Renan está surfando na internet
Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo
De volta ao epicentro da cena política no Congresso como relator da CPI da Covid, o senador Renan Calheiros (MDB-AL) virou um alvo preferencial das redes sociais com críticas impulsionadas por comentários do próprio presidente Jair Bolsonaro. Atacado por quem gosta de lembrar de seu histórico de inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF) e acusações proferidas pelo Ministério Público durante a Operação Lava-Jato, o parlamentar alagoano passou a usar as mesmas redes sociais como suas aliadas na CPI.
O senador recebe monitoramento com a repercussão de suas perguntas em tempo real, modulando o discurso conforme o “humor da internet”. Com a ajuda da equipe de Renan, que também auxilia outros senadores, a CPI se transformou em uma operação virtual. Em maio, foi o segundo assunto mais comentado virtualmente.
Os “internautas”, que costumam ser citados por Renan em seus discursos, ajudam a checar as informações dos depoentes para gerar relatórios diários sobre mentiras, inconsistências e imprecisões das autoridades ouvidas na comissão.
Para aumentar a equipe, Renan sugeriu ao Senado a contratação de uma agência de checagem de informações, o que foi rejeitado pelo presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (DEM-MG). Depois, tentou pedir dois servidores da área de comunicação “emprestados” para criar a sua própria agência, o que até o momento não foi autorizado por Pacheco.
Para garantir interação, os “internautas” já sugeriram até perguntas na CPI. Antes do depoimento do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, em maio, Renan pediu aos seguidores de suas redes sociais que sugerissem questionamentos para a oitiva, uma das mais aguardadas pela oposição.
— Se o Ministério da Saúde não seguia orientações da OMS, quais eram as orientações que seguia naquele momento? Essa é uma pergunta de internauta — disse Renan, na ocasião. Depois, ele agradeceu pelas “milhares de perguntas” que recebeu.
Renan mantém reuniões diárias com assessores antes e depois dos depoimentos para fazer um balanço do que já foi dito, analisar resumos dos documentos obtidos pelo colegiado e preparar as próximas perguntas. Para ajudá-lo nas indagações, a equipe do senador passou a expor material multimídia, com vídeos que confrontam possíveis contradições das testemunhas.
A estratégia foi adotada após dificuldade enfrentada em depoimentos como o do ex-secretário de Comunicação da Presidência Fabio Wajngarten, em que o depoente foi acusado de mentir, mas houve obstáculo para confrontá-lo.
Os vídeos também têm sido usados como forma de expor episódios envolvendo o presidente Jair Bolsonaro e fazer uma linha do tempo de acontecimentos. Para isso, é elaborado um roteiro na véspera de cada sessão.
Com o intuito de destacar ainda mais o material multimídia, a equipe de Renan gravou um vídeo com dez perguntas para a médica Ludhmila Hajjar, que foi cotada para o Ministério da Saúde e se reuniu com Bolsonaro para tratar do assunto. As gravações chegaram a ser feitas, mas a exibição foi vetada pelo presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM).