se o objetivo da CPI com a presença da doutora Nise em Brasília é comprovar a existência do chamado gabinete paralelo de assessoramento de Jair Bolsonaro, que atuava à revelia do Ministério da Saúde, a convocação e perguntas que se atenham a esse aspecto seriam o caminho mais eficaz.

Mas ainda assim o G7 não tem total controle do que a bancada governista vai dizer ou perguntar, nem sobre o que o depoente vai falar. Senadores bolsonaristas têm sido pródigos em defender o tratamento precoce mesmo agora, a essa altura da pandemia, um ano e 3 meses depois da chegada do novo coronavírus ao país.

O depoimento de Mayra Pinheiro já deveria ter sido didático para que a CPI redefinisse o foco e enxugasse os convites, limpando a pauta de oportunidades para que negacionistas defendam coisas indefensáveis à luz da ciência e dos estudos mais atualizados acerca do contágio pelo Sars-Cov-2 e do tratamento da doença por ele provocada.

Ao ouvir uma médica repetir falácias sobre medicamentos que não são eficazes para curar ou sequer atenuar os efeitos da covid-19 no organismo, muitas pessoas podem se socorrer desses remédios e descuidar dos outros cuidados, esses sim eficazes, enquanto a vacina não chega: usar máscaras seguras toda vez que sair de casa, lavar sempre as mãos e manter o distanciamento social. E procurar um médico para ser por ele orientado se for infectado.

Mas ainda assim há outros convites do gênero. Será necessário colocar a bola no chão e reprogramar as oitivas. Muito mais urgente é ouvir novamente Eduardo Pazuello e Marcelo Queiroga, uma vez que a decisão de não adquirir vacinas é o veio principal da CPI e aquele que dispõe de mais elementos para responsabilização e para comprovar mentiras do general Pazuello aos senadores.

O Globo