Vacinação começa a melhorar setor do turismo

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Foto: Eduardo Anizelli – 25.jun.21/Folhapress

Em meio à vacinação contra a Covid-19, brasileiros começam a demonstrar maior interesse em retomar viagens de turismo, indicam entidades do setor. O quadro começa a gerar uma dose de otimismo entre empresários após o registro de uma série de prejuízos durante a pandemia.

Na visão de representantes da área, o avanço da imunização tende a reduzir restrições a atividades, criando aos poucos um ambiente mais favorável para os negócios. A recuperação completa do turismo, entretanto, só deve ocorrer a partir de 2022.

Pesquisas recentes da Braztoa (Associação Brasileira das Operadoras de Turismo) apontam para um cenário que começa a ficar mais positivo. Em abril, 69% das operadoras ouvidas pela entidade tiveram percepção de melhora ou nível similar de negócios frente a março. Em maio, esse percentual subiu para 97%.

O faturamento, entretanto, segue enxuto –ficou na faixa de 25% do verificado antes da crise sanitária.

“Apesar do volume de faturamento ainda estar aquém do praticado antes da pandemia, na média dos 25%, uma percepção com viés mais positivo começa a ganhar força entre as operadoras, principalmente por conta do maior interesse do consumidor em adquirir ou planejar viagens”, afirma em nota a associação.

Promoções e demanda reprimida, além da imunização, também ajudam a explicar os indícios de melhora, que ganharam fôlego a partir de maio, afirma o presidente da Braztoa, Roberto Nedelciu.

Segundo ele, boa parte dos consumidores busca destinos mais afastados de grandes centros urbanos e com espaços ao ar livre, característica vista ao longo da crise sanitária.

Conforme a associação, 71% das operadoras relataram que foram procuradas em maio por turistas vacinados, e 29% das viagens comercializadas para esse público ocorrerão em julho.

“O brasileiro, com certeza, está se sentindo mais seguro para viajar agora”, diz Nedelciu. “A situação está melhorando. O pessoal está com vontade de viajar, e existem preços promocionais”, acrescenta.

Outro possível alento para o setor de turismo vem da recente melhora na confiança do consumidor. Em junho, o ICC (Índice de Confiança do Consumidor) do Ibre/FGV (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas) subiu 4,7 pontos, para 80,9. É o maior valor desde novembro de 2020.

A Abav Nacional (Associação Brasileira de Agências de Viagens) também vislumbra um início de reação. Presidente da entidade, Magda Nassar relata que consumidores vêm demonstrando maior interesse por viagens recentemente. A expectativa é que a recuperação se intensifique até o final do ano, acompanhada pelo avanço da vacinação, menciona a dirigente.

“Nos encontramos em um nível mais confortável, com retomada. Estamos sentindo o interesse crescer por viagens”, conta.

“É claro que desejamos que toda a população brasileira seja vacinada. Isso ajuda. Mas queremos reforçar que os protocolos de segurança continuam sendo importantes. Não estimulamos que se tire máscara e álcool gel ou que se faça aglomerações”, completa.

Segundo a Abav, houve aumento de 28% em maio nas consultas por viagens, na comparação com abril. A expectativa da entidade é de que as agências fechem 2021 com faturamento perto de 70% do registrado em 2019. A associação afirma que o Nordeste é a região mais demandada e que o consumidor procura locais que seguem protocolos de segurança sanitária.

Larri Antonio Laux, 60, faz parte do grupo que pretende voltar a viajar até o final do ano. Ao lado da esposa, Sandra, o morador do município de Sapucaia do Sul (RS), na região metropolitana de Porto Alegre, reagendou férias em praias do Nordeste para novembro. Inicialmente, a visita estava marcada para março de 2020, mas teve de ser revista duas vezes em razão da pandemia.

Laux conta que a vacinação pesou na escolha pela nova data. Ele e a esposa já receberam a primeira dose de imunizante contra a Covid-19 e esperam que boa parte da população também seja contemplada até o final do ano.

“Por conta da pandemia, tivemos de reagendar a viagem. A gente acredita que, até novembro, a situação vai estar melhor”, relata. “A máscara vai fazer parte das nossas férias, assim como os outros cuidados”, completa Laux, que trabalha como supervisor em indústria do setor metalmecânico.

Mesmo com o possível estímulo da imunização, o setor de turismo só deve recuperar o nível de atividade do pré-pandemia ao final de 2022, projeta o economista Fabio Bentes, da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo). A reação pode ocorrer, aponta Bentes, desde que não haja grandes choques negativos no meio do caminho, incluindo a eventual ineficácia de vacinas contra variantes do coronavírus.

