Parlamentares, filhos de Bolsonaro pouco trabalham
Foto: Jorge Hely, Cristiano Mariz e Waldemir Barreto / Agência O GLOBO e Agência Senado
Incessantemente dedicados ao enfrentamento político nas redes sociais, os filhos do presidente Jair Bolsonaro têm deixado em segundo plano a atividade parlamentar. De olho em 2022, Flávio, Carlos e Eduardo estão cada vez mais empenhados em defender o governo do pai, em viabilizar um partido para sua filiação e agitar na internet a “guerra cultural” que mantém a base mobilizada. Enquanto isso, têm sido preteridas, por exemplo, reuniões em comissões do Legislativo, uma das obrigações pertinentes a senadores, deputados e vereadores.
O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) pouco participa da Comissão de Educação na Câmara. Desde o início do ano, o parlamentar faltou 20 vezes a reuniões do colegiado. Em 13 oportunidades, as ausências não foram justificadas. Nos últimos meses, intensificou a agenda no exterior, ocasião em que esteve mais ausente nos trabalhos da Casa.
Eduardo participa de debates para articular um movimento internacional conservador. Já esteve nos Estados Unidos em algumas ocasiões e recentemente foi até mesmo recebido pelo ex-presidente Donald Trump.
Eduardo foi alçado à vaga de membro titular na Comissão de Educação no início do ano, quando bolsonaristas se mobilizaram para ocupar espaços importantes no Legislativo. A ideia era manter em evidência a pauta ideológica do governo. No colegiado, porém, pouco trabalhou. Hoje, há apenas um projeto listado sob sua relatoria, aguardando parecer desde maio. A iniciativa trata da permissão a universidades para produzir equipamentos que contribuam no combate à pandemia.
Lá, tramitam outras duas propostas de sua autoria. A primeira trata da proibição de matrícula em universidades de pessoas condenadas “administrativamente ou judicialmente” por dano ao patrimônio público. E a segunda estabelece a obrigatoriedade de exames toxicológicos para professores da rede pública. Ambas não foram votadas. Procurado para falar sobre a produtividade no colegiado, o parlamentar não respondeu.
Dos três filhos, Eduardo tem uma atuação mais institucional, de ser um representante informal do pai. Em recente viagem à Ucrânia, no início de julho, ele foi recepcionado como verdadeiro chefe de Estado. O deputado foi recebido em caráter privado pelo primeiro-ministro, Denys Shmyhal, e homenageado em coquetel com outras autoridades ucranianas.
Figura frequente no Palácio do Planalto apesar de ser vereador no Rio, Carlos Bolsonaro foi o estrategista da campanha do pai nas redes sociais, onde pouco publica sobre seu trabalho como parlamentar. Desde o início do mês, Carlos fez 30 postagens em seu perfil. Um terço das mensagens tratava sobre “esquerda”, “Foro de São Paulo”, “Cuba” ou outras referências ao campo político adversário. Nenhuma fazia referência a atividades na Câmara do Rio.
Documentos enviados pela Casa Civil à CPI da Covid mostram que, até junho deste ano, Carlos acumulou 214 registros de acesso no Palácio do Planalto, em 32 dias diferentes.
Sua assessoria afirmou que, quando está em Brasília, Carlos participa de sessões da Câmara de forma virtual. “Não faltou a nenhuma sessão este ano”, diz o gabinete do parlamentar.
Na Câmara de Vereadores, Carlos tem dado atenção a ações tomadas pelo município no combate à pandemia. Como o pai, ele é crítico a medidas de restrições. Apresentou, por exemplo, sete projetos que limitariam ou dificultariam a política sanitária implementada por Eduardo Paes. Uma delas previa que entidades de empregados e empregadores fossem ouvidas antes de a prefeitura decretar medidas restritivas ao comércio.
Já o senador Flávio Bolsonaro tem se dedicado ao futuro político do pai. Ele se filiou ao Patriota e tentou levar o presidente para o partido, mas a ideia naufragou.
No Senado, Flávio está longe de ser atuante nas duas comissões das quais é titular. Ele não fez qualquer manifestação ou discurso nas sete reuniões da Comissão de Assuntos Econômicos. Na de Desenvolvimento Regional e Turismo, da qual é o vice-presidente, não se encontra qualquer registro de uso da palavra do senador. Nem nas quatro reuniões regulares da comissão, nem nas 14 mesas de debate sobre desenvolvimento e turismo que aconteceram.
Procurado para comentar, Flávio não se manifestou.
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