Filho de Bolsonaro não trabalha na CPI
Foto: Arte/Metrópoles
Após assumir como membro suplente da CPI da Covid-19, há um mês, o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ) registrou presença em apenas três das 15 sessões que a comissão realizou no período. O filho “01” do presidente participou ativamente, com intervenções, em apenas uma das audiências: a do depoimento do líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR).
O desempenho do filho do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) no colegiado só não é mais discreto que o do senador Jader Barbalho (MDB-PA), também suplente. Pai do governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), o parlamentar só registrou presença em seis sessões.
Ao todo, a CPI realizou 52 reuniões – entre sessões deliberativas e oitivas – de 27 de abril até a última sexta-feira (3/9).
Levantamento do Metrópoles, com base nos registros de presença e nas notas taquigráficas de todas as reuniões já realizadas pelo colegiado, aponta que Flávio Bolsonaro teve maior participação na comissão quando ainda não ocupava a cadeira de suplente.
O senador fluminense herdou a vaga em um acordo, quando Luis Carlos Heinze (PP-RS) foi promovido a titular da CPI com a saída de Ciro Nogueira (PP-PI) para ocupar a chefia da Casa Civil.
A incorporação do parlamentar ao colegiado à época visava sanar a queixa recorrente de que os governistas não estavam conseguindo segurar o “G7”, grupo formado por senadores independentes e da oposição.
Enquanto não era membro da comissão, o senador do Patriota esteve em 10 sessões. Na prática, significa que houve uma redução de 70% de assiduidade do filho 01 do presidente, no comparativo entre sua participação antes e depois de integrar a composição da CPI.
As participações de Flávio, em sua maioria, estão longe de serem discretas e levaram o senador a ser pivô de acaloradas discussões, em especial envolvendo o relator do colegiado, Renan Calheiros (MDB-AL).
O embate começou logo na primeira reunião da comissão, quando Flávio pediu a fala para defender que Calheiros não fosse conduzido à relatoria. Na ocasião, alegou que, por ter envolvimento com possível investigado, o senador alagoano não faria um trabalho investigativo isento.
À época, a base governista na CPI defendia que a comissão ampliasse o escopo investigativo para incluir estados e municípios no radar. Calheiros é pai do governador de Alagoas, Renan Filho (MDB).
“O senhor [Calheiros] será, sim, parcial, preocupado com o que pode acontecer no estado de Alagoas. É óbvio que será. E, a partir do momento em que esta CPI escolher o presidente e o relator, haverá questionamentos judiciais sem dúvida alguma, porque, no caso do senhor, é flagrante”, disse Flávio Bolsonaro a Calheiros em 27 de abril.
Na mesma sessão, o senador criticou o presidente do Senado Federal, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), por ter instalado a CPI da Covid, cumprido ordem do Supremo Tribunal Federal (STF). Flávio Bolsonaro chamou Pacheco de “irresponsável” e alegou “risco sanitário” na realização das sessões da comissão. “Por que não esperar todo mundo se vacinar e fazer com responsabilidade esses trabalhos?”, reclamou.
A rixa com Calheiros não ficou só no discurso. Em 15 de julho, o filho de Bolsonaro acionou o Conselho de Ética do Senado contra o emedebista, alegando que o relator cometeu “abuso de autoridade” durante os trabalhos do colegiado e que ele teria postura “dissociada da ética e dos deveres parlamentares”.
Desde o início da comissão, Flávio passou a atuar, especialmente, durante os depoimentos de ex-membros e integrantes do governo, chefiado por seu pai. A segunda participação do senador na comissão ocorreu durante oitiva do ex-chefe da Secretaria Especial de Comunicação Social Fábio Wajngarten.
Ameaçado de prisão pela cúpula da CPI, o publicitário foi enfaticamente defendido pelo filho do presidente, que chegou a chamar o relator de “vagabundo”. “Imagina a situação: um cidadão honesto ser preso por um vagabundo como Renan Calheiros. Olha a desmoralização!”, afirmou, na ocasião.
Após sair em defesa de Wajngarten, Flávio Bolsonaro também participou das reuniões destinadas a ouvir os ex-ministros Eduardo Pazuello (Saúde) e Ernesto de Araújo (Relações Exteriores). Ele esteve presente na oitiva com o atual ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, e com a secretária da pasta Mayra Pinheiro.
Esteve, ainda, na sessão com os irmãos Miranda, apenas para se defender das acusações levantadas por senadores da oposição de que teria atuado nos bastidores para facilitar a adesão da Precisa Medicamentos junto ao BNDES.
Outro episódio marcante da presença de Flávio Bolsonaro na CPI ocorreu no curto depoimento do ex-governador do Rio Wilson Witzel (PSC), que passou de aliado a desafeto do parlamentar. Na época, ele ainda não era membro efetivo e foi ao colegiado para questionar Witzel e, em uma das interrupções, o ex-governador disparou: “Se o senhor fosse um pouquinho mais educado e menos mimado, o senhor teria respeito pelo que eu estou falando”.
Apesar de ter registrado presença em três sessões, enquanto membro, o filho do presidente só participou de fato do tumultuado depoimento de Barros, ocorrido em 12 de agosto, em que houve bate-boca e a sessão foi suspensa e finalizada antes que os senadores fizessem todas as perguntas.
Barros criticou a CPI e foi repreendido pelo presidente do colegiado, Omar Aziz (PSD-AM), ao que Flávio saiu em defesa do deputado. “Respeito é via de mão dupla”, disse. Em outro momento, em meio ao tumulto, o vice-presidente Randolfe Rodrigues (Rede-AP) reclamou das interrupções do líder do governo e o filho do presidente rebateu: “É um ditadorzinho mesmo, não é?”.
Esta sessão da comissão, inclusive, foi a última que o senador do Patriota participou.
Apesar de registrar presença em seis sessões, Jader Barbalho nunca falou no colegiado. No entanto, registrou presença em duas sessões deliberativas para votar contra a base governista.
Barbalho não marcou presença tampouco se pronunciou na sessão de abertura dos trabalhos. A primeira participação dele só ocorreu na 21ª reunião, em 16 de junho. Tratava-se de deliberativa para aprovação de requerimentos.
No dia, ele votou contra a convocação de Carlos Gabas, secretário-executivo do Consórcio Nordeste e ex-ministro do governo PT. Gabas é alvo dos governistas da CPI, que tentam desviar o foco das investigações do governo federal para apurações de irregularidades em gestões estaduais e municipais em relação à pandemia. Ele é suspeito de ter, em nome do Consórcio Nordeste, realizado compra de ventiladores clínicos ofertados pela Hempcare, que nunca entregou os equipamentos. O voto de Barbalho foi determinante para frear a investida bolsonarista do colegiado.
O segundo registro de participação do emedebista foi em 23 de junho, também em deliberativa. O senador votou a favor de requerimento, do senador Humberto Costa (PT-PE), solicitando abertura de auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU) a respeito de “motociata” promovida por Bolsonaro em São Paulo.
A última aparição de Barbalho foi na 27ª reunião da CPI, em 25 de junho, destinada a ouvir os irmãos Miranda. Ele, no entanto, não se manifestou no dia.
A assessoria de Barbalho disse que os três titulares do bloco – Calheiros, Heinze e Eduardo Braga (MDB-AM) – são assíduos e, portanto, “não houve ainda a necessidade” dele participar.
O Metrópoles também procurou a assessoria de Flávio Bolsonaro, que não se manifestou até a publicação desta reportagem.
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