Bolsonaro já fala sobre sair do governo

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Foto: Wilson Dias/Agência Brasil

Dois dias após sair em defesa do ministro da Economia, Paulo Guedes, o presidente Jair Bolsonaro reservou a manhã de ontem para reiterar o apoio ao auxiliar. Guedes se tornou alvo de críticas de economistas e da classe política após a decisão do governo de furar o teto de gastos para garantir o benefício do futuro Auxílio Brasil no valor de R$ 400.

Bolsonaro aproveitou a oportunidade para negar, mais uma vez, que Guedes esteja de saída da pasta. “A gente vai sair juntos [do governo], pode ter certeza disso”, disse o presidente durante entrevista coletiva, que se estendeu por quase meia hora, na saída de um evento de criadores de pássaros, na Granja do Torto.

Ao lado de Bolsonaro, Guedes defendeu as alterações no teto de gastos, reafirmou o compromisso com o controle das contas públicas, atacou os críticos e aproveitou para fazer cobranças enfáticas ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG).

Nos bastidores, segundo fontes do governo, Guedes está inconformado com a lentidão da reforma do Imposto de Renda no Senado, que não tem previsão de data para ser votada na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE).

Guedes tem reiterado que a fonte de financiamento do Auxílio Brasil é a reforma da tributação sobre a renda. Se o Senado tivesse aprovado a proposta, a regra do teto seguiria incólume.

Em recado a Rodrigo Pacheco, Guedes cobrou o Senado pela demora na análise da reforma do IR. “Precisa avançar com as reformas para defender a própria candidatura”, provocou o ministro. A participação de Pacheco em evento do PSD no Rio, sábado, ao lado do prefeito da capital, Eduardo Paes (PSD), foi interpretada pela classe política como lançamento da pré-candidatura do mineiro à Presidência.

Guedes disse que Bolsonaro “não é populista”, mas “popular”, e que seria mais fácil decretar Estado de calamidade e criar um novo “orçamento de guerra” para ampliar o auxílio. “A reformulação do teto é tecnicamente correta, mas é evidente que vão falar que é oportunismo.”

Guedes também atacou economistas que criticaram o rompimento do teto, com destaque para o seu antecessor, Henrique Meirelles, responsável pela criação da âncora fiscal, durante o governo Michel Temer, e hoje secretário da Fazenda do governo João Doria (PSDB), em São Paulo.

O titular da Economia ainda atacou nominalmente os economistas Mailson da Nóbrega, que foi ministro da Fazenda no governo José Sarney, e Afonso Celso Pastore, que foi presidente do Banco Central durante o governo João Figueiredo, dois nomes que criticaram o estouro do teto na semana passada.

O ministro ressaltou ter recebido informações da Receita Federal de que o país está em recorde de arrecadação, e projetou um crescimento superior a 5% para o PIB deste ano. “Essa história que o Brasil não vai crescer é narrativa política”, minimizou.

Sobre a Petrobras, Guedes disse que a estatal pode render até R$ 150 bilhões com a ida ao Novo Mercado da bolsa de valores, o que significaria, entre outras coisas, restringir o capital a apenas uma classe de acionistas.

“Houve muita roubalheira na Petrobras e, ao mesmo tempo, o preço (das ações) não para de subir. Se formos pro Novo Mercado, criamos entre R$ 100 bilhões e R$ 150 bilhões de riqueza. Temos ferramenta, o importante é manter as reformas”, defendeu.

Bolsonaro aproveitou a deixa sobre a Petrobras para anunciar um novo reajuste dos combustíveis. Ele garantiu que não irá interferir na política de preços da estatal: “A gente não vai interferir no preço de nada. Já fizeram isso no passado e não deu certo”.

Por conta disso, prosseguiu Bolsonaro, o governo está trabalhando para viabilizar um auxílio aos caminhoneiros, no valor de R$ 400 mensais. “Sabemos que é pouco, e será feito no limite da reponsabilidade fiscal”, complementou.

O presidente ainda cobrou o julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a ação na qual pede a fixação de um valor único da alíquota de ICMS que incide sobre os combustíveis. “A forma de se calcular o ICMS é injusta; lamento a demora do Supremo”, concluiu.

Valor Econômico

 

 

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