Dilma diz que Bolsonaro quer dar “golpe dentro do golpe”

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Foto: ROBERTO STUCKERT FILHO/PR

A ex-presidenta Dilma Rousseff (PT) analisou os quase cinco anos desde o impeachment que a tirou do poder em 31 de agosto de 2016. Para ela, o golpe na democracia já foi dado com seu impedimento, o que ocorre agora é que Jair Bolsonaro flerta com ‘um golpe dentro do golpe’. As declarações foram dadas em entrevista à revista Focus Brasil, da Fundação Perseu Abramo.

Para ela, “o que estamos vivendo são as etapas do possível endurecimento do regime político no Brasil. O governo flertando com a possibilidade de um golpe dentro do golpe”. Essa possibilidade, como explica, já estava anunciada há cinco anos, mas o Judiciário só teria ‘se movimentado’ porque as ameaças agora estão direcionadas a eles.

“Chegou agora neles. Quando eu disse, há cinco anos, que o golpe não ficaria ali, é porque sabia que haveria um avanço rápido sobre todas as instituições”, afirma. “Como é que começa agora este momento de radicalização do Supremo? Começa com o fato de que o Executivo estava tentando colocar o STF de joelhos, colocando estruturas como Receita e PF a investigar os ministros da Corte. Passa pelas fake news contra os ministros e, depois, com Eduardo Bolsonaro ameaçando: ‘É preciso apenas um soldado e um cabo do Exército para fechar o Supremo’. Até chegar à manifestação pelo fechamento do Supremo”, detalha Dilma.

Segundo a ex-presidenta, todo o processo do impeachment, apesar de não militarizado, não foi brando e permitiu que os militares pudessem chegar ao poder e fazer as atuais ameaças.

“Não dá para dizer que é um golpe brando. Não foi um golpe brando coisíssima nenhuma […] Não existe golpe brando, como não existe ditadura branda. O Golpe não só corroeu a democracia, como a gente está vendo, mas é responsável pelo aumento da pobreza porque antes de começar a pandemia, em 2020, já havia um aumento extraordinário da miséria e os primeiros indícios da fome”, analisa.

Dilma destaca que, como em uma ditadura, um golpe é feito de etapas e seu impedimento seria o ‘ato zero’ do que está ocorrendo agora, com as ameaças institucionais dos militares.

“Lembre que toda ditadura é um processo. Por isso que eu digo que o Golpe de 2016 é o ato zero do golpe, é o ato inaugural, mas o processo continua”, afirmou Dilma, detalhando em seguida que a prisão de Lula e sua retirada das eleições de 2018 seriam os dois ‘atos seguintes’ ao golpe.

Para a petista, tudo isso só foi possível com a anuência dos militares, que finalmente foram colados novamente no poder. “Já tinham tirado o gênio da garrafa…Quando digo o gênio da garrafa, eu falo dos militares. Lembra que no governo Temer deram uma importância grande aos militares, voltando a ter o GSI, levando um militar para dirigir o Ministério da Defesa? Isso nunca tinha acontecido. Entregar o Ministério da Defesa a um militar. Nem Fernando Henrique”, detalha.

“E eles [militares] gostaram e não querem voltar para a garrafa”, conclui a ex-presidenta sobre a escalada golpista dos militares brasileiros.

Na entrevista, Dilma também tratou de outros dois aspectos que seriam consequências desastrosas do seu impeachment para o Brasil: o congelamento de investimentos em políticas públicas com o teto de gastos e a devastação ambiental sob o comando de Jair Bolsonaro e do ex-ministro Ricardo Salles. Nos dois casos, parte das consequências pode ser irreversível, diz.

“O golpe permitiu dois crimes imediatos contra o País: o teto dos gastos — que tirou o povo do orçamento, afetando os programas sociais e os investimentos — e a destruição da Amazônia”, afirma. “Quando se tira essa possibilidade por duas décadas — decidir para onde irão os recursos durante cinco eleições —, o que se fez foi invadir a democracia”, acrescenta.

Sobre a devastação ambiental, recorde no governo Bolsonaro, ela acredita que ‘talvez seja a maior tragédia’ do golpe. “Porque não tem volta, né? Tem coisas que você destrói na natureza que leva décadas e às vezes até séculos para reconstruir. O que eles estão fazendo na Amazônia é um absurdo. Abriram a Amazônia para uma coisa que nós jamais permitimos e nenhum governo anterior: a entrada das grandes empresas mineradoras”, justifica a afirmação.

Carta Capital  

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