Dados da CNC sinalizam que o volume de receitas de turismo vinha melhorando no segundo semestre do ano passado, após o tombo inicial na crise. No entanto, a piora da pandemia no começo de 2021 elevou restrições e freou o movimento de retomada.

Em dezembro, o setor havia alcançado R$ 36,51 bilhões em receitas, maior marca desde fevereiro do ano passado (R$ 43,94 bilhões). Com o recrudescimento da crise sanitária, esse número recuou para R$ 24,6 bilhões em abril, dado mais recente do estudo da CNC.

“A partir do terceiro trimestre de 2020, observamos um início de recuperação, frustrada no começo deste ano pelo recrudescimento da pandemia. Embora ainda não tenhamos dados sobre o final do segundo trimestre de 2021, a flexibilização de medidas restritivas, associada ao avanço da vacinação, traz um cenário mais positivo para o setor”, afirma Bentes.

O presidente da Abih Nacional (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis), Manoel Cardoso Linhares, tem opinião semelhante. Conforme o dirigente, o possível avanço da vacinação deve estimular hotéis e outras empresas turísticas no segundo semestre, mas a retomada mais firme só tende a ocorrer a partir do próximo ano.

Linhares acrescenta que, na pandemia, o ramo de alojamento sofreu mais nas metrópoles brasileiras. É que, segundo ele, consumidores têm optado por hospedagens em regiões menos movimentadas, afastadas de grandes centros urbanos.

Nas capitais, a taxa média de ocupação dos hotéis está na faixa de 30%, abaixo do ponto de equilíbrio de 50% a 60% para o pagamento de todas as despesas de operação, afirma o dirigente.

“Tudo depende da vacinação. O que posso garantir é que o setor hoteleiro se preparou com todos os protocolos sanitários, desde o check-in até o check-out”, comenta. “Vai ser uma retomada lenta e gradual. Primeiro, esperamos um turismo regional, de curta distância”, emenda.

De acordo com a CNC, entre março de 2020 e abril de 2021, o setor turístico amargou perda de R$ 355,2 bilhões no volume de receitas. Além disso, fechou 474,1 mil postos formais de trabalho desde o início da pandemia. A quantia equivale a 13,5% do estoque de empregos de antes da Covid-19.

Em 2020, o tombo no volume de receitas foi de 36,6%, e a CNC aposta em um avanço de 16,7% em 2021. “É como se o setor alcançasse a metade do que foi esvaziado do copo. Ainda há um longo caminho para percorrer”, diz Bentes.

Em maio, a redução de medidas restritivas no Brasil já provocou algum reforço na demanda por hospedagens, comenta Carlos Bernardo, diretor de operações da rede de hotéis Accor, que tem 320 unidades no país. Na visão do executivo, o ramo hoteleiro tende a reagir aos poucos com a vacinação, assim como está ocorrendo em países onde o processo de imunização já está mais acelerado.

“Temos informações de que alguns países estão com taxas de ocupação bem interessantes. Acredito que, a partir do segundo semestre, com mais vacinas, teremos mais hospedagens”, relata o executivo, que também é vice-presidente da Abih-SP.

Aeroportos do Nordeste já sentem mais movimentação de passageiros. O de Recife, maior e principal hub da região, teve em maio crescimento de 20% no número de passageiros relação a abril. No acumulado do ano até maio, a rota Guarulhos-Recife foi a mais movimentada do país, com mais 537 mil passageiros, segundo análise do portal Aeroin e da Empetur (Unidade de Pesquisas da Empresa de Turismo de Pernambuco), a partir de dados da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil).

O aeroporto da capital pernambucana é o quarto mais movimentado do país, atrás dos de Guarulhos, Viracopos (SP) e Brasília.

“Os números apresentados pela Anac e analisados pelo Aeroin e pela Empetur apontam que estamos no caminho certo da retomada gradual do nosso turismo, disse o secretário de Turismo e Lazer do estado, Rodrigo Novaes.

“Ficamos ainda mais felizes pelas companhias aéreas anunciarem o incremento das rotas agora para julho. Isso só nos incentiva a seguir fortalecendo nosso turismo, com todos os cuidados, reforçando os protocolos sanitários”, afirmou.

Ainda no estado, o aeroporto de Petrolina teve aumento de 26,97% na movimentação de passageiros comparado com abril.

Fatores como inflação e desemprego em alta, por outro lado, representam ameaças para a reação dos negócios, pondera Bentes, da CNC.

“A vacinação, mesmo lenta, está avançando. Mas, nos últimos meses, vimos alguns fatores que podem travar o setor: dificuldades no mercado de trabalho e aumento no juro e na inflação. Esses problemas, de ordem conjuntural, pressionam o orçamento das famílias”, alerta o economista.

Folha de S. Paulo

 

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