Depoimento da infectologista Luana Araujo assusta o governo

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Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado

Vetada pelo presidente Jair Bolsonaro para assumir a secretaria extraordinária do Ministério da Saúde de enfrentamento à pandemia, a médica Luana Araújo depõe nesta quarta-feira à CPI da Covid e, antes mesmo do início da oitiva, já representava “uma dor da cabeça” entre aliados do chefe do Poder Executivo.

A principal preocupação é que o depoimento da infectologista amplie a desconfiança, dentro e fora do colegiado, de que o presidente tenha agido com descaso em relação à crise sanitária.

Segundo fontes, o temor é que Luana, considerada capacitada pelo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, emplaque versão de que foi “convidada a se retirar do cargo” por questões políticas e por posicionamentos divergentes do Palácio do Planalto mesmo sendo vista como um nome técnico e qualificado para a função.

A avaliação é que o próprio Queiroga “abriu espaço” para que Luana aborde o veto político, já que ele mesmo reconheceu a interferência do presidente na decisão de dispensá-la.

Em um primeiro momento, o ministro tentou preservar Bolsonaro, mas, após a CPI confirmar a convocação da médica, sinalizou que o presidente “deixou sua digital” na decisão de não formalizá-la na função.

Na semana passada, durante audiência pública da Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara, Queiroga fez elogios a Luana e destacou que, para integrar cargos de confiança do governo, é preciso ter “validação técnica e política”, citando o nome do presidente.

“Nós encaminhamos o nome dela para as instâncias do governo. Nós vivemos num regime presidencialista. Eu fui indicado por quem? Pelo presidente da República. É necessário que exista validação técnica e também política para todos os cargos que pertencem ao núcleo de cargos de confiança do governo, porque senão não há condição de o presidente da República implementar as políticas públicas que são necessárias para o enfrentamento da pandemia.”

Segundo apurou o Valor, a fala de Queiroga gerou desconforto entre auxiliares e aliados de Bolsonaro por “dar munição” para que opositores sustentem teses de que o governo “deu mais bola para politizar a pandemia do que para buscar soluções para o combate à pandemia”.

A preocupação é que essa leitura fique “mais evidente” a depender do tom utilizado por Luana durante seu depoimento à CPI.

Valor Econômico