Osmar Terra soterra a CPI com dados falsos

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Foto: Agência Senado

Em depoimento à CPI da Covid nesta terça-feira (22), na condição de convidado, o deputado federal Osmar Terra (MDB-RS) afirmou que jamais defendeu a imunidade de rebanho como estratégia para o enfrentamento da pandemia.

Ele é aliado de Jair Bolsonaro (sem partido) e integrante e padrinho do gabinete paralelo, do qual negou fazer parte, apesar de ter confirmado manter contato frequente com o presidente. Terra disse ainda que o isolamento social não tem efeito para a redução dos casos e que a maior parte dos contágios acontece em casa.

O deputado mencionou diversos dados distorcidos ao longo de seu depoimento, como quando afirmou que o Imperial College previu que até 50 milhões de pessoas morreriam de Covid-19.

Na verdade, pesquisadores da instituição usaram fórmulas matemáticas para simular desfechos para a pandemia e, em um cenário em que nenhuma medida fosse implementada no mundo –o que não aconteceu–, até 40 milhões de pessoas poderiam morrer pela doença. Em outro ponto, afirmou que a Suécia é um dos países com população de mais de 10 milhões de pessoas com menos mortes. A Suécia, no entanto, tem mais mortos, em números absolutos, do que 57 dos 90 países da lista.

Outros depoentes na CPI da Covid foram Elcio Franco, ex-secretário-executivo do Ministério da Saúde; Marcelo Queiroga, atual ministro da Saúde; a médica Nise Yamaguchi; Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan; Mayra Pinheiro, secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde do Ministério da Saúde; Eduardo Pazuello, Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich, ex-ministros da Saúde, além de Ernesto Araújo, ex-chanceler.

A Lupa verificou algumas das declarações de Osmar Terra. A reportagem contatou sua assessoria de imprensa a respeito das checagens e irá atualizar essa reportagem assim que tiver respostas.

Veja, abaixo, a checagem.

O Imperial College que fez essa previsão apocalíptica de morrer 40 milhões, 50 milhões, ia ser pior que a gripe espanhola. Osmar Terra./Em depoimento na CPI

FALSO
Em março de 2020, ainda no começo da pandemia, pesquisadores do Imperial College London usaram fórmulas matemáticas para simular —e não prever ou anunciar— possíveis desfechos da pandemia em todo o mundo.

Eles calcularam não apenas um cenário, como sugere o deputado, mas vários possíveis desfechos considerando diferentes posturas adotadas pelos governos: sem intervenção; com mitigação (proteger os idosos e restringir apenas 40% dos contatos do restante da população); e com supressão (testar e isolar os casos positivos e estabelecer distanciamento social para toda a população).

Numa escala mundial, o pior cenário previsto, ou seja, considerando ausência de intervenções, poderia chegar a 7 bilhões de pessoas infectadas e 40 milhões de mortes por Covid-19 só em 2020. Esse cenário, no entanto, levou em consideração a hipótese de não ser adotada nenhuma medida de distanciamento social —o que não aconteceu. Já o melhor cenário possível, com supressão em um baixo nível de mortalidade, resultaria em 1,85 milhão de mortes.

Diversos países ao redor do mundo adotaram diferentes medidas para minimizar o impacto da pandemia, como lockdown e testagem em massa, entre outras. De acordo com a plataforma Our World in Data, o número de casos confirmados em todo mundo em 2020 foi de 83,5 milhões. Nesse mesmo período, 1,88 milhão de pessoas morreram por causa da doença. A gripe espanhola (1918-1920) matou cerca de 50 milhões de pessoas —algumas estimativas apontam que o número de mortes pode ter chegado a cem milhões.

As previsões que eu fiz foram baseadas não num estudo matemático apocalíptico como foi o do Imperial College, mas nos fatos que existiam na época, em março. Fevereiro e março. Osmar Terra/Em depoimento na CPI

FALSO
A primeira previsão de Terra sobre a progressão da pandemia foi feita em 18 de março de 2020. No Twitter, ele disse que o número de mortes por gripe no Brasil em 2019, cerca de 700, “deve ser maior que as mortes que acontecerão pelo coronavírus aqui”.

Ao contrário do que ele afirma, já havia muito mais indícios de que a doença era mais séria e mais grave do que se imaginava inicialmente. Na mesma data, o número de mortes pelo vírus na Europa tinha superado o da China. A Itália registrou, em um único dia, 345 mortes, e a Espanha, 182. Outras 135 pessoas morreram no Irã.

