Maioria da CPI apoia prisão de ex-diretor da Saúde
Foto: Waldemir Barreto/Infoglobo
Roberto Dias, o ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde que foi o primeiro depoente a sair preso da CPI da Covid, não chegou a passar a noite detido. Mas sua prisão teve um caráter “pedagógico” para alertar futuros convocados e todo o governo para o fato de que não está liberado sentar diante dos senadores sob juramento e mandar ver em versões cada vez mais fantasiosas.
Dias apostou alto: mesmo sabendo que a CPI tinha em seu poder desde a semana passada o celular do policial militar Luiz Paulo Dominguetti, com possíveis mensagens antes e depois dos encontros que ambos tiveram, sustentou uma versão bizarra: ele estaria na praça de alimentação de um shopping em Brasília para um “choppinho” com um amigo quando de repente foi abordado por um ex-colega do ministério, o coronel Marcelo Blanco, acompanhado de alguém que ele nunca tinha visto ou ouvido falar e que, vejam só!, por acaso tinha 400 milhões de doses de vacina para ofertar. Não mais que de repente, ele pediu para agendar uma reunião para o dia seguinte para o tal sujeito e, apesar de achar a conversa e o e-mail enviados esquisitos, ainda assim manteve a negociação semanas depois do fortuito esbarrão. Ah, e isso tudo com a sua diretoria não tendo designação para comprar ou negociar vacinas.
Se alguém que sustenta durante um dia inteiro uma patacoada dessas, mesmo com a CPI já tendo em mãos provas de que o enredo é mentiroso, seria a desmoralização comopleta da investigação, sustentam os senadores que apoiaram a decisão do presidente Omar Aziz — sobre a qual houve divergência grande, mesmo dentro do G7.
O depoimento de Dias, dizem esses senadores, tinha uma agravante: ele é o primeiro a ser acusado pessoalmente de ter cobrado propina na negociação de vacinas. Por isso a investigação sobre ele terá de ser mais meticulosa, se desdobrando também para o caso Covaxin e para as negociações dos demais insumos de enfrentamento da pandemia que passavam pelo seu deparlamento — e a CPI já tem caminhos que apontam para irregularidades em outras áreas, como na logística de transporte, também subordinada a ele.
Para os senadores, está evidente que os militares, em dado momento, depois de um acordo com o Centrão para manter pessoas em postos-chave, tentaram se livrar de Roberto Dias e de um grupo que atendia as suas ordens, mas graças às “costas quentes” ele conseguiu permanecer no posto, ainda que isolado. Se o mantiveram, é porque alguém pediu e conseguiu convencer o presidente Jair Bolsonaro, dizem esses senadores.
A ideia da CPI é avançar nessas duas linhas de investigação: a atuação dos militares, em consonância ou divergência com o Centrão, dentro do ministério, e também as conexões políticas que blindaram Roberto Dias mesmo diante de tantas evidências de irregularidades.
Isso tudo vai “preparar” o depoimento do líder do governo na Câmara, deputado Ricardo Barros (PP), que ficou para o dia 20 justamente para que haja tempo de reunir mais informações, documentos e possíveis conexões entre ele e os esquemas investigados pela CPI.
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