Governo quer economia de energia, mas não cita horário de verão
Foto: Joel Silva / Agência O Globo
O governo anunciou nesta terça-feira que o maior patamar da bandeira tarifária será reajustado em 50% a partir desta quarta-feira. A taxa-extra nas contas de luz subirá de R$ 9,49 para R$ 14,20 a cada 100 quilowatts-hora (kWh) consumidos. O Ministério de Minas e Energia também anunciou um programa para incentivar a redução voluntária de consumo de eletricidade para os clientes residenciais e de pequenos comércios (que são atendidos por distribuidoras de energia).
A bandeira passará a se chamar bandeira tarifária “Escassez Hídrica” e provocará aumento de 6,78% na tarifa média dos consumidores de energia. Os cidadãos de baixa renda que aderem à tarifa social não serão afetados pelas novas regras da bandeira, sendo mantido o valor atual. A medida valerá de 1º de setembro a 30 de abril de 2022.
O diretor-geral da Agência Nacional de Energi Elétrica (Aneel), André Pepitone, explicou que a bandeira será necessária para custear as despesas financeiras decorrentes das medidas para driblar a crise hídrica.
“Assim, tendo em vista o déficit de arrecadação já existente, superior a R$ 5 bilhões, e os altos custos verificados, destacadamente de geração termelétrica, foi aprovada determinação para que a ANEEL implemente o patamar específico da Bandeira Tarifária, intitulado ‘Escassez Hídrica’, no valor de R$ 14,20 (a cada 100 kWh), com vigência de 1º de setembro de 2021 a 30 de abril de 2022”, informou o governo em nota.
— Estamos adotando medidas em face da escassez hídrica desde o fim do ano passado. Isso é para garantir a segurança energética. Nós trabalhamos para ter a oferta suficiente para atender todas as unidades consumidoras do país — disse o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque.
O ministro garantiu que todas os cenários mostram que há oferta para atender a demanda de energia.
— Todos os cenários que nós possuímos indicam que nós temos a oferta suficiente para a demanda do sistema. As medidas estão surtindo efeito, mas ainda não nos levam a uma situação de normalidade. Por isso estamos adotando todas as medidas. Queremos mostrar para o consumidor que a energia está mais cara, mas adotando a redução do consumo essa energia será mais barata.
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Pelo programa de redução do consumo, ganhará um desconto nas contas de luz quem diminuir o consumo em pelo menos 10%. O bônus na tarifa deve valer até uma redução de 20% — acima disso não haveria benefícios. O governo espera uma redução média de 15% por família.
O MME estima uma redução de 1,41% do consumo total de energia.
As medidas fazem parte das ações do governo por conta da crise hídrica, a pior em 91 anos, que ameaça o fornecimento de energia elétrica. Por globoser de adesão voluntária, o governo não considera a medida uma forma de racionamento de energia (que pressupõe obrigatoriedade).
O objetivo é que o programa comece a valer em setembro e se estenda até dezembro, podendo ser prorrogado. Haverá um bônus de 0,50 a cada kilowatt-hora (kWh) do volume de energia acima da meta de 10%. O desconto será pago para quem economizar acima da faixa de 10%.
Portanto, abaixo disso, não haveria um desconto — apenas a redução normal pela queda de consumo.
Por exemplo: se uma família consome 200 kWh de energia por mês, ela deverá reduzir esse consumo para uma faixa entre 160 e 180 kWh. Essa família ganharia R$ 10 de bônus na conta por reduzir o consumo em 10%. Para uma economia de 20%, o desconto seria de R$ 20.
Para ter uma comparação, a tarifa média paga pelos consumidores residenciais hoje está em R$ 0,60 por kWh (valor que é acrescido de encargos e impostos).
Para calcular o percentual de economia, a comparação começará com base em uma média mensal do consumo dos meses de setembro, outubro e novembro de 2020. Assim, exclui-se o período de restrições mais intensas à mobilidade por causa da pandemia, o que poderia distorcer a média.
O governo fez uma estimativa simulando uma família 100 KWh por mês e considerando a tarifa padrão do país, de R$ 60 kWh/mês. Por conta da bandeira tarifária, essa família pagaria normalmente R$ 74 de conta de luz (sem contar impostos e encargos). Com 20% de redução do consumo, ganhará um bônus de R$ 10, gerando uma redução na conta em 33% (que também é impulsionada pela própria redução do consumo).
Não haverá aporte do governo para financiar o programa. Os recursos para bancar esse desconto vão sair do Encargo de Serviços do Sistema (ESS), uma obrigação que é cobrada nas contas de luz.
Portanto, o bônus será custeado pelos próprios consumidores, tanto os atendidos pelas distribuidoras quanto pelos que operam no chamado mercado livre, como as indústrias.
Ao mesmo tempo em que prepara um programa para redução voluntária do consumo, o governo confirmou o reajuste na bandeira tarifária (adicional cobrado nas contas de luz). Hoje, é cobrado um adicional de R$ 9,49 a cada 100 kWh. O valor foi reajustado para R$ 14,20 a cada 100 kWh.
Com isso, o valor líquido do bônus, subtraindo-se os R$ 14,20 da bandeira, seria de R$ 35,80 a cada 100 kWh economizados.
Os cidadãos de baixa renda que aderem à tarifa social também poderão participar do Programa de Incentivo à Redução Voluntária do consumo de energia elétrica.
O ESS hoje banca termelétricas muito caras. Por isso, integrantes do governo dizem que o programa pode ser vantajoso para o setor elétrico porque irá trocar uma geração cara por uma consumo menor.
O saldo final, segundo uma autoridade, é que o sistema elétrico como um todo será menos caro de operar se um número significativo de clientes das distribuidoras aderir à redução voluntária do consumo e atingir pelo menos 10% de economia. Enquanto isso, a situação continua se deteriorando.
A situação da crise hídrica se deteriorou nos últimos dias. O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) estima que os reservatórios do Sudeste/Centro-Oeste vão chegar ao fim do mês de setembro com apenas 15,4% da capacidade de armazenamento — muito abaixo do nível verificado na mesma data do ano passado (32,9%) e até de 2001, quando houve racionamento de energia (20,7%). O subsistema Sudeste/Centro-Oeste é considerado a principal caixa d’água do país.
A redução de 10% a 20% no consumo de energia é a mesma que foi determinada para órgãos públicos federais — que são obrigados a reduzir.
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