Já em janeiro de 2020 existiam informações concretas de que o novo coronavírus podia ser transmitido diretamente entre pessoas, de que era letal e de que as pessoas contaminadas não se restringiam apenas a moradores de Wuhan, na China, onde os primeiros casos foram registrados. Em 20 de janeiro, países como Tailândia e Japão começaram a relatar casos da doença em pessoas que estiveram na China e aeroportos em todo o mundo passaram a controlar passageiros vindos do país asiático.

Em 24 de janeiro, os primeiros casos na Europa e nos Estados Unidos também foram confirmados. Menos de duas semanas depois, em 4 de fevereiro, já se tinha notícia de que pelo menos 20 mil pessoas tinham sido infectadas e casos eram investigados em ao menos 27 países.

No começo de março de 2020, a OMS declarou a Europa como novo epicentro da doença. No dia 11, foi declarada a pandemia —e autoridades de saúde em diversos países, incluindo o então ministro da Saúde do Brasil, Luiz Henrique Mandetta, consideraram que a definição foi tardia.

A China teve um surto completo. Ela começou, subiu e desceu e terminou. Osmar Terra/Em depoimento na CPI

FALSO
Ao contrário do que Terra sugere, o surto da China não se dissipou de forma natural. Na verdade, o país asiático fez um dos lockdowns mais severos do mundo na cidade de Wuhan, epicentro inicial da pandemia, a partir de 23 de janeiro de 2020.

Na ocasião, o governo chinês proibiu a entrada e saída de pessoas, fechou todo o sistema de transporte público da cidade e determinou a suspensão de todas as atividades consideradas não essenciais. Em fevereiro, as medidas passaram a ser adotadas em toda a província de Hubei, da qual Wuhan é capital. Outras comunidades isoladas, em outras regiões do país, também foram alvos de medidas de isolamento. O lockdown de Wuhan, considerado à época uma “medida sem precedentes” pela OMS, só foi encerrado em 8 de abril de 2020.

Aí o prefeito de Araraquara vai fazer o terceiro lockdown, que comparando com Chapecó, que não fechou mais, não tem impacto nenhum, não tem diferença nenhuma. Osmar Terra/Em depoimento na CPI

FALSO

Em 21 de fevereiro de 2021, data na qual Araraquara (SP) fez seu primeiro lockdown, a cidade tinha registrado 171 mortes por Covid-19, praticamente o mesmo número registrado em Chapecó (SC), 188. Em 22 de junho, a cidade catarinense somava 645 óbitos acumulados, contra 469 do município paulista. Os dados são das próprias prefeituras. Os números são consistentes com dados presentes nos sites de transparência dos governos estaduais de São Paulo e Santa Catarina, respectivamente.

Araraquara e Chapecó têm populações similares. Segundo o IBGE, o município no interior paulista tem 238 mil habitantes, enquanto a cidade no oeste catarinense tem 224 mil. Considerando valores proporcionais às populações, o número de mortes por habitante no município paulista cresceu de 717 por milhão para 1.950 por milhão neste período. Em Chapecó, essa cifra foi de 839 por milhão para 2.879 por milhão.

Araraquara ganhou destaque na imprensa nacional por adotar medidas severas diante do agravamento nos casos da doença. Em 21 de fevereiro, a prefeitura decretou um lockdown com restrição total de circulação. Por três dias, apenas farmácias e estabelecimentos de saúde funcionaram no município. O decreto foi prorrogado por mais sete dias, com flexibilização de algumas restrições. Dois meses depois, o número de óbitos por Covid-19 na cidade caiu 62%, em um momento em que esses índices subiam pelo país.

Com alta no número de casos de Covid-19, o município voltou a anunciar um novo lockdown em junho, menos rigoroso que o de fevereiro. As medidas estão valendo desde domingo (20) e vão durar oito dias.

Já Chapecó é usada como exemplo de sucesso do tratamento precoce por militantes bolsonaristas. Por essa razão, o presidente Bolsonaro elogiou o trabalho da Prefeitura de Chapecó, que chamou de excepcional e exemplo a ser seguido. Mesmo assim, a prefeitura omite que adotou algumas medidas de restrição.

Em 22 de fevereiro, o prefeito João Rodrigues (PSD) assinou um decreto com novas determinações para tentar frear a transmissão da Covid-19. O decreto determinou toque de recolher entre 22h e 5h e fechou restaurantes, bares e lanchonetes.

