Militância bolsonarista está perplexa e paralisada

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Foto: PAULO LOPES / AFP

O recuo do presidente Jair Bolsonaro dois dias após atingir o ápice da radicalização desorientou a militância, gerou ironias de adversários e reações, espalhadas no meio político, entre a esperança de uma pacificação real e a prudência de quem já viu o chefe do Executivo desistir de outros acenos de moderação.

Na frase mais simbólica emanada da ala radical, a deputada Carla Zambelli (PSL-SP) rememorou, na tribuna da Câmara, outro episódio que provocou desânimo entre bolsonaristas:

—A princípio, eu vou dizer que fiquei até um pouco frustrada. Frustrada da mesma forma da época em que o (Sergio Moro) pediu demissão (do Ministério da Justiçae Segurança Pública).

Boa parte do governo, incluindo o primeiro escalão, só soube da declaração do presidente no momento da divulgação. Integrantes criticaram o modo como o texto foi elaborado e apontaram falta de personalidade de Bolsonaro. Nas redes sociais, muitos aliados optaram pelo silêncio —análise da consultoria Arquimedes sobre 95 mil tuítes após a publicação vir à tona mostra que 85% partiram da oposição —, mas aqueles que se pronunciaram fizeram questão de exibir a insatisfação.

“Continuo aliado, mas não alienado. Bolsonaro pode colocar a nota que quiser. Alexandre de Moraes continua a ser um ditador da toga que resgou a Constituição e prendeu gente inocente. Minhas convicções são inegociáveis”, escreveu o pastor Silas Malafaia, que mobilizou a participação de manifestantes nos atos de 7 de setembro.

Outro apoiador ferrenho de Bolsonaro, o blogueiro Allan dos Santos, do site Terça Livre, disse que a nota de Bolsonaro foi “horrorosa” e uma “confissão de bravata”. No texto, o presidente, entre outros acenos, disse que os ataques contra o Supremo Tribunal Federal (STF) desferidos na terça-feira “decorreram do calor do momento”.

“Nunca tive nenhuma intenção de agredir quaisquer dos Poderes. A harmonia entre eles não é vontade minha, mas determinação constitucional que todos, sem exceção, devem respeitar”, completa a nota.

Agora, o Palácio do Planalto espera que o ministro do STF Alexandre de Moraes, também faça um gesto pela pacificação. Antes da divulgação do texto, Bolsonaro chegou a conversar por telefone com Moraes, em uma ligação intermediada pelo ex-presidente Michel Temer.

— O bolsonarismo ficou perdido. Não sabem como reagir à nota. O silêncio indica que aguardam alguma orientação para saber qual tom adotarão. Ainda assim, alguns perfis já se manifestaram em tom de desilusão e até revolta — destaca Pedro Bruzzi, da Arquimedes.

Em gestos com o intuito de estimular a tentativa de reposicionamento de Bolsonaro, os presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), e da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), reforçaram a defesa da harmonia entre os Poderes. Em tom mais cauteloso, Pacheco disse que a nova manifestação do presidente está alinhada ao que a maioria da população deseja e ressaltou que o Brasil precisa da obediência à Constituição.

“A declaração à nação do presidente Jair Bolsonaro, afirmando inclusive que a ‘harmonia entre os Poderes é uma determinação constitucional que todos, sem exceção, devem respeitar’, vai ao encontro do que a maioria dos brasileiros espera”, escreveu Pacheco, em suas redes sociais. “Respeito entre os Poderes, obediência à Constituição e compromisso de trabalho árduo em favor do desenvolvimento do país. É disso que o Brasil precisa e que vamos continuar defendendo”, acrescentou o presidente do Senado.

Já Lira, que é aliado de Bolsonaro, disse que ele “serena os ânimos” com a declaração e afirmou esperar que essa seja uma oportunidade de recomeço na relação entre as instituições.

— De uma certa forma, eu não sei o que levou cada um às ruas, mas o presidente acertadamente serena os ânimos, recomeça o movimento em direção aos poderes porque o país é maior que qualquer uma instituição — declarou Lira ao apresentador José Luiz Datena — Não é momento para desarranjos institucionais e briga entre Poderes.

“Leão virou rato”

Entre opositores, no entanto, o tom foi bem menos cordial. O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), afirmou que o “leão virou um rato”. Já o deputado Rodrigo Maia (sem partido-RJ), ex-presidente da Câmara, disse que os atos representaram um “desastre” para Bolsonaro e que a divulgação da nota significava uma “humilhação”.

O Globo

 

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