Presidente de extrema-direita do Irã recusa reunião com Biden
Foto: Majid Saeedi/Getty Images
Em sua primeira entrevista coletiva como presidente eleito do Irã, o clérigo e chefe do Judiciário Ebrahim Raisi afirmou nesta segunda-feira, 21, que não se encontraria com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, mesmo que as sanções americanas fossem suspensas, uma de suas exigências. Apesar disso, demonstrou apoio a conversas entre Teerã e seis potências mundiais para reviver um acordo nuclear de 2015, abandonado unilateralmente durante governo do ex-presidente americano Donald Trump.
Durante sua fala, Raisi também elencou a relação com os vizinhos do Golfe Árabe como prioridade em sua política externa, pedindo para a Arábia Saudita, rival regional, cessar imediatamente sua intervenção no Iêmen.
Os dois países travam há décadas guerras por procuração em países do Oriente Médio e romperam relações em 2016. Em abril, para conter tensões, os dois iniciaram negociações no Iraque e, nesta segunda-feira, Raisi afirmou que reabertura da embaixada saudita não seria um problema para o Irã, em um sinal de avanço para as alianças regionais.
No sábado, o juiz de 60 anos foi declarado o vencedor da eleição, marcada por falta de oposição e presença de quatro candidatos majoritariamente conservadores. A vitória de Raisi, no entanto, dificilmente mudará a postura do país em questões internacionais de peso, à medida que o aiatolá Ali Khamenei tem a palavra final nas principais políticas.
O início da corrida eleitoral foi marcado também por controvérsia, porque o Conselho dos Guardiães, órgão responsável por aprovar as candidaturas, rejeitou vários candidatos proeminentes dos setores reformista e moderado, como Ali Larijani, ex-presidente do Parlamento. A participação de eleitores foi a menor desde a fundação da República Islâmica, em 1979, chegando a apenas 48,8%.
Prestes a se tornar em agosto o oitavo presidente do país, quando assumir o cargo deixado por Hassan Rouhani, Raisi chega à presidência em meio a negociações indiretas, e turbulentas, de Teerã com os Estados Unidos em Viena com foco em salvar o acordo nuclear.
Sob Trump, Washington abandonou unilateralmente o pacto e retomou sanções e, em resposta, Teerã violou os termos sobre enriquecimento de urânio, embora negue qualquer ambição de desenvolvimento de armamentos nucleares.
“Apoiamos as negociações que garantem nossos interesses nacionais (…) Os Estados Unidos deveriam imediatamente retornar ao acordo e cumprir suas obrigações sob o pacto”, afirmou, em relação à imposição de sanções.
Perguntado então se, caso as sanções fossem retiradas, se encontraria com o presidente Biden, Raisi respondeu: “Não”.
O próprio presidente eleito é alvo de sanções americanas por acusações de envolvimento em assassinatos extrajudiciais de prisioneiros políticos em 1988. Como juiz, ele teria autorizado mortes e torturas, segundo denúncias de dissidentes e investigações internacionais.
Perguntado sobre as acusações de grupos de direitos humanos, respondeu: “Se um juiz, um procurador que defendeu a segurança do povo, ele deveria ser louvado”. “Tenho orgulho de ter defendido os direitos humanos em todos os cargos que ocupei até o momento”, afirmou.