As medidas, que inicialmente durariam 6 dias, foram prorrogadas com o agravamento das internações por Covid-19 —e vigoraram, ao todo, por 14 dias. Depois desse período, de fato, a média móvel de novos casos no município caiu de 608, no pico da pandemia, e chegou a atingir 40 em abril. Contudo, essas medidas foram abandonadas posteriormente.

O Supremo Tribunal [Federal], no dia 15 de abril (…) do ano passado, impediu, limitou o poder do presidente de interferir nessas decisões. Osmar Terra/Em depoimento na CPI

FALSO
Em 15 de abril de 2020, o plenário do STF (Supremo Tribunal Federal) confirmou, por unanimidade, uma decisão liminar do ministro Marco Aurélio Mello que reconhecia a autonomia de estados e municípios para determinar o isolamento social em meio à pandemia da Covid-19.

De acordo com a decisão, prefeitos e governadores têm “competência concorrente” com a do presidente em matéria de saúde pública —ou seja, também podem, simultaneamente, tomar decisões sobre o tema. Sendo assim, não houve limitação do poder do presidente, como afirmou Terra.

Na ocasião, o tribunal analisou uma ação protocolada pelo PDT, que questionava a constitucionalidade de uma medida provisória editada pelo presidente Bolsonaro.

“A verdade é que, se há excessos das regulamentações estaduais e municipais, isso ocorreu porque não há, até agora, uma regulamentação geral da União sobre a questão do isolamento, sobre o necessário tratamento técnico e científico dessa pandemia gravíssima que vem aumentando o número de mortos a cada dia”, argumentou o ministro Alexandre de Moraes no julgamento.

Naquele momento, o Brasil registrava 1.736 mortes acumuladas de Covid-19. No dia seguinte, após semanas de fritura, Bolsonaro demitiria o então ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, após divergências sobre o uso de medicamentos sem eficácia comprovada contra o coronavírus.

Em 18 de janeiro de 2021, a corte emitiu uma nota reiterando que não proibiu o governo federal de agir no enfrentamento à pandemia. “Na verdade, o Plenário decidiu, no início da pandemia, em 2020, que União, estados, Distrito Federal e municípios têm competência concorrente na área da saúde pública para realizar ações de mitigação dos impactos do novo coronavírus”, disse a nota do STF.

A declaração foi uma resposta às reclamações de Bolsonaro de que “não poderia fazer nada” em meio ao caos da saúde em Manaus. “Eu fui impedido pelo Supremo de fazer qualquer ação de combate ao Covid. Pelo STF, eu tinha de estar na praia agora, tomando uma cerveja”, reclamou, dias antes, o presidente à TV Bandeirantes.

A Suécia é dos países com mais de 10 milhões de habitantes que menos mortes teve. Osmar Terra/Em depoimento na CPI

FALSO
A Suécia tem uma população de 10,3 milhões de pessoas. Com isso, ocupa a 88ª posição na lista dos países que têm mais de 10 milhões de pessoas, de um total de 90 países ―e, portanto, seria de se esperar que fosse um dos que tivesse menos mortes em números absolutos.

No entanto, não é isso que acontece. A Suécia soma, desde o início da pandemia, 14.574 mortos por Covid-19, mais do que 57 países que têm mais de 10 milhões de habitantes, segundo o site Our World in Data, da Universidade de Oxford. A lista não contabiliza a Coreia do Norte, que tem mais de 10 milhões de habitantes, mas não fornece dados sobre mortes por Covid-19.

O Reino Unido, que fechou. O Reino Unido teve surtos gigantescos. Osmar Terra/Em depoimento na CPI

FALSO
A gestão da crise sanitária no Reino Unido foi marcada por debates, adoção de medidas de isolamento social e recuo dessas restrições. Os números de casos e mortes refletem diretamente o vaivém das decisões relacionadas ao distanciamento e mostram que os piores surtos ocorreram justamente quando o país estava aberto.

O primeiro-ministro Boris Johnson foi criticado pela indecisão ao longo da pandemia e por ter ignorado conselhos de cientistas e adiado o lockdown. Até o momento, a nação registrou 128,2 mil mortos por Covid e ocupa o 19º lugar no índice das maiores proporções de mortes por 100 mil habitantes no mundo.

Em março do ano passado, quando a Europa já era considerada epicentro da pandemia, o governo britânico apostou na imunização de rebanho. A ideia era que, caso grande parte da população se infectasse, desenvolveria imunidade coletiva contra o vírus.

Naquela época, várias nações europeias haviam adotado o lockdown. A guinada em direção ao confinamento se deu depois que pesquisadores do Imperial College London simularam um panorama trágico caso o distanciamento social não fosse adotado.

