Extrema-direita elege STF como maior inimigo
Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo
Uma pesquisa realizada entre os manifestantes que foram à Avenida Paulista em apoio ao presidente Jair Bolsonaro revela que o ato atraiu o grupo que demonstra mais aderência ao discurso inflamado do chefe do Executivo, com um perfil semelhante ao identificado pelas pesquisas como o do eleitor tradicional dele: homens, brancos, maiores de 40 anos e que consideram o Supremo Tribunal Federal (STF) a maior ameaça ao presidente. Em meio aos ataques à Corte, a ministros e ao funcionamento dos Poderes, 59% dos entrevistados responderam que o tribunal é o principal inimigo de Bolsonaro, superando a esquerda (17%) como alvo de críticas.
Diante dos manifestantes na Paulista, Bolsonaro recorreu aos temas caros aos apoiadores: atacou diretamente o ministro Alexandre de Moraes, a quem chamou de “canalha”, disse que ele deveria “pegar o chapéu” e deixar a Corte e afirmou ainda que não vai mais cumprir decisões de Moraes.
Os dados da pesquisa coordenada pelo professor Pablo Ortellado, da Universidade de São Paulo (USP), mostram que a principal motivação para a presença era a defesa do impeachment de ministros do STF (29%), seguida pelo endosso à liberdade de expressão (28%) e pela autorização para uma ação do presidente na direção de uma ruptura institucional (24%). Dos presentes, 88% responderam que votaram em Bolsonaro no primeiro turno da eleição de 2018.
— É a base consolidada do bolsonarismo. Os votos do primeiro turno mostram isso. As pessoas que vão às mobilizações de rua, independentemente se são de apoio ou contra o presidente, são um público mais velho, mais escolarizado e mais rico — diz Ortellado.
Assim como os constantes ataques do presidente ao Judiciário foram apontados como um dos motivos de apoio dos manifestantes, a defesa da liberdade de expressão apareceu entre as respostas mais citadas. Anteontem, Bolsonaro editou uma Medida Provisória que dificulta o trabalho de monitoramento da disseminação de discurso de ódio, fake news e conteúdo impróprio nas redes sociais.
Outros dois temas levantados pelo presidente e seus apoiadores nos últimos meses apareceram entre os motivos de apoio: 13% afirmaram que foram às ruas em defesa do voto impresso — proposta rejeitada pela Câmara dos Deputados — e 5% se disseram favoráveis a uma intervenção militar para “moderar” o conflito entre os Poderes. O STF já reiterou que a Constituição não prevê a atuação das Forças Armadas como um Poder Moderador.
Também na mira de críticas de Bolsonaro, esquerda (17%), imprensa (15%), Congresso Nacional (3%), governadores (1%) e CPI da Covid (menos de 1%) foram citados na condição de principais adversários do presidente.
Os dados mostram ainda a adesão a outros elementos do discurso de Bolsonaro, como a contraposição a governadores e prefeitos e os ataques às medidas de distanciamento social para conter a disseminação do coronavírus. Entre os presentes, 87% consideraram inadequado o fechamento do comércio, 84% se disseram contra a imposição de restrições a quem não tomou a vacina, como não poder entrar em restaurantes ou eventos, e 53% afirmaram ser contra o uso obrigatório de máscaras — 41% se disseram a favor, enquanto 49% não usavam o acessório no momento em que foram entrevistados.
Os manifestantes também foram questionados sobre a orientação ideológica. A maioria respondeu ser de direita (77%), enquanto 16% afirmaram não se enquadrar na definição de direita, esquerda ou centro. Os seguidores de Bolsonaro se identificam, em sua maioria , como conservadores em temas como família, drogas e punição a criminosos: 65% se dizem muito conservadores e outros 30%, pouco.
A pesquisa mostrou ainda que 27% dos manifestantes que estiveram na Avenida Paulista moram fora da Região Metropolitana de São Paulo, indicando a realização de caravanas para o ato.
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