Rejeição total a Bolsonaro é cinco vezes maior que aprovação total
Foto: Reprodução
O presidente Jair Bolsonaro testa não só os limites da democracia como também a paciência dos brasileiros. E pelos dados do Datafolha divulgados nesta quinta-feira (16), a opinião pública reproduz a dinâmica das instituições do país —emite, na maior parte dos casos, avaliações críticas ao presidente, mas mantém-se inerte, em distância segura.
Diante da técnica do morde e assopra que permeia a crise entre os Poderes, a população assiste às ameaças na espera de quem pisca primeiro. As oscilações dentro da margem de erro desenham um cenário parecido com o da pesquisa anterior, realizada em julho, mas preenchem com mais algumas gotas um copo que ainda se mostra pela metade: meio cheio, meio vazio, dependendo do referencial.
A perspectiva negativa, sob a ótica do governo, está no diagnóstico geral —Bolsonaro alcança recorde de impopularidade, a maioria dos eleitores quer seu impeachment e o rejeita como candidato para 2022, uma disputa ainda liderada com folga por Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Além disso, defendem a democracia e enxergam alguma ameaça nos arroubos autoritários do presidente.
A tendência negativa da curva de avaliação de seu mandato mantém-se. O colapso do sistema de saúde, o número expressivo de mortes na pandemia, auxílio emergencial insuficiente, inflação e as denúncias envolvendo o governo na CPI da Covid fizeram a imagem de Bolsonaro derreter em todos os segmentos da população no decorrer deste ano.
Comparando-se com dezembro do ano passado, o crescimento na reprovação ao presidente totaliza agora 21 pontos percentuais e a queda nas taxas de ótimo ou bom soma 15 pontos em período equivalente.
Para quem ficou surpreso com o número de manifestantes pelas ruas do país no último 7 de Setembro, vale o alerta: o índice de eleitores que querem seu impeachment e dos que o rejeitam como candidato à reeleição é cerca de cinco vezes maior do que o de bolsonaristas fiéis.
Pela segmentação de escala elaborada pelo Datafolha, que considera variáveis como voto declarado, confiança e avaliação, esse estrato corresponde hoje a 11% dos brasileiros (já foi 17%).
É um subconjunto que carece de representatividade social. São na maioria homens, com idade e renda acima da média da população. Também há maior participação dos que se autoclassificam brancos e evangélicos. Para a maioria dos 89% restantes, as manifestações desse pequeno grupo tanto nas ruas quanto em redes sociais configuram ameaça à democracia brasileira.
Já na perspectiva positiva para o governo, alguns detalhes da pesquisa podem trazer otimismo para Bolsonaro.
Mesmo com suas bravatas autoritárias, a intensidade do crescimento de reprovação à sua gestão foi um terço da verificada entre maio e julho, quando aumentou seis pontos percentuais —agora oscila dois. Isso porque boa parte dos entrevistados relativiza as chances de um golpe promovido pelo presidente.
O que poderia ser um recorde ainda mais expressivo de impopularidade foi freado por avanço da vacinação, crescente percepção de controle da pandemia, flexibilização e o arrefecimento de novas denúncias na CPI da Covid. Depois de tantas polêmicas, ele poderia até comemorar o fato de não ser considerado ruim ou péssimo por 47% dos brasileiros.
O índice dos que querem o impeachment do atual ocupante do cargo, apesar de majoritário, é menor do que o dos ex-presidentes impedidos, Dilma Rousseff (PT) e especialmente Fernando Collor (então no PRN).
Em alguns segmentos, uma aparente resiliência fica mais clara, como por exemplo entre os de maior renda. É um grupo estratégico para Bolsonaro, o primeiro a despertar para o então candidato do PSL nas eleições de 2018 e que foi abandonando o barco diante de sua fraca gestão na crise sanitária.
Na pesquisa atual, é o único estrato onde se observa refluxo importante (12 pontos percentuais) nas taxas de reprovação ao governo. Além disso, apesar de ser um conjunto que declara apreço pela democracia, avalia mal o STF (Supremo Tribunal Federal) e é o que menos vê chances de um golpe protagonizado pelo presidente.
Há de se aguardar novos levantamentos para confirmar se os mais ricos anteciparão ou não movimentos que poderiam se espalhar por outros conjuntos, como aconteceu há quatro anos.
Nesse sentido, a economia torna-se vetor essencial. A maioria dos entrevistados ainda não atribui a Bolsonaro responsabilidade total pelo desemprego, pela inflação e pela crise energética. No entanto, entre os que o rejeitam como candidato, o índice dos que têm renda de até dois salários mínimos é maior em 4 pontos percentuais, o que garante recall positivo de Lula e eventual espaço para uma terceira via.
Para Bolsonaro, que já teve o apoio de boa parcela desse segmento quando pagou o auxílio emergencial do ano passado, resta esclarecer como incrementará valor e alcance do Bolsa Família, ou Auxílio Brasil, política fundamental para tentar reverter sua rejeição.
O Datafolha acompanhará, como faz há quase 40 anos, a história de mais esse episódio da democracia brasileira. Mas pode deixar de contar os últimos capítulos.
Mudanças no código eleitoral, já aprovadas na Câmara e que impedem os institutos de divulgarem pesquisas na véspera da eleição, privarão vossa excelência, o (e)leitor, de informações legítimas e úteis para a definição do voto. Mais ou menos como obrigar-se a tomar de um copo no escuro, sem saber o que ele traz e se está mais cheio ou vazio.
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