Em julho de 2020, depois de três meses de isolamento, os britânicos flexibilizaram as restrições. Em outubro, uma nova onda de infecções —o Reino Unido ultrapassou a marca de 1 milhão de casos da doença— fez com que o lockdown fosse retomado. O fechamento não foi total e durou um mês. Escolas, por exemplo, continuaram abertas. Na época, especialistas alertaram que o lockdown não havia sido suficiente e um novo surto foi ainda mais dramático em dezembro e janeiro, com números recordes de mortes.

Em janeiro deste ano, Boris Johnson decretou o terceiro lockdown nacional. Em 25 de fevereiro, passadas seis semanas do fechamento, o Reino Unido teve queda de quase 80% no número de casos. Neste mesmo período, o país também acelerou sua campanha de vacinação contra doença, e hoje tem 46,3% de sua população totalmente vacinada —apenas Israel, Chile, Hungria e Mongólia, além de alguns países e territórios pequenos e pouco populosos como San Marino, Malta e Ilhas Cayman, vacinaram mais.

Se isolamento funcionasse, não morria ninguém em asilo. Osmar Terra/Em depoimento na CPI

FALSO
Idosos em asilos não estão isolados e, por isso, correm maior risco. Logo no início da pandemia, em abril de 2020, a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia publicou um relatório técnico no qual alertava para o “alto risco” da pandemia aos idosos que vivem em instituições de longa permanência.

O documento apontava a dificuldade para essa população praticar o isolamento social, considerando o contato direto com cuidadores e demais profissionais, e também a frequência das visitas externas de familiares e amigos.

Além da idade avançada, o documento ressalta a comum associação desses idosos a doenças cardiovasculares e respiratórias, diabetes e hipertensão. “Estando, portanto, num grupo de risco com maiores chances de complicação e letalidade no caso de contágio pelo vírus da Covid-19. Soma-se a isso o fato de compartilharem espaços para dormir, realizar suas refeições e outras atividades em coletividade, aumentando, ainda mais, as possibilidades de contágio e propagação do vírus”, diz o relatório.

Até maio do ano passado, um terço das mortes por Covid-19 nos Estados Unidos havia ocorrido em asilos, segundo levantamento do jornal The New York Times. O CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças) do país considera o grupo dos idosos institucionalizados como de alto risco.

O Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra Covid-19 reconheceu idosos institucionalizados com 60 anos ou mais como a prioridade número um da campanha de imunização. Segundo dados do Ministério da Saúde, 645.267 pessoas desse grupo já tomaram a primeira dose, e 441.688 completaram a imunização com a segunda dose.

Eu nunca desdenhei a vacina. Osmar Terra/Em depoimento na CPI

FALSO
Em 8 de dezembro de 2020, em entrevista à Jovem Pan, Terra defendeu a tese da imunidade de rebanho, e não a vacina, como solução para a pandemia. “Vacina não termina com epidemia. Nunca terminou. A vacina termina com o vírus. O que termina com epidemia é imunidade de rebanho”, declarou, depois de passar sete dias internado na UTI em decorrência da Covid-19. No mesmo dia, a primeira dose da vacina da Pfizer foi aplicada no Reino Unido.

O deputado questionou ainda, na mesma entrevista, a segurança dos imunizantes. “Aí se tenta uma saída mágica. ‘Agora a vacina vai resolver tudo.’ E aí tem que fazer a toque de caixa a vacina, sem fazer os testes adequados” —o que é falso. Todos os imunizantes contra a Covid-19 aprovados no Brasil foram testados em milhares de voluntários e posteriormente aprovados após análise técnica da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

Eu sei que o assunto do Amazonas é muito caro aqui ao presidente [da CPI], mas eu queria dizer que foram seis meses com escolas abertas, ensino presencial, sem ter surto. Osmar Terra/Em depoimento na CPI

EXAGERADO
As aulas presenciais no Amazonas voltaram gradativamente entre o período de agosto a dezembro de 2020. Diferentemente do que o deputado afirma, não foram “seis meses com escolas abertas”, já que a retomada foi feita em etapas, seguindo protocolos sanitários definidos pelo governo estadual.

Em seu site, a Secretaria Estadual de Educação do Amazonas indica quais escolas foram escolhidas para voltarem ao ensino presencial e, mesmo nessas, a capacidade máxima de estudantes foi reduzida.

Em janeiro de 2021, o Amazonas sofreu um colapso em seu sistema de saúde após um aumento no número de casos de Covid-19. Em fevereiro de 2021, quando o ano letivo começou, o governo decidiu instituir as aulas remotas novamente ―contando novamente com o programa Aulas em Casa para manter os alunos aprendendo.

