Base da PM obedece cúpula e deixa Bolsonaro na mão
Foto: Rogério Pagnan/Folhapress
O comando da Polícia Militar de São Paulo comemorou o resultado das ações de policiamento do 7 de Setembro que terminou sem incidentes de relevo e, principalmente, celebrou que a tropa cumpriu a determinação de que PMs de folga não deveriam participar de manifestações políticas no feriado.
Até o começo da noite desta terça-feira (7), a cúpula da segurança pública paulista não havia identificado nenhum PM da ativa participando de atos a favor ou contra o presidente Jair Bolsonaro no horário de folga.
Foram identificados apenas policiais aposentados no protesto da avenida Paulista, como já era esperado, o que não configura transgressão disciplinar.
A orientação do comandante-geral, coronel Fernando Alencar Medeiros, era para que os oficiais punissem todos os subordinados flagrados participando de manifestações políticas nas folgas. A falta é considerada média.
Até o efetivo das corregedorias das duas polícias foi reforçado para enfrentar uma possível adesão. A avaliação da cúpula da segurança é que a ordem foi cumprida, e o comando de Alencar sai fortalecido.
Desde o início da crise provocada pelas postagens de apoio a Bolsonaro feitos pelo coronel da ativa Aleksander Toaldo Lacerda, no final do mês passado, as expectativas eram grandes sobre como iriam reagir os PMs de São Paulo diante dos apelos bolsonaristas para um golpe institucional.
O Palácio dos Bandeirantes chegou a ser alertado por oficiais da PM paulista que uma eventual adesão por parte de policiais da ativa aos atos de apoio a Bolsonaro, descumprindo a legislação, poderia enviar ao presidente a mensagem de que ele tinha a instituição PM de São Paulo ao lado dele.
Por isso, o governo João Doria (PSDB) exigiu que medidas duras fossem adotadas contra o coronel Lacerda para inibir o surgimento de outros casos, em especial na base da corporação, que é maioria.
Avaliou-se que os oficiais ficariam sem armas para frear os praças se as declarações de um coronel ficassem impunes.
Para integrantes da cúpula da corporação, a participação da PM nos atos desta terça reforçou a mensagem defendida por eles desde o começo da crise: a instituição Polícia Militar de São Paulo nunca esteve com Bolsonaro e as manifestações de Lacerda foram indevidas e de cunho pessoal.
Os integrantes da PM também afirmam que as manifestações do oficial só ganharam peso por conta do momento tenso pelo qual o país passa e, em outros tempos, não teria tanto peso e possivelmente passariam despercebidas.
Coronéis ouvidos pela reportagem afirmam até defender o impeachment de Bolsonaro como forma de tentar pacificar e acalmar o país em meio a crises política, econômica e sanitária.
Isso não quer dizer, porém, que a PM de São Paulo tenha alterado a antipatia nutrida em relação a Doria. Desde o final de 2019, vem se acumulando episódios nos quais os policiais militares paulistas se sentiram desprestigiados pelo tucano.
Também não muda o fato de que boa parte dos policiais têm simpatia pelo presidente capitão reformado do Exército e deve votar nele em 2022.
Doria esteve nesta terça no Centro de Operações da Polícia Militar acompanhando as ações de policiamento de 7 de Setembro.
Também esteve no prédio o procurador-geral de Justiça, Mário Sarrubbo. No último fim de semana, ele enviou à Secretaria da Segurança Pública recomendações para que o secretário João Camilo Pires de Campos tomasse medidas a fim de evitar que PMs de folga participassem de atos políticos partidários.
Se fosse necessário, que usasse a força para impedir que isso acontecesse.
Sarrubbo não quis dar uma avaliação sobre as ações desta terça.
Parte dos promotores de São Paulo, conforme a Folha apurou, não concordou com a manifestação do procurador-geral, principalmente os membros do Ministério Público que trabalham diretamente com policiais militares. Segundo eles, a tropa paulista é ordeira e não entraria em aventuras.
Além disso, os serviços de inteligência das polícias e do Ministério Público não haviam detectado nenhum risco de grupos armados de PMs participarem das manifestações pró-Bolsonaro e, assim, desconhecem o lastro para que Sarrubbo fizesse manifestação pública contra a instituição considerada parceira da Promotoria.
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