Lewandowski relatará queixa do PT contra Copa América

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Foto: Daniel Ferreira/Metrópoles

O anúncio que a Copa América, um torneio caça-níquel, será realizada no Brasil, este ano, não foi “coisa para a internet”, como disse o general Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde, para justificar arroubos do presidente Jair Bolsonaro e decisões que o mandatário toma e volta atrás no momento seguinte.

De vez que a Argentina e a Colômbia recusaram-se a sediar o evento, o presidente da Confederação Sul-Americana de Futebol telefonou para o presidente da Confederação Brasileira de Futebol, que telefonou para Bolsonaro, que em 10 minutos comprou a ideia, acionou ministros e deixou vazar a informação.

Não contava, porém, com o tamanho da onda negativa que se levantaria contra ele nas redes sociais, na mídia em geral e dentro do Congresso. Como realizar um evento desse porte em um país à espera do recrudescimento da pandemia que matou até agora mais de 462 mil pessoas, infectando 16,5 milhões?

Maio chegou ao fim como o terceiro mês mais mortal desde o aparecimento do vírus em março do ano passado. Abril último foi o mês com o maior número de mortos pela Covid-19 – 82.401. Menos de 22% da população foi vacinada com a primeira dose, e com a segunda apenas 10,48%. É hora de promover um torneio?

Brasileiro não é bem-vindo à maioria dos outros países porque somos vice-campeão mundial em número de mortos pelo vírus, e estamos mal colocados no ranking dos países que mais vacinam. Por que imaginar que estrangeiros viriam para cá em quantidade tal capaz de resultar em uma injeção expressiva de receita?

Se dependesse de Bolsonaro, o distinto público seria admitido nos estádios para que a festa fosse completa. Natural que em torno dos estádios as multidões se formassem, provocando maior circulação de dinheiro e alimentando a economia informal, a que mais precisa. Tudo de bom, então, lhe seria creditado.

E de mal? Ora, dinheiro aplicado na veia dos mais pobres é o mais eficiente antídoto contra os ataques que ele poderia sofrer. Que ficasse com a oposição ao seu governo o ônus de ser contra a alegria que o futebol proporciona aos brasileiros. Bolsonaro sairia no lucro. E o lucro seria ainda maior se… Isso ele jamais diria.

É legítima a suspeita de que Bolsonaro queira a Copa América para ajudar o avanço do vírus. O pilar que sustenta a teoria da imunização do rebanho, defendida por ele como meio de frear a pandemia, é justamente este: se 70% ou mais da população contrair a doença, a contaminação começará a ceder sozinha.

Também é legítima a suspeita de que, com a Copa, ele enxergue uma oportunidade de dar mais uma fustigada no Grupo Globo, beneficiando diretamente a rede de emissoras de Silvio Santos, que faz parte do Sistema Bolsonarista de Televisão (SBT) e detém com exclusividade os direitos de transmissão dos jogos.

Fábio Faria, ministro das Comunicações, é genro de Silvio. Quem poderia reclamar da compra pelo governo de cotas de publicidade de um evento destinado a atrair grande audiência? Disso se encarregariam as empresas estatais, ou se encarregarão se, de fato, o Brasil sediar a Copa América.

O que estava certo, ou parecia certo, sofreu forte abalo depois que o general Luiz Eduardo Ramos, chefe da Casa Civil, comentou nessa segunda (31/5) que a decisão final a respeito só sairá hoje. Governadores disseram que não haverá jogos em seus Estados. Partidos entraram com ações no Supremo Tribunal Federal.

As ações serão julgadas pelo ministro Ricardo Lewandowski, o relator, ali, de tudo o que tem a ver com a pandemia. A última palavra será dele, não de Bolsonaro. Se ele disser não, a Bolsonaro restará cumprir a decisão, e repetir que seu direito a governar está sendo tolhido mais uma vez pela justiça.

Metrópoles