E Ernesto Araújo está envolvido com vacina superfaturada
Foto: Adriano Machado / Reuters / 29-04-19
O avanço das investigações sobre a compra da vacina indiana Covaxin deve se desdobrar também em direção a Ernesto Araújo, que era ministro das Relações Exteriores na época das negociações. A razão é que os documentos enviados à CPI da Covid mostram um volume significativo de correspondências sobre o assunto: foram aproximadamente 40 delas, entre dezembro de 2020 e abril deste ano, segundo levantamento feito pela cúpula da comissão de inquérito.
A quantidade de mensagens aponta, na avaliação dos senadores, para uma atenção “fora do comum” em comparação com as outras tratativas conduzidas pelo governo Jair Bolsonaro naquele momento. O conteúdo dos telegramas, obtidos pelo Valor, expõe ainda a preocupação do Ministério das Relações Exteriores em acompanhar “pari passu”, praticamente em tempo real, cada novidade nos contatos com autoridades indianas e representantes da Bharat Biotech, que produz o imunizante.
O caso se conecta com o cerco sobre o líder do governo, deputado Ricardo Barros (PP-PR), por conta da Precisa Medicamentos, que intermediava as relações entre governo brasileiro e o laboratório indiano. No dia 5 de março deste ano, o Itamaraty registra em uma das correspondências que Francisco Maximiano foi à Índia para negociar um aumento no número de doses da Covaxin a serem comercializadas com o Brasil. Nessa ocasião, ele mencionou, indiretamente, a emenda de Barros que foi aprovada junto com a Medida Provisória 1.026 de 2021, o que culminou na flexibilização das regras para aquisição de vacinas, insumos e bens na pandemia.
“O presidente da Precisa Medicamentos [Francisco Maximiano] comentou que, com a divulgação de dados de eficácia pela Bharat Biotech e a iminência da aprovação da autorização para uso emergencial sem restrições da vacina na Índia, autorização semelhante poderia ser obtida em breve no Brasil”, relatou o embaixador do Brasil em Nova Déli, André Aranha Corrêa do Lago. O assunto, inclusive, deve ser abordado com o embaixador num eventual depoimento dele à CPI. Os senadores querem ouvi-lo, ainda que remotamente, para entender as circunstâncias em que se deram esses encontros entre os diplomatas e Maximiano.
No mesmo dia 5 de março, o executivo da Precisa também comunica à representação diplomática que o pagamento do governo será feito “diretamente à companhia indiana”. De acordo com o telegrama, em nenhum momento Maximiano dá a entender que uma subsidiária, como a Madison Biotech, ficaria responsável pelos valores. Senadores apontam que essa subsidiária estaria sediada num paraíso fiscal.
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