OMS avisa Bolsonaro que só vacina não encerra pandemia

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Foto: Bruno Kelly/Reuters

Às vésperas de registrar oficialmente 500 mil mortos pela covid-19, o Brasil recebe um alerta por parte da OMS (Organização Mundial da Saúde). Nesta sexta-feira, a entidade deixou claro que “a pandemia não terminou”, vacinas por si só não resolverão e medidas como o uso de máscaras e evitar aglomerações precisam ser implementadas com mais rigor.

No mundo, a pandemia registra uma queda importante, com uma redução de novos casos chegando a 14% na semana e a menor taxa de infecção desde fevereiro. Em três meses, o total semanal de contaminados caiu pela metade e as mortes também começam a ser reduzidas de forma importante.

Mas a OMS alerta que dois mundos começam a ser formados. Um deles, com ampla vacinação e depois de meses de medidas de controle, começa a se abrir. Estádios com público, a volta de restaurantes e festas voltam a ser imagens de uma Europa que redescobre certas liberdades de movimento.

Mas um segundo mundo, ainda mergulhado na pandemia, ainda aguarda por vacinas e vê a expansão do número de casos. Essa é a situação do Brasil e da América do Sul.

Mariângela Simão, vice-diretora da OMS, foi clara. “É com muita tristeza que a OMS vê o Brasil atingindo esses números”, disse. “Os casos nas Américas, inclusive no Brasil, ainda permanecem em patamares muito altos”, insistiu.

A representante da OMS parabenizou o Brasil por sua capacidade de produção local de vacinas, com 80 milhões de doses aplicadas. Mas alertou que “ainda há uma grande necessidade de implementar e reforçar as medidas preventivas de saúde pública”.

Simão admite que houve “uma controvérsia” no Brasil nos últimos dias sobre o tema, numa referência à sugestão de Jair Bolsonaro de avaliar o fim do uso de máscara.

Mas ela insiste que o uso da proteção continua sendo recomendada pela OMS, além de evitar aglomerações e outras medidas sociais. “São medidas que continuam sendo centrais”, disse.

“A pandemia não terminou”, disse. De acordo com a diretora, a crise continua a colocar “pressão sobre a saúde pública”. “Todos os esforços para a vacina precisam ocorrer em conjunta com medidas de saúde pública”, defendeu.

Mike Ryan, diretor de operações da OMS, também alertou para o surgimento de variantes e a pressão sobre serviços públicos. “Temos de andar mais rapidamente do que estamos fazendo, tanto em evitar a transmissão como distribuir os benefícios da vacina”, disse.

Tedros Ghebreyesus, diretor-geral da OMS, deixou claro que a falta de medidas sociais e a desigualdade no acesso às vacinas continuam a dar a possibilidade para que o vírus continue a se expandir.

“O fracasso global de distribuição de vacinas está alimentando a crise e está cobrando um preço elevado”, disse Tedros. Segundo ele, muitos países latino-americanos estão vivendo uma expansão no número de casos, enquanto a alta na África é de mais de 50% em um mês.

“Essa situação deve ficar ainda pior”, alertou Tedros. Segundo ele, apenas 1% da população africana foi vacinada. “Doar vacinas no ano que vem é muito tarde para quem está morrendo hoje”, insistiu o etíope, que pressiona empresas e governos a acelerar as doações prometidas ainda para o mês de junho e julho. Na região do G7, na semana passada, governos anunciaram 870 milhões de doses para os países mais pobres. Mas não deram datas sobre quando isso ocorreria.

A meta da OMS é de conseguir vacinar 10% de todos os países mais pobres em setembro, 40% em dezembro e atingir 70% em meados de 2022. Isso, segundo Tedros, será crítico para acabar com a pandemia.

Mas os dados da agência mostram a distância que existe ainda a ser percorrida. Entre os 79 países mais pobres, apenas 3 deles conseguiram vacinar no mesmo ritmo dos países desenvolvidos.

Bruce Aylward, representante da OMS para vacinas, revelou ainda que entre 30 e 40 países pelo mundo já tiveram de suspender a administração da segunda dose da vacina, por falta de produtos.

“Acabaram os estoques em muitos deles”, disse Kate O’Brian, também da OMS.

Uol