Biden diz que Talibã está colaborando com saída de adversários
Foto: Andrew Caballero-Reynolds/AFP
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, afirmou neste domingo (22) que o governo americano conseguiu ampliar o perímetro de segurança para acesso ao aeroporto de Cabul e acelerar o ritmo de retirada de pessoas do Afeganistão —e que o “Talibã tem cooperado”.
“As pessoas vão conseguir sair [do Afeganistão], nós fizemos mudanças e ampliamos o acesso ao aeroporto e à zona de segurança [em Cabul]”, disse Biden. “Por enquanto, o Talibã não atacou as forças americanas, e tem deixado os americanos saírem, como havia prometido. Vamos ver se o que estão falando é verdade.”
Ele, porém, ressalvou: “Não sei se eles [Talibã] controlam todas suas forças. É uma força desorganizada. Vamos ver se o que dizem vai se confirmar.”
Desde que o grupo fundamentalista tomou Cabul e reassumiu o poder no Afeganistão, no último dia 15, ao menos 20 pessoas já morreram dentro ou nos arredores do aeroporto da capital, palco de cenas de desespero daqueles que tentam fugir do país.
O número, divulgado pela Otan (aliança militar ocidental), inclui sete civis afegãos que, de acordo com o Ministério da Defesa do Reino Unido, foram pisoteados e esmagados em uma confusão próxima ao terminal no sábado.
O domingo não teve registro de feridos graves, mas homens armados ligados ao Talibã, que controlam o acesso ao aeroporto, deram tiros para o ar e usaram cassetetes para pôr fim aos tumultos.
De acordo com a agência AFP, o Talibã atribuiu a confusão no terminal a um fracasso de gestão dos EUA, alegando que no restante do país reina a paz —declaração contraditória com relatos de protestos, forte repressão e mortes dos últimos dias.
Biden tem sido duramente criticado pelo caos que se seguiu à retirada das forças americanas no país, depois de 20 anos.
Na noite de sábado, o ex-presidente Donald Trump engrossou o coro contra o sucessor, classificando a situação no Afeganistão como “a maior humilhação da história da diplomacia americana”. Em evento com apoiadores no Alabama, ele chamou Biden de incompetente e disse: “Isso não é uma retirada, é uma rendição”.
O atual ocupante da Casa Branca, por sua vez, em seu terceiro pronunciamento sobre a crise nesta semana, disse que o ritmo de retirada se acelerou nos últimos dias, com as mudanças, e que 11 mil pessoas saíram em pouco mais de 36 horas neste fim de semana.
Desde 14 de agosto, foram evacuados 28 mil cidadãos dos EUA e dos países da Otan (aliança militar ocidental), além de afegãos que trabalharam com os estrangeiros durante a guerra, líderes femininas e jornalistas.
Biden citou que companhias aéreas comerciais vão emprestar aviões para transportar afegãos que estejam nos centros de processamento em bases americanas e voltou a negar que o tumulto da saída dos civis do país deva-se a uma falta de planejamento eficiente do governo americano.
“A retirada seria dolorosa e difícil, não importa quando tivesse sido iniciada; se tivéssemos começado há um mês ou daqui a um mês… Não há como fazer a retirada [de tropas] de um país sem dor e perdas”.
Em julho, ele dissera que as chances do Talibã retomar o poder eram mínimas, enquanto o grupo já estava conquistando territórios.
O americano também reagiu a críticas de outros países da Otan, que acusam os EUA de não terem avisado com a devida antecedência sobre a retirada e não estarem ajudando o suficiente a resgatar cidadãos e diplomatas dessas nações.
“Estamos trabalhando de perto com o G7, teremos uma conferência do grupo [convocada para esta terça pelo britânico Boris Johnson] e já ajudamos a retirar diplomatas e cidadãos desses países”, disse.
Boris tuitou neste domingo pedindo cooperação da comunidade internacional no resgate em Cabul, para que a situação no Afeganistão não se torne uma crise humanitária.
O líder americano disse que os EUA continuam alertas para possíveis ataques terroristas do Estado Islâmico-K e de outras facções, mas que ele não vê motivos para desacelerar o ritmo de retirada das pessoas do país.
Indagado por um jornalista se o governo americano agora confia no Talibã, uma vez que está negociando com o grupo extremista que tomou o poder no país, Biden respondeu: “O Talibã precisa fazer uma decisão muito importante —se eles vão tentar unir o povo afegão, precisarão de ajuda financeira, comércio e outras coisas. Eles precisam de legitimidade, querem ser reconhecidos por outros países, estão pedindo que não retiremos de forma permanente nossas representações diplomáticas no país”.
O presidente americano voltou a defender sua decisão de cumprir o acordo de retirada das tropas do país, que caiu em poder do Talibã em poucos dias e minimizou a queda observada em sua popularidade.
“Quando tudo isso tiver acabado, o povo americano vai entender de forma clara por que fizemos a retirada; ou eu retirava os EUA de uma guerra de 20 anos, que nos custou US$ 150 milhões por dia durante esses 20 anos, e milhares de mortes, ou eu aumentava o número de tropas e mantinha a guerra”, disse Biden. “Eu tomei a decisão correta de não mandar mais jovens americanos para a guerra.”
Em 2020, o governo de Donald Trump fez um acordo com o Talibã, que prometia agir de modo civilizado em troca da saída americana. O acerto foi mantido por Biden, mas o grupo derrubou o governo do presidente Ashraf Ghani antes de a retirada dos EUA ser concluída.
No último dia 16, logo após a queda de Cabul, Biden admitiu que seu governo fez previsões erradas, mas culpou os militares e políticos afegãos pela situação. Dois dias depois, em entrevista à rede ABC, ele disse que poderia estender o prazo final da saída das tropas, marcada para 31 de agosto, caso a retirada de cidadãos americanos não tenha sido concluída. E, no dia 20, afirmou não poder garantir o resultado final da operação.
O Talibã voltou ao comando do Afeganistão quase 20 anos após ter sido derrubado pelos Estados Unidos, que invadiram o país em 2001 para caçar os terroristas responsáveis pelos ataques de 11 de setembro. Na época, o grupo foi derrubado rapidamente, mas a ocupação do país durou duas décadas.
Os EUA tentaram estabelecer um regime democrático no país e criar um Exército nacional forte, mas falharam nas duas coisas.
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