Movimento antivacina tem desempenho pífio no Brasil

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Foto: Arthur Menescal/Especial Metrópoles

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) costuma dizer que “não errou nada” na pandemia. No caso da previsão sobre a vacinação no Brasil, porém, errou por muito: em janeiro deste ano, fez a previsão de que “menos da metade” da população iria escolher tomar a vacina contra a Covid-19. O que as pesquisas indicam – e a disposição dos brasileiros em enfrentar horas de fila e até viajar para outros estados para buscar as doses confirma – é que o Brasil tem um dos maiores índices de aceitação da vacina no mundo.

O movimento antivacinação existe no Brasil e causa problemas à estratégia nacional de imunização, mas seus efeitos não se comparam aos estragos que o negacionismo gera nas nações mais ricas, que têm vacinas à disposição e mesmo assim uma parcela relevante da população vem recusando se proteger contra a Covid-19.

Um dos casos mais emblemáticos é o dos Estados Unidos, que começaram a vacinar ainda em 2020, com 56% da população totalmente imunizada. No país, a recusa vacinal tem forte componente político-ideológico, sobretudo em estados de maioria republicana. Há duas semanas, o presidente americano, Joe Biden, acusou governadores, como Greg Abbott, do Texas, e Ron DeSantis, da Flórida, de atrapalharem a luta contra a Covid, que já matou mais de 660 mil pessoas nos EUA.

“Proponho uma exigência para as vacinas, e os governadores chamam isso de movimento do tipo tirânico?”, reclamou Biden. “Esse é o pior tipo de política, e me recuso a ceder”, completou.

Outros países desenvolvidos enfrentam protestos de rua e até vandalismo contra postos de vacinação e ameaças a profissionais de saúde. A cidade de Melbourne, na Austrália, registrou violentos atos contra a vacinação obrigatória nas últimas semanas, com confrontos com a polícia que resultaram em 200 prisões num único dia.

Na Itália, autoridades deflagraram uma operação no início do mês, nas principais cidades do país, contra radicais que planejavam, em grupos no aplicativo Telegram, atos violentos, inclusive com armas, em manifestações antivacina. Na província canadense de Quebec, a assembleia precisou votar uma lei proibindo a realização de protestos antivacina a menos de 50 metros de hospitais, escolas e postos de vacinação – que estavam tendo o funcionamento prejudicado por militantes mais radicalizados.

Na França, onde também ocorrem manifestações de rua contra passaportes da vacina, pesquisa realizada em agosto apurou que 24% da população não pretendia se vacinar, mesma porcentagem da Austrália.

A situação no Brasil é bem mais positiva do ponto de vista da vontade de se imunizar. Um estudo com 173 mil pessoas conduzido pela Fundação Oswaldo Cruz e divulgado na última semana mostrou que nove em cada 10 brasileiros já tomaram vacina contra a Covid-19 ou pretendem se imunizar.

Entre os 10,5% que se mostraram “hesitantes”, 6,7% até tomariam a vacina, dependendo da marca; 2,5% não tomariam de jeito nenhum; e 1,3% estava em dúvida

Para a coordenadora do estudo, Daniella Moore, muitos dos resistentes têm medo das reações adversas, efeito que poderia ser amenizado por campanhas de esclarecimento para mostrar que essas reações são normais.

Ainda de acordo com a pesquisadora, que foi ouvida pela Agência Brasil, a maioria das pessoas consideradas hesitantes tem baixa renda e baixa escolaridade.

O movimento antivacina brasileiro tem aliados de peso, como o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que não se vacinou e questiona seguidamente a segurança e a eficácia dos imunizantes. Influenciadores próximos ao mandatário da República, com milhões de seguidores, também apoiam o negacionismo, agora travestido de resistência aos chamados passaportes da vacina.

A efetividade da influência deles, ao menos nesse assunto, porém, tem se mostrado restrita. A vacinação já é exigência para o ingresso em ambientes públicos em mais de 200 cidades, e, além do índice de brasileiros que dizem querer a proteção contra o vírus ser elevado, os negacionistas têm falhado em mobilizar gente na rua pela causa.

Nas manifestações bolsonaristas do último dia 7 de setembro, por exemplo, não faltaram pedidos antidemocráticos contra os poderes Judiciário e Legislativo, e as iniciativas antivacina ficaram restritas a casos anedóticos, como o da youtuber “transvacinada”.

O desinteresse dos brasileiros em se mobilizar contra a imunização é lamentado por influenciadores, como o do print abaixo. Paulo Eneas é editor do site governista Crítica Nacional, ambiente em que o negacionismo floresceu ao longo da pandemia.

O médico sanitarista Gonzalo Vecina, fundador da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), acredita que o sucesso histórico do Brasil em campanhas de vacinação criou uma cultura de imunização na população. “Esse movimento [antivacina] conseguiu alguma projeção nos últimos anos, e houve um aumento no esforço de desinformação na pandemia, mas o Brasil distribui 300 milhões de doses das mais diversas vacinas todos os anos, e há um elevado nível de confiança”, afirma.

“Essa confiança está presente também em relação às vacinas contra a Covid, apesar dos problemas no processo de compra, distribuição e conscientização por parte do governo brasileiro”, complementa o profissional.

Para Vecina, outra explicação para esse feliz fracasso do movimento antivacina no Brasil é a ausência de um lobby bem financiado, como ocorre nos EUA.

A campanha começou na segunda quinzena de janeiro deste ano, depois da Europa, dos EUA e do Canadá, por exemplo, e sofreu com lentidão e interrupções, mas pegou ritmo e avança firmemente.

Hoje, segundo números apurados pelo consórcio de imprensa nos dados oficiais, 69,9% da população total tomou ao menos uma dose e 41% dos brasileiros estão totalmente vacinados.

Metrópoles

 

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