Mobilização nas redes desmontou relatório falso de bolsonarista da TCU
Foto: Marcos Brandão/Senado Federal
O relatório com questionamentos sobre o número de mortes por Covid-19 em 2020, citado pelo presidente Jair Bolsonaro na segunda-feira, teve alcance significativo nas redes sociais após ser impulsionado por parlamentares bolsonaristas e apoiadores do governo. O Tribunal de Contas da União (TCU) desmentiu o presidente e negou que tenha emitido o documento.
A pedido do GLOBO, a consultoria Arquimedes, especializada em análises sobre as plataformas digitais, identificou mais de 37 mil menções aos dados falsos feitas pela base bolsonarista no Twitter entre a última segunda-feira e ontem. O número representa 35% do debate na rede sobre o tema, enquanto os perfis que atuaram para desmentir o presidente somaram 65% das menções, ainda segundo a Arquimedes.
Um levantamento feito pelo GLOBO também aponta que apenas dez parlamentares apoiadores do presidente geraram mais de 1,3 milhão de visualizações de vídeo e 259,5 mil interações em publicações que disseminaram a afirmação de que o relatório era do TCU. Os dados incluem postagens no Facebook, Instagram e Twitter. Um dos destaques foi o próprio perfil do tribunal no Twitter.
Entre os parlamentares, a maior parte das postagens foi de reproduções das declarações de Bolsonaro. Entre os principais disseminaradores do relatório estão dois filhos do presidente, o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ) e o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), a deputada federal Bia Kicis (PSL-DF), que preside a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara e é investigada no inquérito das fake news no Supremo Tribunal Federal (STF), além do também deputado federal Carlos Jordy (PSL-RJ).
Na Câmara, completam a lista os deputados Luiz Lima (PSL-RJ), Hélio Lopes (PSL-RJ) e Nelson Barbudo (PSL-MT). Todas as publicações continuavam no ar até a noite de ontem.
O deputado estadual de São Paulo Gil Diniz (sem partido), também alvo da investigação sobre fake news, chegou a ironizar a nota do TCU em que o órgão desmentiu Bolsonaro. “Ao que parece o pessoal do TCU não lê o que escreve”, publicou um dia depois do texto ser divulgado.
Bolsonaro reconheceu na última terça-feira que havia errado ao atribuir a informação ao tribunal, mas insistiu, sem apresentar provas, na afirmação de que há sobrenotificação de mortes causadas pela Covid-19.
— Não é a primeira vez que o presidente divulga uma mensagem falsa. Esse tipo de ação comumente ganha alcance na sua base, enquanto que a oposição também dá audiência denunciando a atitude. Tal qual a mentira sobre a fraude nas eleições de 2018, no fim, prevalece a desinformação, gerando dúvidas e alimentando teorias conspiratórias — avalia Pedro Bruzzi, sócio da Arquimedes.