Rede bolsonarista atuou em consonância com PM-delator plantado na CPI

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Foto: Reprodução

Logo após a divulgação de um áudio do deputado Luís Miranda (DEM-DF) na sessão desta quinta-feira (1º) da CPI da Covid, as redes bolsonaristas foram inundadas com mensagens que tentam ligar o Miranda à compra de vacinas e também deslegitimar o trabalho da CPI da Covid.

A circulação das mensagens começou imediatamente após o depoente Luis Paulo Dominguetti, suposto representante da empresa Davati Medical Supply no Brasil, reproduzir o áudio de Miranda. O deputado é o autor da denúncia de irregularidades na compra da vacina Covaxin no Ministério da Saúde, que levou a Jair Bolsonaro em uma reunião em março.

As mensagens apócrifas, geralmente em formato de meme, dominam os grupos de mensagens que apoiam o governo. Elas tentam colar a narrativa de que Miranda teria interesses pessoais em fazer a denúncia e limpar a responsabilidade de Jair Bolsonaro sobre as suspeitas de corrupção.

David Nemer, pesquisador da Universidade de Virginia, nos EUA, que estuda e monitora os grupos, acredita que há indícios de orquestração na movimentação das redes. “Os grupos estavam de prontidão. O conteúdo foi compartilhado bem rápido e as mesmas mídias em grupos diferentes”, diz.

“Já faz tempo que os grupos bolsonaristas estavam desalinhados. Não falavam sobre os mesmos temas e cada grupo tinha a sua própria agenda, ao contrário do que acontecia em 2018, 2019 e 2020. Surpreendentemente, hoje a orquestração voltou. Ou seja, quem estava esperando o Dominguetti ir para a CPI já estava esperando algo, algum conteúdo para ser compartilhado”, afirma Nemer.

“Isso leva a uma suspeita de orquestração de conteúdo nas redes bolsonaristas. E o que reforça a suspeita é os próprios senadores levantarem a questão de ele ter sido um bode expiatório plantado pra fazer exatamente isso o que ele está falando, criar dúvida”, continua o pesquisador.

No áudio reproduzido por Dominguetti, Miranda fala de modo genérico sobre negociar produtos. Segundo o deputado, porém, o áudio é de 2020 e não se refere a imunizantes, mas sim a luvas hospitalares.

Após ser cobrado por senadores da comissão, Dominguetti mudou de versão e disse que pode ter sido induzido a erro na interpretação do áudio pelo representante oficial da Davatti no Brasil, Cristiano Carvalho, que teria encaminhado a mídia a ele. O celular do depoente foi levado para perícia pela polícia legislativa.

Apesar da mudança de versão, as redes bolsonaristas continuam propagando as informações distorcidas. A reportagem não encontrou nenhuma mensagem que faça referência à correção. Nemer diz que isso dificilmente vai acontecer. “Uma vez o Whatsapp bolsonarista incendiado, é o que eles precisam para se unirem em torno de uma causa. É até difícil introduzir uma nova ‘treta’ quando algo já está movimentado”, analisa.

Congresso em Foco 

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