Promotor que pediu prisão de Keiko Fujimori sofre ameaças

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Foto: Reprodução

A procuradora-geral do Peru, Zoraida Ávalos, pediu nesta sexta-feira proteção para procurador José Domingo Pérez, membro da força especial Lava Jato, que solicitou, um dia antes, a prisão preventiva de Keiko Fujimori, candidata à Presidência do país. Pérez vinha sofrendo ameaças por grupos fujimoristas que, nas redes sociais, planejavam fazer um protesto em frente a sua casa.

Segundo o documento do Ministério Público, ao qual o jornal La República teve acesso, Ávalos designou o coronel Pedro Vargas Chilón para proteger o procurador. Pérez justificou o pedido de prisão alegando que Keiko vem descumprindo as regras que lhe foram impostas em maio de 2020, quando foi solta após passar três meses em prisão preventiva.

Keiko, filha do ex-ditator Alberto Fujimori (1990-2000), é acusada de ter se encontrado com testemunhas do processo em que é julgada de receber financiamentos ilícitos de campanha. Uma delas é o advogado Miguel Torres Morales, que estava na coletiva em que Keiko anunciou, na noite de quarta-feira, uma ofensiva jurídica para contestar mais de 800 atas, correspondentes a cerca de 200 mil votos, na expectativa de reverter sua derrota.

A candidata, por sua vez, alega que “há uma clara intenção de nos distrair, de nos atrapalhar do processo eleitoral” por parte do procurador. Keiko lançou na quarta uma ofensiva judicial para tentar reverter sua derrota.

O Escritório Nacional de Processos Eleitorais do Peru (Onpe) terminou a apuração dos votos na quinta, mas ainda não proclamou um vencedor. Segundo o Onpe, 512 atas — correspondentes a 0,6% do total— ainda estão em revisão pelo Júri Nacional de Eleições (JNE). Destas, 243 tinham votos impugnados, 101 “erros materiais”, 42 estavam incompletas e as demais tinham problemas como assinaturas ilegíveis. Esses votos poderão ser descartados ou integrados à contagem oficial.

Considerando as 99,5% das atas cujos votos já foram contados, Castillo, do partido Peru Livre, lidera com 50,17%, e Keiko tem 49,83%. A diferença em favor do candidato da esquerda é de 60 mil votos. Na terça-feira, ele se autodeclarou vencedor do pleito, apontando para a apuração extraoficial feita por seu próprio partido.

Desde então, Castillo vem recebendo os parabéns de líderes regionais de esquerda, como os presidentes da Bolívia, Luis Arce, e da Argentina, Alberto Fernández. Os ex-presidentes do Brasil, Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva; da Bolívia, Evo Morales; e do Equador, Rafael Correa, também o parabenizaram.

Nesta sexta, o líder do partido Peru Livre, Vladimir Cerrón, também reivindicou a vitória de Castillo. “Vários presidentes no mundo estão parabenizando a vitória de Pedro Castillo, ou seja, ele tem sólida legitimidade internacional”, escreveu no Twitter.

Enquanto isso, o presidente interino, Francisco Sagasti, tenta acalmar os ânimos em um país polarizado que aguarda desde domingo a definição do pleito. Sagasti conversou, nesta sexta, com pessoas vinculadas aos dois candidatos para pedir que se acalmem, independentemente do vencedor, inclusive o escritor Mario Vargas Llosa, antifujimorista histórico, que apoiou Keiko nesta eleição.

“A tarefa de um chefe de Estado é fazer com que o país mantenha a serenidade e a calma nos momentos difíceis e complexos”, escreveu Sagasti.

A briga judicial é a última saída para Keiko, que já havia sido presa em 2019 e 2020 no âmbito de investigações ligadas à atuação da Odebrecht no Peru. A chamada Lava-Jato peruana apura o pagamento de vantagens indevidas — já admitidas pela construtora brasileira — a dirigentes políticos do país sul-americano em troca de favores e benefícios em contratos públicos. O Ministério Público peruano pede uma sentença total de 30 anos e 10 meses de prisão contra a líder do partido Força Popular.

Observadores e autoridades eleitorais peruanas, no entanto, têm atestado a lisura do pleito. O tamanho da contestação feita pela filha de Fujimori é ainda mais significativo quando se leva em conta que, há cinco anos, ela perdeu a eleição para Pedro Pablo Kuczynski por uma margem de 42 mil votos.

— Não acho que o processo em andamento possa ser interrompido, o que dá a Castillo a [eventual] vitória — disse à AFP o analista Hugo Otero, ex-assessor do falecido presidente Alan García. — Fujimori está desafiando as autoridades eleitorais. Primeiro denunciou a fraude e depois fez uma série de questionamentos, mas o povo votou democraticamente e com o reconhecimento dos órgãos internacionais de observação eleitoral, que afirmaram que o processo foi limpo e transparente.

O Globo