Editor do Blog da Cidadania critica Folha em carta ao jornal
Foto: IRicardo Stuckert/Instituto Lula
Painel do Leitor da Folha desta sexta 27/8
Lula
No momento em que a democracia está sob ataque, o editorial “O fardo de Lula” (Opinião, 26/8) quer que Lula prove que não é culpado de acusações montadas conjuntamente pelo juiz que o condenou e pelos procuradores que o denunciaram —conforme denúncias que este mesmo veículo fez. Lula não tem que explicar nada. Cabe a quem o acusa provar que ele cometeu algum crime. E nunca provaram coisa nehuma.
Eduardo Guimarães (São Paulo, SP)
Confira o editorial 👇
Uma sequência de vitórias judiciais abriu o caminho para uma nova candidatura presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva, mas está longe de dirimir as questões sobre o passado e o futuro do líder petista.
Em decisão surpreendente tomada em março, o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, anulou todas as ações movidas pela Lava Jato em Curitiba contra o ex-presidente. A medida, referendada no mês seguinte pelo plenário da corte, amparou-se no entendimento de que os processos deveriam correr em outra jurisdição.
Em junho, o STF declarou, por 7 votos a 4, a parcialidade do ex-juiz Sergio Moro na condução do processo relativo ao apartamento tríplex em Guarujá (SP), que levou Lula à prisão e o impediu de disputar as eleições de 2018. O entendimento foi estendido a outra condenação imposta em Curitiba, no caso do sítio de Atibaia (SP).
Quanto a este, a juíza Pollyanna Martins Alves, de Brasília, rejeitou no último sábado (21) a denúncia reapresentada pelo Ministério Público Federal. A magistrada considerou que a peça falhava na apresentação das provas; considerou também que houve prescrição para o ex-presidente e outros acusados com mais de 70 anos.
As decisões judiciais foram bem fundamentadas —ainda que a medida inicial de Fachin tenha suscitado estranheza pela aplicação tardia. Lula, como qualquer cidadão, deve ser considerado inocente até prova em contrário. Mas Lula é também candidato em potencial ao Planalto, e não um candidato qualquer. Hoje, lidera as pesquisas.
Se vier a participar da disputa, como parece muito provável, os eleitores não disporão de um veredito da Justiça a respeito de suas relações com empreiteiras que fizeram negócios lícitos e ilícitos com seu governo. Não houve reexame de provas e depoimentos, e dificilmente haverá tempo para tal.
Antes de ser anulado, o processo do tríplex chegou ao Superior Tribunal de Justiça, que em 2019 confirmou, embora com pena menor, a condenação por corrupção passiva e lavagem de dinheiro devido ao recebimento de favores da OAS.
Já o caso do sítio, que envolve benfeitorias patrocinadas pelas construtoras OAS e Odebrecht na propriedade utilizada pelo petista e sua família, havia resultado em condenação pelos mesmos crimes no Tribunal Regional Federal da 4ª Região, a segunda instância.
O discurso de que tudo não passou de perseguição política, midiática, policial e judicial pode convencer os militantes, mas precisará passar pelo teste da campanha. Como o Datafolha apurou, em março 57% dos brasileiros aptos a votar consideravam que a condenação pelo tríplex fora justa.
Restarão ainda os fatos comprovados dos escândalos do mensalão e da Petrobras. É um fardo pesado para um candidato, e não menos para um possível presidente.
Assinatura
CARTA AO LEITOR
O Blog da Cidadania é um dos mais antigos blogs políticos do país. Fundado em março de 2005, este espaço acolheu grandes lutas contra os grupos de mídia e chegou a ser alvo dos golpistas de 2016, ou do braço armado deles, o juiz Sergio Moro e a Operação Lava jato.
No alvorecer de 2017, o blogueiro Eduardo Guimarães foi alvo de operação da Polícia Federal não por ter cometido qualquer tipo de crime, mas por ter feito jornalismo publicando neste Blog matéria sobre a 24a fase da Operação Lava Jato, que focava no ex-presidente Lula.
O Blog da Cidadania representou contra grandes grupos de mídia na Justiça e no Ministério Público por práticas abusivas contra o consumidor, representou contra autoridades do judiciário e do Legislativo, como o ministro Gilmar Mendes, o juiz Sergio Moro e o ex-deputado Eduardo Cunha.
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