Protesto da oposição não teve generais, diz politólogo

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Foto: Ricardo Stuckert / Fotos Públicas

O cientista político Octávio Amorim Neto, professor da Fundação Getúlio Vargas no Rio de Janeiro (FGV-RJ), avalia que manifestações como a do último sábado (29), contra o governo Jair Bolsonaro, tendem a se avolumar na esteira da vacinação, mas ainda têm um efeito limitado na política institucional, por não envolver ainda quadros políticos de peso. Essa configuração, disse, pode mudar com a adesão do que chamou de “generais da oposição”, lideranças como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) e governadores, como João Doria (PSDB) e Eduardo Leite (PSDB). Seriam personagens capazes de agregar eleitorado às passeatas e moldá-las à disputa eleitoral.

Amorim diz que, à medida que a pandemia refluir, o que depende da vacinação, a tendência é haver aumento das manifestações, represadas há pouco mais de um ano e dois meses.

“Se não tivesse acontecido a pandemia, estaríamos muito mais próximos do primeiro semestre de 2019, quando houve protestos contra os cortes à educação pública”, observa. “Agora, tudo indica que lá para o fim do ano, se a vacinação andar conforme planejado nas maiores cidades do país, as ruas do Brasil vão encher. E a intensidade disso também vai depender da agregação de líderes”, afirma Amorim Neto.

Ele observa que a maior parte dos manifestantes desse primeiro ato eram do campo de esquerda e extrema-esquerda, “mas havia e ainda haverá muitos centristas desenrolando suas bandeiras”. Sábado, diz ele, foi uma batalha de soldados, ainda sem a participação de lideranças.

Ele observa que as manifestações pró-Bolsonaro contam com a sua presença e até de generais de fato, como o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, enquanto os principais nomes de oposição ainda não aderiram. Até por isso, diz o especialista, apesar do público significativo, a cobertura de imprensa e o impacto na percepção do eleitorado ainda foi pequeno. “Esse momento [de maior repercussão política] já começou para Bolsonaro, mas ainda não começou para a oposição”.

Ele afirma que ainda é cedo para dizer que os protestos definem a estrutura da corrida presidencial de 2022. “Muita coisa ainda pode mudar. Setores conservadores decepcionados com Bolsonaro ainda tentam se articular, com o ex-juiz Sergio Moro, por exemplo, ou mesmo o vice-presidente, Hamilton Mourão, que dá sinais de ruptura com Bolsonaro. O centro também tenta encontrar uma candidatura competitiva. Mas é inegável que o tempo começa a passar rápido”, diz, sobre a corrida para a articulação de candidaturas e apoios políticos.

Por fim, observa Amorim Neto, de momento, o tamanho das manifestações é uma preocupação muito mais da oposição, que tenta demonstrar força, do que de Bolsonaro, concentrado em emitir sinais ao Congresso. “O mais importante para ele agora, em meio à CPI da pandemia, é sinalizar aos congressistas que não está morto, que conta com uma base popular significativa, e que, portanto, não há condições para um impeachment”.

“O espantoso é que, supostamente, o presidente tem boa relação com setores majoritários do Centrão e não precisaria disso. No fundo, trata-se de uma tática clássica do repertório populista. Também quando um governo está fraco, ele vai para a rua negociar diretamente. Nesse caso, são as duas situações conjugadas ao mesmo tempo: um governo populista e fragilizado ao mesmo tempo.”

Valor Econômico