Somente em maio o governador Wilson Lima (PSC) decidiu iniciar um ano letivo híbrido no interior do Amazonas. Atualmente, a secretaria está retomando as atividades presenciais. No início de junho, por exemplo, 224 escolas da rede estadual já estavam retornando a esse tipo de ensino.

O doutor Drauzio Varella, que nós tanto vemos na televisão, fez um pronunciamento dizendo que era uma gripezinha. Esse termo quem cunhou foi ele. Eu nunca falei que era uma gripezinha. Mas ele cunhou esse termo. Osmar Terra/Em depoimento na CPI

VERDADEIRO, MAS
Em 30 de janeiro de 2020, o médico Drauzio Varella publicou um vídeo em suas redes sociais afirmando que iria continuar andando na rua mesmo com a disseminação do novo coronavírus e que nada justificava uma mudança nos hábitos da população.

Essa gravação foi feita antes de a comunidade científica identificar o real perigo que esse vírus iria representar para o mundo. Em 19 de março, Drauzio publicou outro vídeo, admitindo que sua leitura inicial foi equivocada.

A gravação original foi apagada. Terra, por outro lado, publicou diversas informações falsas e previsões sem embasamento sobre o vírus, além de pressionar publicamente pela reabertura do comércio em Manaus às vésperas da crise de janeiro. Até seu depoimento, o deputado nunca havia admitido esses erros, ou se retratado.

No dia em que Drauzio publicou o vídeo, a OMS havia declarado o novo coronavírus como emergência de saúde internacional, ou seja, o surto ainda não era considerado uma pandemia. Países como Itália, Índia e Filipinas haviam confirmado os primeiros casos de Covid-19 naquele dia. Também não havia ocorrido morte fora da China, que contava então com 170 óbitos e 8.100 casos em todo o país.

No Brasil, o primeiro caso de infecção confirmado ocorreu no dia 26 de fevereiro ―ou seja, quase um mês depois da gravação de Drauzio. O paciente, um homem de 61 anos que morava em São Paulo, havia viajado para a região da Lombardia, na Itália, e deu entrada no Hospital Israelita Albert Einstein em 25 de fevereiro.

Em seu canal do YouTube, Drauzio já ressaltou em diversos momentos que a pandemia do vírus Sars-CoV-2 é dinâmica. Com isso, as informações e recomendações de autoridades de saúde podem mudar em um curto espaço de tempo.

No dia 19 de março, Drauzio divulgou um vídeo destacando a necessidade de a população seguir as novas orientações de isolamento social para prevenir o contágio. “Vocês vão encontrar na internet vídeos em que eu falava: ‘Não, não há motivo pra pânico, nós temos que levar vida normal, eu mesmo estou levando vida normal’. Motivo pra pânico não existe nem agora, lógico, mas não está mais na hora de dizer que eu tô levando vida normal, evidentemente. Eu tenho mais de 70 anos e tô bem resguardado mesmo”, conta o médico, no seu canal.

Em maio de 2020, durante uma live, Drauzio disse ainda que se arrepende de ter subestimado o vírus.

“Na China, quando ele começou a gente não tinha ideia do que era a epidemia, porque a informação na China é complicada. Os chineses censuram até a internet, então a informação chega distorcida sempre. E eles apresentavam isso como um vírus causador de resfriado, outros coronavírus causam resfriados também, e que, em alguns casos, especialmente nas pessoas mais velhas, a mortalidade era razoável (…). O mundo ficou mais ou menos tranquilo. Eu também. Cheguei a dizer naquela época: ‘Olha, isso não vai ser grande problema para o Brasil’. Hoje eu tenho remorso de ter dito isso”, afirma.

Osmar Terra, por sua vez, disse, em 18 de março de 2020, que o número de mortos por Covid-19 no Brasil seria menor do que pela gripe H1N1 em 2019.

Naquela data, a Itália já registrava uma média de mortes diárias de 247. Semanas depois, em 4 de abril, disse que o pico da pandemia seria antes do mês de abril de 2020. No mesmo dia, ele publicou informações falsas sobre o efeito do lockdown na Itália.

Em 4 de janeiro de 2021, chamou as notícias sobre o avanço da segunda onda da pandemia em Manaus de alarmistas e defendeu que a cidade não fizesse lockdown. Dias depois, a cidade vivenciou os momentos mais dramáticos da pandemia, com pacientes morrendo por falta de oxigênio nos hospitais.

Folha