Prefeito do Rio diz que atraso na vacina matou seu pai

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Foto: Leo Martins/Agência O Globo

Senti na pele o que centenas de milhares de brasileiros experimentaram na pandemia. A última vez que vi meu pai (o advogado Valmar Souza Paes) consciente foi em 21 de abril, quando ele, desabando de chorar, pegou na minha mão dizendo que não queria morrer, que tinha muito a aproveitar ao lado da família. Cinco dias antes, ele, minha mãe e eu, embora não tivéssemos tido contato, havíamos testado positivo para Covid-19. No meu caso era uma reinfecção, já que tivera a doença em maio de 2020. Minha mãe apresentou sintomas leves. Eu, dessa vez, sofri com dores no corpo, mal-estar e febre. O quadro dele evoluiu rápido: um dia estava com 20% dos pulmões tomados, em 48 horas eram 80%. Em dois meses, foi intubado, teve uma melhora, mas precisou ser reintubado porque não recobrava a consciência, nem seu aparelho respiratório reagia. Em um processo com tantos momentos críticos, a família chora a morte várias vezes. No dia 25 de junho, estava almoçando no Palácio da Cidade quando fui chamado às pressas. Meu pai partiria logo depois, aos 78 anos. É muito sofrido ver alguém que a gente ama virar mais um número nas estatísticas. Tento separar a questão política da pessoal, mas é difícil não me indignar. O atraso na vacina foi fatal.

Qualquer dia de demora diante do novo coronavírus pode ser decisivo entre viver e morrer. Ao se internar, faltavam trinta dias para meu pai tomar a segunda dose da AstraZeneca. É impossível não pensar que, se tivesse recebido a primeira dose antes, ele poderia estar aqui hoje. Minha mãe, que tem 76 anos e com quem era casado há 54, já estava imunizada com as duas doses da CoronaVac e saiu ilesa, embora seja diabética. Fiz questão de ligar para o João Doria e agradecer por ter salvo a vida dela. Meu pai dizia que estava em sua melhor fase. Depois de anos dedicados ao trabalho, orgulhava-se de ter encaminhado os três filhos e poder curtir os cinco netos à vontade. Também planejava fazer muitas viagens. Gostava tanto da Suíça que só há pouco tempo minha filha descobriu que o avô era baiano e não suíço, como sempre brincava. Puxei a sua aparência e o seu jeito. Era expansivo, falador e, ao mesmo tempo, muito disciplinado. Cresceu em família simples, ascendeu por seus méritos, proporcionou uma vida boa a todos, mas nunca deu moleza. Antes dos 18 anos, eu já estagiava no escritório de advocacia de um amigo dele.

Quando decidi seguir a vida pública, fez questão de dizer que nunca me daria um tostão para campanhas. Não deu mesmo. O fato de ter um pai bem de vida, porém, sempre me permitiu ser ousado e honesto. Sabia que, se a coisa apertasse, teria para onde correr. Muita gente não imagina, mas meu pai pagou o aluguel das casas onde morei e agora, junto com meu irmão, arcava com o colégio e o plano de saúde dos meus filhos. Sei, no entanto, que ele se orgulhava das minhas vitórias nas urnas e do que eu fazia. Durante as campanhas tinha o hábito de andar com panfletinhos meus no bolso do terno e distribuir para todo mundo. Por causa da pandemia, nos vimos só umas cinco ou seis vezes no último ano. Um belo dia, do nada, ele me ligou dizendo que o pessoal da favela Dona Marta e do bairro de Inhaúma votaria em mim na eleição de 2020. Foi aí que descobri que estava dando umas escapulidas para pedir votos para mim. Também chegou a expulsar do escritório clientes que queriam tirar vantagem por ser “pai do prefeito”. Era um homem honrado.

Antes disso tudo acontecer, eu já estava empenhado em acelerar a vacinação contra a Covid-19 e conseguir dar uma terceira dose para os idosos no Rio. Claro que agora a minha dedicação a isso ganhou um significado mais forte. Se ele foi vítima desse atraso na vacinação, vou lutar ainda mais para que outras famílias não passem pela mesma dor.

Eduardo Paes em depoimento dado a Sofia Cerqueira

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