Transportadoras e produtores de soja aderiram a atos bolsonaristas

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Foto: Mariana Carneiro

Jair Bolsonaro já tinha deixado a Esplanada dos Ministérios, no fim da manhã da terça-feira, mas um caminhão estampado com um adesivo da bandeira do Brasil ainda atraía a atenção de alguns manifestantes. Faziam fila para subir na parte de trás do veículo, que havia se tornado um ponto para selfies. Um deles escalou a cabine do caminhão para fazer um video lá de cima gritando “mito” e “é Bolsonaro, porra”.

Em outro ponto, uma mulher loira vestida com a camisa 10 do Brasil e boné fazia pose montada numa moto, colocada estrategicamente nos fundos de um caminhão graneleiro. O cartaz preso ao veículo dizia “Os produtores rurais de Santa Juliana-MG apoiam este movimento”, e o logotipo do Sindicato Rural da cidade de 15.000 habitantes que fica a pouco mais de 500 km de Brasília.

No protesto contra o Supremo e pró-Bolsonaro na capital federal, era a grande quantidade de caminhões que fazia a diferença, mais do que o número de manifestantes.

Embora não haja estimativas oficiais de veículos na capital federal e no entorno, só numa foto aérea é possível contar 40 espalhados pela Esplanada dos Ministérios. Colocados diante do carro de som lado a lado, alguns deles formavam uma parede delimitando o espaço da multidão que ouvia Bolsonaro falar.

Assim distribuídos, aumentavam o volume do protesto. Boa parte trazia o logotipo de empresas como a grande produtora de soja e sementes Agrofava, ou da Formosa Logística, que também servem ao agronegócio, mas que nesta terça-feira sustentavam bandeiras do Brasil e uma placa em inglês que pedia a remoção imediata dos ministros do STF.

Para o líder caminhoneiro Wallace Landim, conhecido como Chorão, que era contra a participação da categoria no protesto, tamanho comparecimento indica um movimento orquestrado.

“Com certeza tem investimento por trás. Sabemos que o custo é muito alto para manter (os caminhões em Brasília)”, afirma Chorão. Considerando que até ontem os caminhoneiros prometiam ficar em Brasília até sexta-feira, o custo é ainda mais alto.

Presidente da Associação Brasileira de Condutores de Veículos Automotores (Abrava), ele se opôs ao envolvimento dos caminhoneiros nos atos atos do 7 de setembro por achar que os motoristas deveriam se concentrar em suas próprias pautas, e não se envolver na guerra do presidente contra o STF.

Não é o que pensa Roberto Mira, dono da Mira Transportes e vice-presidente de Segurança da NTC & Logística, entidade que compreende 60% da frota do país. Mira nega ter fornecido caminhões da transportadora para o movimento, mas conta ter encorajado a participação de seus motoristas autônomos nos protestos.

“Caminhão vazio que quisesse participar podia ficar à vontade, é dever patriótico”, disse o empresário. “Eu tenho caminhões em Brasília, e gente que trabalha para mim e que avisou que não ia trabalhar”.

Outra decisão de Mira que reforçou a mobilização bolsonarista foi a de retirar os caminhões das estradas no feriado, o que liberou os motoristas autônomos para engrossarem o movimento.

“Os caminhoneiros estão falando em 72 horas. São apenas três dias. Não vai acontecer nada (na cadeia de logística). É o prazo do governo vai ter que chegar e falar ‘ou é 2, ou é 10’. Ou põe os dois tranqueiras (os ministros do STF Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso) na rua ou bota os 10 (ministros) de uma vez”, afirma Mira, claramente engajado no discurso bolsonarista.

Além das transportadoras, presença de caminhões ligados ao agronegócio na Esplanada demonstrou que, apesar do racha no setor – uma carta assinada por entidades exportadoras defenderam o respeito à democracia – o agro ainda permanece bastante ligado a Jair Bolsonaro.

Muitos caminhões levavam um adesivo do Movimento Brasil Verde-Amarelo. O grupo é o mesmo que organizou, em maio, uma marcha em favor do voto impresso e na qual Bolsonaro apareceu montado a cavalo.

O movimento é patrocinado por produtores rurais como a gigante Aprosoja, entidade que reúne produtores do Centro-Oeste e de outras regiões do país. Seu presidente é Antônio Galván, investigado em inquérito que investiga o financiamento a atos antidemocráticos.

Um dos fundadores do movimento, José Alípio Silveira, que produz soja no oeste baiano, contou em uma entrevista em agosto que o movimento nasceu da articulação contra o Funrural, que cobrou dívidas com a Previdência de grandes agropecuários que simplesmente não recolhiam contribuição alguma.

Uma decisão do Supremo Tribunal Federal em 2017 selou a derrota desses produtores, e o Supremo autorizou a União a cobrar pela contribuição devida.

A partir da eleição de Bolsonaro, o grupo passou a dar “apoio incondicional” às pautas do presidente: primeiro a reforma da Previdência, depois o pacote anticrime de Sergio Moro e, neste ano, o voto impresso.

Para o feriado do dia 7 em Brasília Silveira afirmou que o grupo iria bancar parte da estrutura de apoio aos visitantes que chegariam de ônibus à capital. O grande número de caminhões com o logo do movimento de Silveira mostra que, se Bolsonaro vê ruir o apoio que tinha na elite econômica, o casamento com caminhoneiros, empresas de transporte e ruralistas segue firme.

O Globo

 

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