Reverendo chora e quer “voltar atrás”

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Foto: Pedro França/Agência Senado

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid retomou os trabalhos nesta terça-feira (3) com o depoimento do reverendo Amilton Gomes. Ele visto como um peça-chave entender como se deu o uso de empresas e organizações intermediárias pelo governo federal para compra de vacinas contra o coronavírus.

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A reunião da CPI iniciou com a apreciação de uma série de requerimentos e os senadores aprovaram a quebra de sigilos telefônico, telemático, fiscal e bancário do deputado Ricardo Barros (PP-PR). Líder no governo na Câmara, Barros foi apontado por depoentes da comissão como articulador do esquema de compra de vacinas no Ministério da Saúde.

Outro requerimento aprovado pelo colegiado foi a apresentação de um pedido judicial para afastar a secretária de Gestão do Trabalho e da Educação do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro.

Conhecida como Capitã Cloroquina, Mayra é acusada pelos senadores de cometer crimes contra a vida ao incentivar políticas de defesa e incentivo ao uso de remédios sem eficácia contra a covid. A secretária havia deposto à CPI e reiterado a defesa do medicamento, além de admitir que a pasta orientou os médicos de todo país adotarem a droga.

Durante o depoimento o reverendo Amilton confirmou que a entidade que ele representa iria receber doações em troca de intermediar a compra de vacinas. “Não foi estabelecido valores. Desde o início se falava de doação [com a Davati]”, disse.

O reverendo Amílton Gomes de Paula é um religioso ligado à Igreja Batista. Ele se apresenta como presidente da Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários (Senah), uma instituição que, apesar do nome, não é ligada ao governo, mas uma ONG que “tem várias parcerias com entidades inter-governamental e não-governamental, tanto a nível nacional como internacional”, em uma nota de esclarecimento que está no site da Senah. No “combate” à covid-19, prossegue a nota, a Senah “desenvolveu diversas ações de atendimento emergenciais”, o que a levou a se envolver como intermediária em um processo de aquisição de vacinas da AstraZeneca a partir de uma empresa dos Estados Unidos, a Davati Medical Supply.

Amilton Gomes também disse que a reunião no Ministério da Saúde da qual participou ocorreu no dia 12 de março. Nela foi tratada sobre a proposta da Davati e as informações compartilhadas com o coronel Helcio Bruno de Almeida, presidente do Instituto Força Brasil. Ele também disse que discutiu com o presidente do Instituto, no dia 9 de março, sobre uma proposta em tramitação no Congresso Nacional que autorizava a compra de imunizantes contra a covid-19 pela iniciativa privada. O projeto não chegou a ser aprovado.

Desta reunião participaram cerca de dez pessoas entre eles Luiz Paulo Dominguetti, Cristiano Carvalho, o então secretário-executivo da pasta, Elcio Franco, e o ex-diretor de Programas do ministério, coronel Marcelo Bento Pires.

O reverendo Amilton Gomes de Paula iniciou o depoimento negando ter negociado vacinas com o Ministério da Saúde. Ao invés disso, afirmou que apenas “apresentou as informações”. Diante de seguidos questionamentos, ele também negou desconhecer os nomes de integrantes da pasta citados pelos senadores, bem como integrantes do governo como o presidente Bolsonaro, os filhos e a primeira-dama, Michelle Bolsonaro. “Não os conheço”, “eu não tenho relacionamento com os militares”, “não lembro”.

O depoente, em duas oportunidades chegou a definir as declarações anteriores como “bravatas” que fez.

Nas mensagens do celular de Luís Paulo Dominguetti, o reverendo Amílton de Paula aparece mais de uma vez como alguém que tinha acesso ao presidente Jair Bolsonaro para facilitar a negociação de aquisição das vacinas da AstraZeneca. Agora, à CPI, o reverendo negou conhecer o presidente.

Em uma das mensagens que estão no celular de Dominguetti, Amílton de Paula responde ao cabo da PM: “Falei com quem manda”. Perguntado pelo senador Humberto Costa (PT-PE) sobre quem era essa pessoa que manda, Amílton respondeu: “Foi uma bravata”.

Amilton também disse desconhecer a proposta de propina de US$ 1 por dose de vacina. A denúncia havia sido feita pelo vendedor de vacinas Luiz Paulo Dominghetti, que trouxe a SENAH para o processo. O reverendo contou ter conhecido Dominghetti no dia 16 de fevereiro. Já Cristiano Carvalho, representante da Davati, foi apresentado a ele no dia 1 de março, quando foi aberta a conversação com o dono da empresa Davati, Herman Cárdenas.

O senador Jean Paul Prates (PT-RN) questionou o reverendo Amilton sobre a ligação da SENAH com outras organizações não governamentais que estariam se utilizando do nome das Organizações das Nações Unidas (ONU) para obter credibilidade na negociação com estados e municípios.

Um dos casos citados foi o de Aldebaran Luiz Von Holleben, que estaria à frente da United Nations Mission of International Relations (UNMIR) – entidade que apesar do nome não indica fazer parte dos quadros da ONU. O senador aponta que o presidente da entidade é um advogado de Ponta Grossa (PR), que inclusive lutaria na Justiça para ser reconhecido como o verdadeiro Super-homem.

O senador também questionou a ligação do reverendo com uma destas ONGs com sede no Ministério da Defesa. Amilton disse conhecer as organizações, mas não deu mais detalhes e defendeu a ligação da SENAH com a Organização das Nações Unidas.

Indagado pelo senador Marcos Rogério (DEM-RO) o reverendo disse que foi enganado pela Davati e diz “se pudesse voltar atrás, voltaria”. Ele também disse que errou, mas não disse qual foi o erro uma vez que durante todo o depoimento negou ter negociado vacinas e que não tinha contato com integrantes do governo.

A facilidade com que ele marcava agendas no governo e tinha bom trânsito no Executivo, no entanto, chamou atenção dos senadores. Há informações de que ele fez chegar ao presidente da República a proposta de venda de vacinas.

Congresso em Foco 

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