Bolsonaro pode ser preso se tentar golpe ano que vem

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Foto: Dida Sampaio/Estadão

Há pouco mais de três anos, um grupo de militares começou a articular candidaturas das Forças Armadas para as eleições de 2018. Não escolheram partido político, embora a maioria tenha acompanhado Jair Bolsonaro em sua aventura no PSL. Havia candidatos a governos estaduais, como o general Guilherme Cals Theophilo Gaspar de Oliveira, no PSDB cearense, e o general Paulo Chagas, no PRP do Distrito Federal. De sargentos a generais, mais de uma centena disputou uma cadeira no Congresso e nas Assembleias Estaduais, enquanto uma enorme quantidade de colegas, dirigentes de clubes e de associações se engajava em suas campanhas.

Por trás de todo esse movimento, um homem organizava planilhas e estimava os votos. Era o general Roberto Sebastião Peternelli, que se elegeria deputado federal por São Paulo, na bancada do PSL. O então partido do presidente levaria à Câmara dos Deputados outros cinco militares – um general, dois coronéis, um major e um subtenente Agora, quase um ano e meio antes das eleições de 2021, Peternelli começa a fazer novas contas e listas. O fenômeno da volta dos militares à política ainda estará no presente no próximo ano, com sua imagem majoritariamente ligada ao presidente.

Desta vez, no entanto, a lista de militares terá opositores ao capitão. Peternelli começa a citar nomes. Diz que gostaria muito que o ex-comandante do Exército Edson Leal Pujol aceitasse sair candidato a deputado federal pelo Rio Grande do Sul. É em busca do eleitorado gaúcho que outro general deve se apresentar ao escrutínio dos eleitores: Hamilton Mourão planeja disputar o Senado pelo Estado. “Ele já disse que não deseja concorrer com Bolsonaro.” Peternelli é um dos generais que frequentam o 1.º Regimento de Cavalaria de Guardas em Brasília, onde Pujol, Mourão e Carlos Alberto dos Santos Cruz cavalgavam toda semana.

Desde que deixou o comando, Pujol sabia que seria assediado por jornalistas e políticos. Consultado na sexta-feira, ele reafirmou o que repete desde que foi demitido por Bolsonaro, em março: “Tô fora; não é meu perfil”. Pujol não é o único nome lembrado por Peternelli. Ele pensa na possibilidade de filiar Santos Cruz ao PSL, o que reforçaria a ala de críticos ao presidente no partido. Santos Cruz, que se tornou um desafeto de seu antigo colega de pentatlo militar, pode se candidatar ao Senado pelo Distrito Federal.

Os nomes de outros três generais também merecem menção como possíveis candidatos ao Congresso: Luiz Eduardo Rocha Paiva, Luiz Adolfo Sodré de Castro e Luiz Fragoso Peret Antunes, todos fundadores do Instituto General Villas Bôas e membros de seu conselho superior, assim como o ex-comandante que empresta o nome à entidade. Os três se opuseram publicamente à Comissão Nacional da Verdade (CNV), no governo de Dilma Rousseff (PT). Sodré e Paiva compareceram à sessão em que a comissão interrogou o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra para apoiar o ex-chefe do Destacamento de Operações de Informações (DOI), do 2.º Exército.

Assim, a lista de possíveis candidatos esfumaça as divisões lançadas por Bolsonaro na caserna. Se Mourão, Chagas, Santos Cruz e Pujol guardam queixas de Bolsonaro, outros silenciaram até agora. Todos se unem, entretanto, quando os interesses da Força estão em jogo em oposição aos de fora da caserna. As divisões ficam para trás em um fenômeno já observado pelo cientista político João Roberto Martins Filho, em sua obra O palácio e a caserna: a dinâmica militar das crises políticas na ditadura, 1964-1969.

Ao se prepararem para as eleições em 2022, os militares aceitam se submeter ao legítimo escrutínio popular manifestado nas urnas eletrônicas. Não será a vontade de Bolsonaro ou do estabelecimento militar que definirá os futuros ocupantes dos cargos em Brasília e nas capitais estaduais. Será o voto que decidirá quem foi e quem não foi eleito. Quando saem dos quartéis, os militares devem abrir mão do que, segundo Samuel Huntington, os diferencia das profissões civis: a capacidade – e a legitimidade – de administrar a violência, segundo as condições em que esta pode ser aplicada em suas diferentes formas.

A qualidade dos militares candidatos e seu comportamento diante do pleito levará a sociedade a se perguntar sobre como vão se comportar não os candidatos – quase todos já na reserva –, mas seus colegas nos quartéis. Eles terão de lidar com políticos como o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP). Eleito com 1,8 milhão de votos, ele disse ao pai em 2018: “Nós não vamos ser presos”. O filho do presidente que então não via problema em encarcerar 100 mil militantes do MST, referia-se a possíveis escândalos, como os que mantinham Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na cadeia.

Passados dois anos e meio e com a ameaça de investigações criminais recaindo sobre quase toda a família Bolsonaro, a frase de Eduardo assume novo sentido, o de quem deseja a impunidade a qualquer custo. Recentemente, o presidente disse: “Eu não vou chutar o pau da barraca, mas, se chutarem, a força é muito maior do nosso lado.” Pior: afirmou que sem voto impresso não haverá eleição, como se a democracia dependesse de sua vontade ou das informações dos malucos que o assessoram.

Bolsonaro ainda crê em sua Abin Paralela, nos informes de coronéis que negociam 400 milhões de imunizantes inexistentes e escutam propostas de US$ 1,00 de propina por dose e calam. Dizer que não tinha como saber de tudo o que acontece em seu governo não lhe tira a responsabilidade política por ter nomeado para o ministério da Saúde gente que atende um cabo da PM de Minas para comprar a vacina da Astrazeneca, depois de ter cozinhado por sete meses a proposta apresentada pela direção da Pfizer. Torpedearam a coronavc e buscaram a salvação com pastores e picaretas de WhatsApp.

O que Bolsonaro não percebeu é que cada vez mais se consolida nas Forças Armadas o desejo de se distanciar do presidente e de suas aventuras. Cada vez mais sozinho no Alto Comando do Exército, ele é apoiado pelos agraciados com sinecuras e por integrantes das Forças Especiais, facilmente neutralizáveis pelo agravamento das acusações de corrupção na compra de vacinas. Um golpe para proteger um presidente que brincou com vidas enquanto outros sonhavam com dólares seria transformar o Brasil em terra de rapina. E deixar as Forças Armadas indelevelmente comprometidas com o uso ilegítimo da violência contra a vontade popular.

A fraude alegada das urnas eletrônicas tem a mesma origem dos imunizantes da Índia e do cabo da PM mineira: a ganância de empresários e a desonestidade de mentecaptos. Nenhum general aceitará transformar Bolsonaro em déspota ou se manterá alinhado às estravagãncias presidenciais, aos lunáticos da cloroquina e aos ladrões da vacina. Quase tudo o que eles queriam quando decidiram patrocinar a candidatura do capitão já foi obtido. A cada semana, aumenta o risco de o presidente se tornar descartável. De tal forma, que, se o seu golpe vier, Bolsonaro e seu filho podem acabar presos pelo cabo e pelo soldado com os quais ameaçaram a democracia.

Estadão

 

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