PT diz que não subestima Bolsonaro

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Foto: Adriano Machado/Reuters

Integrantes da cúpula do PT avaliam que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) deve reduzir sua rejeição e recuperar parte de sua popularidade até o início do ano eleitoral.

Para aliados do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a disputa nas urnas em 2022 deve ser mais acirrada do que mostram as pesquisas eleitorais e os levantamentos internos feitos pelo partido.

Estão no radar dos petistas variações na popularidade de Bolsonaro como consequência de dois indicadores principais: o crescimento da economia após os resultados negativos do ano passado e o aumento esperado da vacinação contra a Covid-19 até o fim deste ano.

Em discussões internas com a participação de Lula, os integrantes do partido defendem que a campanha seja encarada de uma “perspectiva realista”, nas palavras de um dirigente da sigla.

Embora admitam que a economia possa dar algum fôlego a Bolsonaro para o ano eleitoral, eles dizem que esses efeitos tendem a ser limitados.

“Bolsonaro não está tão fraco assim. Ele tem uma resiliência na base e ainda pode agregar mais um pouco. Se a economia melhora, a tendência é ele melhorar também. Mas não acho que seja suficiente”, afirma a presidente do PT, Gleisi Hoffmann.

O principal argumento da cúpula petista é que os indicadores do PIB (Produto Interno Bruto) mostraram, até agora, uma recuperação que não chegou às camadas mais pobres da população.

Um dos principais focos da campanha de Lula será um discurso para se contrapor a Bolsonaro nesse grupo numeroso do eleitorado.

A análise desse cenário político pelos petistas contrasta com o otimismo do partido diante das pesquisas que mostraram vantagem de Lula na corrida de 2022.

Levantamento do Datafolha em maio mostrou o petista com 41% das intenções de voto no primeiro turno, contra 23% de Bolsonaro. No segundo turno, o ex-presidente venceria por 55% a 32%.

A direção do PT ainda considera Lula favorito, mas tem adotado tom mais cauteloso. Certos de que a rejeição a Bolsonaro poderá ser um fator determinante na campanha, os petistas estudam maneiras de prolongar o ciclo atual de fragilidade do presidente.

Fazem parte dessa estratégia um apoio mais encorpado às manifestações contra o governo e uma campanha continuada de críticas aos erros do combate à pandemia.

“O povo está muito frustrado. O povo está decepcionado. O coronavírus permitiu que a sociedade ficasse um pouco mais dentro de casa, sem se manifestar, com medo. Mas eu acho que nós precisamos ir para a rua e começar a cobrar que esse país seja governado decentemente”, disse Lula em entrevista a uma emissora de TV do Piauí, na quarta-feira (9).

Segundo aliados do ex-presidente, Lula pretende dar sustentação a novos atos convocados contra o governo, encabeçados por movimentos sociais. Numa mudança de postura, o petista avalia participar das manifestações do próximo sábado (19) ou divulgar um vídeo com uma convocação para o protesto.

Apesar de enxergar possíveis benefícios políticos nesses atos, os aliados de Lula ainda buscam se diferenciar de Bolsonaro. O presidente participou no sábado (12) de um passeio de motocicletas em São Paulo. O ato reuniu 6.661 veículos, segundo o sistema de pedágio local.

A cúpula petista pretende observar o humor das ruas nos próximos meses, com o avanço da vacinação contra a Covid-19 —cuja lentidão é um dos principais pontos de desgaste de Bolsonaro, na visão do partido. Mesmo atrasada, a aplicação de novos lotes de imunizantes pode moderar a rejeição ao governo.

Os petistas contam com os trabalhos da CPI da Covid para expor erros e omissões do governo durante a pandemia. O Senado, no entanto, trabalha para que as investigações sejam encerradas em agosto, o que produz incerteza sobre a duração de seus efeitos até a campanha eleitoral.

Aliados de Lula também incluem nos cálculos eleitorais o uso da máquina pública por Bolsonaro para reduzir sua rejeição. Com a caneta na mão, o presidente espera lançar medidas na área social e acelerar as viagens pelo país em clima de campanha.

O PT aguarda, por exemplo, a reformulação do Bolsa Família prometida por Bolsonaro. Ainda que reconheçam que o presidente pode se beneficiar do programa, os petistas consideram difícil desvincular essa marca de Lula.

No segundo pelotão da corrida eleitoral, o PDT de Ciro Gomes tem uma visão diferente das projeções políticas feitas pelo PT.

Líderes pedetistas dizem acreditar que Lula está no auge da popularidade e que, nos próximos meses, começará a perder espaço nas pesquisas de intenção de voto.

Caciques da sigla dizem que o ex-presidente se beneficiou nos últimos meses de seu retorno à cena eleitoral e da decisão do STF que anulou suas condenações na Lava Jato.

Com base em estudos internos, o PDT reconhece que a fatia da população que pode buscar uma terceira via diminuiu desde o início do ano. Mesmo assim, integrantes da sigla enxergam uma boa chance de Ciro e Lula disputarem um eventual segundo turno em 2022.

Carlos Lupi, presidente do partido, vê Bolsonaro bastante desgastado no próximo ano, pois, apesar da aceleração da vacinação até lá, as milhares de mortes por Covid-19 serão atribuídas a ele.

Além disso, a recuperação econômica esperada pelo governo se concentra em setores ligados à exportação de commodities e com baixo emprego de mão de obra. Isso pode fortalecer o apoio do agronegócio a Bolsonaro, mas não reverte a rejeição dele em outros setores —especialmente nos mais pobres que sofrem com a inflação.

A cúpula do PDT e o marqueteiro João Santana enxergam na manutenção do desgaste de Bolsonaro o principal caminho para que Ciro chegue ao segundo turno. Eles recomendaram que o pré-candidato concentre no presidente seus ataques nos próximos meses.

O tamanho da popularidade de Bolsonaro deve influenciar a montagem de alianças em todo o tabuleiro eleitoral.

Adversários dizem acreditar que siglas simpáticas ao governo podem se descolar caso o desgaste do presidente se mantenha. Em caso de recuperação, ele pode consolidar ou até ampliar sua aliança.

Prevendo uma campanha árdua, petistas buscam uma coalizão com partidos de centro e miram inclusive siglas que integram a base de apoio de Bolsonaro no Congresso, como o PL.

O partido e outras legendas do centrão se aproximaram do governo após a liberação de cargos e emendas, mas podem se mover para o campo político mais alinhado a seus interesses e a uma perspectiva de permanência no poder.

No Nordeste, por exemplo, líderes desse bloco já estiveram ao lado de Lula em eleições anteriores e veem dificuldades de chegar a 2022 em um lado oposto ao do ex-presidente.

Metrópoles