A doce vida da ex-mulher de Bolsonaro

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Foto: Reprodução

A advogada Ana Cristina Valle reclama de que a vida em Brasília não é nada fácil. Em janeiro, ela trocou uma rotina relativamente confortável em Resende, no interior do Rio de Janeiro, pela aventura de buscar novas experiências profissionais na capital do país. A mudança, segundo ela, foi precipitada pela necessidade de ajudar o filho, Jair Renan, a tocar os negócios dele. Os primeiros meses foram complicados. O status de ex-mulher do presidente da República lhe abriu muitas portas, mas também armou perigosas arapucas. Ela recebeu convites para se associar a escritórios de advocacia, foi sondada para fazer parcerias com notórios lobistas e sobraram ofertas de emprego para assessorar políticos. Acabou aceitando a proposta para trabalhar no gabinete da deputada federal Celina Leão (Progressistas-DF), onde recebe um salário razoável, mas módico para os padrões da elite brasiliense. Aos poucos, a advogada vai superando — e bem — as dificuldades.

Ana Cristina foi casada com Jair Bolsonaro durante dez anos. Depois da separação, em 2007, trabalhou com o então deputado estadual Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. Nessa época, de acordo com o Ministério Público, ela teria organizado um esquema de arrecadação de parte dos salários dos funcionários do gabinete — o que ela nega. Depois de desembarcar em Brasília, a advogada foi morar com o filho no apartamento em que Bolsonaro residia antes de se eleger presidente da República. Embora bem localizado, o imóvel era pequeno demais. Renan, que tem 23 anos, queixava-se das privações, da falta de conforto, da dificuldade em receber os amigos. Esse problema foi resolvido. Há um mês, a família trocou o apartamento por uma casa bem ampla, de dois andares, com piscina e área de lazer, no Lago Sul, o bairro onde mora a classe mais abastada da capital. “Demorou para vocês descobrirem e aparecerem. Já tem um mês que mudei”, disse a VEJA a ex-mulher do presidente, na segunda-feira 16, na porta da casa.

Na calçada, de chinelo e vestido, Ana falou sobre a sua rotina em Brasília, do emprego, da família e, especialmente, da casa nova. Explica que, desde que se mudou, parte do seu dia é ocupada com tarefas domésticas, como trocar lâmpadas, consertar torneiras e arrumar infiltrações. A nova residência, segundo ela, é antiga e precisa de reparos, o que lhe garantiu um belo abatimento no valor na locação. Corretores consultados por VEJA informam que o aluguel de um imóvel similar na região custa em torno de 14 000 reais. Ana Cristina paga 8 000, uma pechincha, ainda que o valor consuma todo o seu salário bruto, que é de 8 100 reais. A diferença, explica, é complementada com renda de outros imóveis que ela possui no Rio de Janeiro. “A casa está detonada. Fiz o trato com o locador de fazer pequenas melhorias, por isso o aluguel foi baixo”, explica.

O dono do imóvel, segundo ela, é “um conhecido” — um corretor e empresário que mora na periferia de Brasília. Os registros cartorários revelam que ele comprou a casa no dia 31 de maio passado e, um mês depois, Ana Cristina mudou-se para lá. Ainda de acordo com os documentos, Geraldo Antonio Moreira, o proprietário, deu 580 000 reais de entrada e financiou o restante, 2,3 milhões de reais. A prestação é de 15 000 reais, quase o dobro do aluguel. Como investimento, evidentemente não foi um bom negócio. “Comprei a casa para eu morar lá. Mas ainda não consegui. Como financiei, recebi a proposta de locação e loquei. A intenção não era alugar, mas a gente tem de pagar as contas, né?”, explica o corretor-empresário. E sobre a locatária? “Eu não sabia nem quem era o inquilino. Não conheci a Cristina, não tenho contato com esse pessoal. Eu nem gosto de política”, disse ele.

Confortável e bem localizada, a casa não tem homens armados na porta ou agentes do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) fazendo vigilância ostensiva. Os vizinhos, no entanto, já sabem que um ramo importante da família Bolsonaro mora lá, mas o isolamento social e a discrição dos novos habitantes da rua ainda não permitiram uma aproximação. No domingo 22, porém, a quarentena foi quebrada. Renan postou nas redes sociais uma série de vídeos de um almoço que promoveu com amigos. “Hoje aqui em casa vou fazer uma comemoração a todos vocês aí que estão me acompanhando chegar a meio milhão de seguidores. Hoje somos 533 000”, anunciou. Entre uma postagem e outra da reunião, o filho do presidente aproveitava para fazer propaganda de uma cervejaria. Não era por acaso. O Zero Quatro cobra um cachê de 10 000 reais para fazer merchandising de produtos em seus perfis. O novo endereço tem servido para outros fins.

Recentemente, Cristina recebeu a visita do irmão, André Valle. Por mera coincidência, segundo ela, foi logo depois que uma reportagem do portal UOL revelou o teor de uma gravação em que a irmã da advogada, a fisiculturista Andrea Valle, indica em uma mensagem que Jair Bolsonaro teria envolvimento no esquema da rachadinha. No áudio, Andrea afirma que André foi demitido do cargo de assessor do gabinete parlamentar de Bolsonaro por se recusar a repassar parte de seu salário ao então deputado. “O André deu muito problema porque ele nunca devolveu o dinheiro certo que tinha de ser devolvido, entendeu? Tinha de devolver 6 000 reais, ele devolvia 2 000, 3 000. Foi um tempão assim, até que o Jair pegou e falou: ‘Chega. Pode tirar ele porque ele nunca me devolve o dinheiro certo’ ”, diz Andrea. Depois da divulgação do áudio e da repercussão, André, que mora em Volta Redonda, viajou para Brasília e ficou escondido na casa até que o assunto esfriasse.

Cristina e outros nove parentes dela, incluindo André e Andrea, entraram na mira do Ministério Público por envolvimento no escândalo da rachadinha. Cristina conta que seus familiares recebem ameaças todas as vezes que esse assunto vem à tona. “É uma situação complicadíssima. São meus irmãos”, afirmou. Sobre o áudio de Andrea, ela se esquiva: “Prefiro não comentar. Mas batem muito sem motivo. Coitadinha da minha irmã. Tenho pena dela. Ela está sofrendo com esses ataques todos. Menina humilde que não tem muito estudo, que corre atrás e batalha, cria uma filha. Atacaram meu pai com 78 anos, minha mãe com 77. Como meus pais ficam? Não pensam no ser humano. Minha mãe liga chorando. É sofrimento demais, você não tem ideia”. E desabafa: “Só queria que me deixassem em paz”.

Com vinte anos de experiência em política, Cristina estuda a possibilidade de transferir o domicílio eleitoral para Brasília e concorrer a uma vaga de deputada com o sobrenome do ex-marido. A estratégia não funcionou em 2018, quando ela disputou uma vaga na Câmara dos Deputados pelo Rio de Janeiro e obteve pouco mais de 4 500 votos. Naquele pleito, ainda era recente a revelação de que ela, em 2011, informou ao Itamaraty que foi ameaçada de morte pelo marido e por isso havia se mudado para a Noruega. A gravidade da denúncia acabou resvalando na campanha do capitão reformado. Hoje, eles mal se falam. Detalhes sobre a história, ainda cheia de mistérios, estarão, segundo ela, num livro. Questionada sobre o teor, Ana Cristina é enigmática: “Surprise”, diz, antes de encerrar a conversa. A confusão apenas mudou de endereço.

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