Bolsonaristas ameaçam acampamento indígena
Foto: Cristiano Mariz / Agência O Globo
Desde agosto em Brasília, o acampamento dos povos indígenas amanheceu em clima de receio nesta terça-feira devido à manifestação de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro na Esplanada dos Ministérios.
Informações falsas acerca de uma possível invasão movimentaram a madrugada do acampamento, localizado na Funarte, próximo a uma das vias que dá acesso à Esplanada. A expectativa é que cerca de 4 mil indígenas de 150 povos passem nesta terça-feira pelo acampamento.
No início da manhã, um cordão de apenas cerca de 30 policiais protegia o acampamento da via na qual apoiadores bolsonaristas passam para ir ao protesto em defesa do presidente. Em meio ao congestionamento, manifestantes pró-governo fazem buzinaço, enquanto do lado de dentro do acampamento é possível ouvir gritos de “Fora, Bolsonaro”.
O GLOBO perguntou à polícia qual o efetivo para proteção do acampamento, mas a corporação informou que “não informa o efetivo por questões de segurança”.
— Vamos nos concentrar dentro do acampamento, e não do lado de fora, porque está dando problema para nós. Que toda delegação que tenha seus homens tenha tranquilidade para acalmá-los. Não está sendo fácil. Precisamos ter calma nesse momento para não aceitar essas provocações — pediu no microfone a responsável pela segurança do acampamento, Shirley Krenak.
Krenak pediu que os indígenas se concentrem dentro do acampamento e não fiquem no estacionamento próximo à via.
Diante da tensão crescente, indígenas retiraram faixas de protesto da beirada da pista. Além do policiamento da PM, 25 seguranças particulares, os chamados “guerreiros”, atuam na segurança do local. Portando lanças e outros artefatos indígenas, representantes das etnias ficam de prontidão para defender o grupo.
— Se (manifestantes bolsonaristas) vierem desacatar, alguém vai explicar que estamos fazendo nosso trabalho pacificamente. Somos indígenas e estamos correndo atrás dos nossos direitos. Se provocarem a violência ou quiserem desafiar, vamos ter que entrar no conflito — afirmou o líder Sérgio Muxi, da etnia Tembé, que também compõe a guarda.
Desde o final de agosto indígenas montaram acampamento em Brasília para acompanhar o julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a tese do Marco Temporal. A discussão é se para reconhecer uma área como propriedade de indígenas é necessário que haja comprovação de que esses povos ocupavam o território quando a Constituição de 1988 foi promulgada. As etnias protestam na Capital Federal contra esse entendimento.
Nesta terça, têm início as atividades da Segunda Marcha das Mulheres Indígenas acontecem até sábado no acampamento. Em um manifesto, as lideranças femininas indígenas reforçam a luta pela demarcação de terras e em defesa dos direitos dos povos originários.
— A gente está com muito cuidado. Estamos em estado de vigília permanente para monitorar as pautas que estão tramitando nós três Poderes. E aqui também é vigília permanente, todos estamos alertas orientando a juventude para não responder a provocações — afirmou Sônia Guajajara, que é uma das coordenadoras da segunda marcha das mulheres Indígenas, narrando o episódio da madrugada:
— Nessa madrugada, o que houve foi mais uma desinformação nas redes dizendo que eles estavam vindo em direção ao nosso acampamento. Nesse momento houve alvoroço geral, todo mundo se levantou. Colocamos as mulheres para ficarem todas juntas e os meninos ficaram acompanhando. Eles vieram na direção, mas aqui é livre, mas a polícia mesmo barrou. Aqui ninguém dorme, passamos a noite inteira cuidando da nossa segurança.
Segundo relatos de seguranças particulares que atuam na proteção do grupo, diante de movimentações ou barulhos suspeitos, os indígenas chegaram a se direcionar para os acessos ao acampamento com seus instrumentos de batalha.
“A força de um guerreiro não se encontra no ataque, mas sim na resistência”, diz uma das faixas no acampamento.
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