Covid deixa 130 mil crianças órfãs

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Foto: Eduardo Anizelli/Folhapress

Ao menos 130.363 crianças brasileiras de até 17 anos ficaram órfãs por causa da Covid-19 entre março do ano passado e o final de abril deste ano, número que contradiz a ideia de que os mais novos são menos afetados pelo coronavírus.

“É uma pandemia oculta”, dizem os autores da estimativa, publicada nesta terça (20) na revista científica Lancet. “Essas crianças não identificadas são a consequência trágica esquecida dos milhões de mortos na pandemia.”

O número de menores brasileiros que ficaram órfãos multiplica por 180 os cerca de 1.200 óbitos na faixa etária até 19 anos desde o começo da pandemia, segundo o boletim mais recente do Ministério da Saúde.

Colocado em proporção, ele corresponde a uma taxa de 2,4 órfãos para cada mil brasileiros menores de idade, a quarta maior entre 21 países incluídos no estudo. O Peru tem a situação mais grave, com 10,2 órfãos para cada mil menores.

Em termos absolutos, o número do Brasil só não é pior que o do México, que registra pouco mais de 141 mil órfãos, ou 3,5 por mil. Embora o Instituto Nacional dos Direitos das Criança e do Adolescente afirme que contabilizar os órfãos brasileiros é viável por meio das certidões de óbito, não há estatística oficial no país até agora.

“Crianças que perderam pais ou responsáveis na pandemia precisam de apoio governamental urgente ou enfrentarão danos de longo prazo”, afirmou Seth Flaxman, pesquisador do departamento de matemática do Imperial College de Londres e de ciência da computação da Universidade de Oxford, no Reino Unido e um dos 16 autores do trabalho.

Coordenado por Susan Willis, do CDC (centro de controle de doenças dos EUA), o estudo já revisado por pares fornece as primeiras estimativas globais de orfandade causada pela pandemia de Covid-19.

Os cientistas calcularam mais de 862 mil crianças órfãs em 21 países, nos quais ocorreram cerca de 77% das mortes globais por Covid-19 até 30 de abril de 2021. Também estimaram que, em termos globais, mais de 1 milhão de menores perderam um dos pais ou seu principal cuidador, principalmente os avós.

A pesquisa inclui a família de forma ampla, porque 38% das crianças do mundo vivem na mesma casa que os avós, porcentagem que chega a 50% na Ásia-Pacífico. Mais vulneráveis à Covid-19, são esses idosos que costumam dar apoio prático, financeiro ou emocional para seus netos.

“No Brasil, 70% das crianças recebem esse apoio financeiro; ainda assim, o Brasil ocupa o segundo lugar mundial em mortes por Covid-19, reduzindo as opções de cuidados por parentes”, alerta a pesquisa.

Nos EUA, 40% dos avós que vivem com os netos são os principais cuidadores, e no Reino Unido, 40% dos avós cuidam regularmente dos netos.

Considerando crianças que perderam algum parente responsável por sua criação, mesmo que não o principal, os números sobem para mais de 1,2 milhão nos 21 países analisados e mais de 1,5 milhão na estimativa global.

“Evidências de epidemias anteriores mostram que respostas ineficazes a essas mortes, mesmo quando há um pai ou cuidador sobrevivente, podem levar a resultados psicossociais, neurocognitivos, socioeconômicos e biomédicos deletérios para as crianças”, afirma o estudo.

Os cientistas ressalvam que, para os cálculos, presumiram que parentes com 60 anos ou mais que viviam com parentes com menos de 18 anos eram avós e netos, embora o adulto mais velho possa ser um tio ou primo.

“O que aconteceu com meu pai? Cadê minha avó? Quem vai cuidar de mim agora? São as perguntas das crianças que ficam, mas a sociedade também precisa se perguntar como ampará-las da melhor maneira possível. Algum dia chegaremos ao fim da pandemia de Covid —mas seus órfãos ainda existirão por décadas”, afirma Flaxman, em artigo publicado nesta quarta.

O cálculo do número de órfãos foi feito com base em números de fertilidade da ONU e estatísticas nacionais sobre mortes por Covid, o que indica que pode ser ainda maior, segundo os pesquisadores, já que há subnotificação nos registros de óbitos.

O trabalho também mostra que as crianças que perderam o pai são pelo menos o dobro das que perderam a mãe —no caso do Brasil, foi mais que o triplo: 88 mil ficaram órfãos de pai, contra 26 mil que perderam a mãe; cerca de 17 mil viram morrer avós responsáveis por sua criação, estima a pesquisa.

Há três destinos possíveis para menores brasileiros que perdem seus responsáveis: o amparo de parentes, a reorganização familiar em que irmãos mais velhos assumem o cuidado dos mais novos ou abrigos e adoção.

“Orfanatos nunca deveriam ser a resposta”, diz Flaxman. Ele observa que, de acordo com pesquisas neurocientíficas, institucionalizar crianças prejudica seu desenvolvimento cerebral.

Segundo o estudo, governos precisam ajudar famílias a criar menores que tenham ficado órfãos, para evitar a institucionalização, além de ajudar as crianças afetadas materialmente e emocionalmente. “Covid mata rapidamente, deixando pouco ou nenhum tempo para prepará-las para o luto”, observa Flaxman.

No longo prazo, a perda dos cuidadores aumenta o risco de doenças, suicídio, gravidez na adolescência, evasão escolar, violência sexual e vulnerabilidade a exploração econômica, segundo os cientistas.

Para o professor britânico, é preciso agir com urgência e acelerar a vacinação, já que a disseminação de variantes mais contagiosas, como a delta, pode agravar o problema. O risco é especialmente alto na África, continente com alta fertilidade e a menor taxa de vacinação no mundo.

“Trata-se não apenas de salvar vidas, mas de salvar famílias também”, diz Flaxman. Até 23% das crianças nos 21 países analisados são criadas por pais solteiros, cuja morte pode ter consequências extremas para as crianças.

No Brasil, três projetos de lei propõem auxílios nacionais a jovens que perderam responsáveis na pandemia: pensão de R$ 1.100 até os 18 anos, um fundo financeiro de amparo e um cadastro para que os órfãos tenham prioridade em programas sociais.

Para os pesquisadores, ações governamentais devem incluir grupos de apoio psicossocial para o luto, terapia comportamental cognitiva com foco no trauma, prevenção da violência sexual e doméstica e apoio psicossocial a famílias sob estresse.

Folha  

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