Frio pode fazer inflação disparar no país

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Foto: Reprodução

As perdas no campo com as geadas devem pressionar os preços dos alimentos e empurrar a inflação para patamares próximos de 7%, calculam economistas. O frio intenso decorrente da massa de ar polar que avança sobre o Brasil nesta semana agrava um cenário que já era ruim devido à seca, que além de afetar a produção agrícola, elevou o custo da energia no país.

Os efeitos das geadas se espalham por diferentes culturas, como milho, café, cana-de-açúcar e hortaliças, e devem chegar até as carnes, já que o pasto também é afetado e grãos são usados como ração animal –e, mais caros, pressionam a produção de proteínas.

Perdas provocadas pelo frio nas últimas semanas aumentaram com a geada que atingiu áreas do Sul e Sudeste nesta quinta-feira (29). E há previsão para que o fenômeno climático que queima a vegetação continue nesta sexta (30), chegando ao Centro-Oeste.

A Necton Investimentos revisou sua projeção do IPCA, o índice de inflação oficial do país, de 6,5% para 6,9% devido à crise hídrica levando em conta questões como a crise hídrica e os efeitos adversos no campo.

Com as ameaças do clima à produção de alimentos e o aumento da energia elétrica, há risco de o país fechar o ano de 2021 com inflação acima de 7% no acumulado, diz o economista André Braz, do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas).

“É um risco que não é tão pequeno. É grande”, afirma o pesquisador.

O aumento da conta de luz está relacionado à crise hídrica, que eleva os custos de geração de energia no país.

A XP calcula que apenas as geadas desta semana podem impactar a inflação deste ano em 0,1 ponto percentual. A empresa trabalha com uma previsão de 6,7% para o IPCA fechado de 2021, mas com riscos de subir mais, uma vez que o frio agravou um cenário que já era desafiador para o agricultor.

“Com geadas e reabertura da economia no radar, a inflação pode ficar acima de 7% no ano”, diz, em relatório.

Os analistas da XP avaliam que as culturas mais impactadas com a queda na temperatura são o café, as hortaliças e as frutas. “Com diminuição da oferta, os preços tendem a subir e esse repasse costuma ser rápido”, escreveram.

Em São Paulo, houve relatos de danos causados pela geada nesta quinta na região de Pardinho (200 km da capital), que já havia sido atingida neste mês pelo mesmo fenômeno.

“Nossa região foi bastante afetada. O pessoal estava mandando fotos de termômetro caseiro marcando -0,9ºC hoje pela manhã. A geada queimou pastagens, hortaliças. Frutas e café também foram prejudicados”, afirma Luciane Correia, coordenadora dos cursos do Sindicato Rural do município.

Segundo Luciane, o tamanho dos prejuízos ainda não pode ser dimensionado, porque é necessário tempo para ver como as plantas vão reagir nos próximos dias. O certo é que a situação vai pressionar o bolso dos produtores. O cenário tende a gerar preços mais altos para os consumidores finais, diz a coordenadora.

“Com menos produtos no supermercado, a tendência é de aumento nos preços. Afeta o setor como um todo”, acrescenta.

Um dos produtores afetados pela situação é Otávio de Pontes Ribeiro Junior, 40. O produtor de leite de Pardinho teve três hectares de pastagens usadas para alimentar cerca de 30 vacas e bezerros completamente prejudicados pelas geadas de julho.

“O que a geada não pegou na semana passada, a de hoje [quinta] acabou de dizimar. Quando a gente levantou para fazer a ordenha, às 6h, estava bem frio. Assim que passar o frio, voltar a chover e a temperatura subir, a pastagem rebrota. Mas isso vai demorar uns três meses. A geada não mata a raiz, mas queima as folhas na pastagem”, conta o produtor rural.

Devido aos estragos, ele terá de alimentar o gado com silagem, ração e suplementos. Essa combinação aumenta custos de produção e não é capaz de evitar perda de produtividade, diz Ribeiro Júnior.

Na vizinha Botucatu, o produtor Christof Inacio Blaich, 38, diz que quase todas as culturas que planta –hortaliças, frutas e milho, em uma área de 15 hectares– tiveram algum tipo de dano devido ao frio intenso.

“As mais prejudicadas foram abobrinha, banana. Outras também foram queimadas pela geada”, conta.

“Já dá para ver o impacto que a geada causou hoje [quinta]. Estou preocupado com a que pode vir amanhã [sexta]”, ressalta.

O Rio Grande do Sul deve ter poucas perdas porque o trigo e a cevada plantados no estado ainda estão em estágio vegetativo de desenvolvimento e apenas 3% dessas lavouras podem ficar comprometidas. A canola deve ser impactada, mas como a produção é pequena, o prejuízo é pontual.

No Paraná, o Deral (Departamento de Economia Rural) estima que a safrinha de milho 2020/21 deverá ter a maior perda da história. O órgão reduziu a previsão de colheita do grão no estado para 6,1 milhões de toneladas, contra 14,6 milhões de toneladas no início da safra.

Apenas as perdas da safrinha, a principal do milho no Brasil, são equivalentes a cerca de três safras de verão, que costumam girar em torno de 3 milhões de toneladas. Já o prejuízo financeiro estimado, considerando os preços médios de 2021, é de R$ 11,3 bilhões.

“Esta perda histórica foi em decorrência primeiro da estiagem que acompanhou boa parte da safra, pragas e com geadas de intensidade forte que ocorreram no final do mês de junho e, em menor grau, as geadas da segunda metade de julho”, indicou relatório enviado à agência Reuters pelo especialista em milho do Deral, Edmar Gervásio.

O Deral já prevê um aumento nos preços do milho no segundo semestre, embora isso também dependa de fatores externos, como o câmbio, a produção dos Estados Unidos e a demanda da China.

Na semana passada, a saca de 60 quilos de milho já estava 17% superior ao final de junho e mais do que o dobro do registrado no mesmo período de 2020.

“Essa alta deve fazer com que a indústria de proteína animal, como de suínos e aves, e até de ovos, repasse o ajuste ao consumidor, mesmo que parcialmente”, aponta o gerente de consultoria agro do Itaú BBA, Guilherme Bellotti.

“Algum alívio das cotações só deve ocorrer no segundo semestre do ano que vem, se nós tivermos uma boa safrinha”, avalia Bellotti.

O frio continua. “Há uma massa de ar polar ganhando ainda mais força em grande parte das regiões produtoras do centro-sul do Brasil”, afirmou o agrometeorologista Marco Antonio dos Santos, sócio-diretor da Rural Clima. “Com isso, as chances de gear em áreas de café, cana de açúcar, laranja aumentaram drasticamente.”

Áreas produtoras de café em Minas Gerais já haviam sido atingidas anteriormente. Estimativas preliminares da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) indicam que apenas as geadas da semana passada afetaram de 150 mil a 200 mil hectares, cerca de 11% da área total de café do país.

O avanço da frente fria, e consequente risco de novas geadas, já fez com que preços internacionais subissem. No caso do café arábica, os preços atingiram nesta semana os valores mais altos dos últimos sete anos –o Brasil é o maior produtor de café do mundo.

Já os contratos futuros do açúcar bruto negociados na ICE, nos Estados Unidos, atingiram nesta quinta os preços mais altos dos últimos cinco meses. A chance de queda de produção no Brasil devido às geadas fez operadores indianos assinarem pela primeira vez contratos de exportação de açúcar cinco meses antes dos embarques.

Folha de S. Paulo

 

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