Lula acha que sua presença pode afastar apoios aos protestos de sábado

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Foto: Taba Benedicto/Estadão

As manifestações de rua contra o presidente Jair Bolsonaro, marcadas para sábado, 19, jogaram o PT em um dilema. Embora militantes defendam a presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no palanque dos protestos, a avaliação majoritária na cúpula petista indica que a hora não é de antecipar o duelo com Bolsonaro, mas, sim, de agregar forças, na tentativa de ampliar o movimento para além das fronteiras da esquerda.

Nos bastidores, dirigentes do PT admitem que se trata de um cálculo político difícil. A tendência, porém, é Lula não comparecer à manifestação, embora o ex-prefeito Fernando Haddad, adversário de Bolsonaro, em 2018, tenha confirmado presença na Avenida Paulista.

Os protestos vão ocorrer justamente quando o País caminha para atingir a triste marca de 500 mil mortes por covid-19. Assumir o protagonismo dos atos agora pode ser interpretado por eleitores como uma atitude oportunista de Lula e ter efeito colateral contrário, diminuindo o alcance da ofensiva.

“Não quero transformar um ato da sociedade em um ato político-eleitoral”, afirmou o ex-presidente nesta quinta-feira, 17, em entrevista à rádio Tribuna Norte. “A sociedade começou a andar. O povo brasileiro está acordando”. No mesmo tom de postagem publicada antes no Twitter, Lula também disse se preocupar com a exploração de sua presença por meios de comunicação.

 

Na prática, se antes a estratégia do PT caminhava para uma linha de fazer Bolsonaro “sangrar” no cargo até a disputa eleitoral de 2022, há hoje a percepção de que é preciso trabalhar pelo impeachment. A CPI da Covid, que tem apontado erros e omissões do governo no combate à pandemia, é vista como motor de arranque para essas articulações.

A oposição vive, no entanto, uma encruzilhada. Acompanhando o slogan que pede vacina e auxílio emergencial de R$ 600, o “Fora, Bolsonaro” não pode passar a mensagem de incentivo a aglomerações. “Mas é muito grave ver um enorme crime de responsabilidade à nossa frente e cruzar os braços, sem punir quem o cometeu”, disse Marco Aurélio Carvalho, coordenador do grupo Prerrogativas e signatário de um dos mais de cem pedidos de impeachment que repousam na Câmara contra Bolsonaro. “Nossa ideia é conquistar corações e mentes”, emendou o advogado.

Em crescimento nas redes sociais após o presidente ter dito, no último dia 10, que orientou o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, a fazer um estudo sobre o fim da obrigatoriedade de máscaras para quem já foi vacinado ou contraiu covid, o mote “Não tire a máscara. Tire o Bolsonaro” também foi assumido pelo movimento.

A expectativa dos organizadores dos protestos – que reúnem PT, PSOL, PC do B, centrais sindicais e frentes como Povo sem Medo, Brasil Popular e Coalizão Negra – é que os atos ocorram em no mínimo 320 cidades. “Não podemos deixar que a fotografia do fim de semana seja o Bolsonaro rindo, como se nada estivesse acontecendo no Brasil”, resumiu o secretário de Comunicação do PT, Jilmar Tatto.

Para o Palácio do Planalto, porém, a hora é de comemorar. Tanto é assim que a TV Brasil planeja lançar em breve um telejornal só com boas notícias. O nome? “Bom de Ver”. Sem crise, sem máscara e sem panelaço.

Estadão