Delegado que investiga filho de Bolsonaro é afastado

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Foto: Diretoria Regional ADPF/São Paulo

O diretor-geral da Polícia Federal, Paulo Maiurino, decidiu substituir o delegado Hugo de Barros Correia do cargo de superintendente do órgão no Distrito Federal. É a superintendência do DF a responsável por dois dos principais inquéritos que hoje preocupam o presidente Jair Bolsonaro: o inquérito das fake news, que mira em aliados do presidente, e o que tem como alvo suposta prática de tráfico de influência envolvendo o filho “04”, Jair Renan. Como superintendente, Correia não tocava tais investigações, mas coordenava o núcleo que apura os casos.

O Estadão apurou que o delegado foi informado da “demissão” ontem à noite, por telefone, sem maiores explicações. Correia mal completou cinco meses no cargo – foi alçado à chefia da unidade da PF no Distrito Federal em maio, no início da gestão de Maiurino. Para o lugar de Correia, Maiurino deve indicar um delegado do Rio de Janeiro, reduto da família Bolsonaro. O nome mais cotado é o de Victor César, que atua na superintendência fluminense.

Segundo o Estadão apurou, os incômodos que levaram ao afastamento do superintendente do DF estão ligados à comunicação sobre ações da Polícia Federal. Essa era uma queixa antiga do presidente Jair Bolsonaro. Na reunião ministerial de 22 de abril de 2020, quando ameaçou de demissão o então ministro da Justiça, Sérgio Moro, e o então diretor-geral da PF, Maurício Valeixo, Bolsonaro afirmou: “não posso ser surpreendido com notícias. Pô, eu tenho a PF que não me dá informações”.

Na mesma reunião, cuja gravação foi revelada no inquérito sobre suposta tentativa de interferência política do presidente na Polícia Federal, Bolsonaro também afirmou: “Não vou esperar f*der a minha família toda de sacanagem, ou amigos meus, porque não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha que pertence à estrutura nossa. Vai trocar.

No inquérito das fake news, que tem como relator o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, e delegada responsável Denisse Dias – da Superintendência Regional do DF -, algumas operações chegaram ao conhecimento de Maiurino pouco antes da deflagração. Foi exatamente o que aconteceu nesta quinta-feira, 7.

Maiurino só soube de última hora que a Polícia Federal faria busca e apreensão em endereço ligado a uma ex-estagiária do ministro Ricardo Lewandowski, do STF, que seria uma informante do blogueiro bolsonarista Allan dos Santos. Foi a gota d’água, segundo fontes da PF ouvidas pela reportagem.

A troca ocorre no momento em que a investigação que tem Jair Renan está bem avançada. A apuração envolvendo o filho ’04’ de Bolsonaro foi aberta em março e mira supostos crimes de crimes de tráfico de influência e lavagem de dinheiro praticados por um grupo empresarial do setor de mineração e Jair Renan. A proximidade entre o filho do presidente e outras companhias em outras ocasiões despertaram a atenção não só da PF e do Ministério Público Federal, mas também da CPI da Covid. Documentos obtidos pelo colegiado mostram que Jair Renan recorreu a ajuda de um lobista para abrir sua empresa privada em Brasília.

Uma outra investigação tocada pela superintendência é relacionada ao inquérito administrativo aberto no âmbito do TSE para apurar ataques ao sistema eleitoral e crimes abuso de poder econômico e político, uso indevido dos meios de comunicação social, corrupção, fraude, condutas vedadas a agentes públicos. O caso foi aberto depois da live em que o presidente Jair Bolsonaro lançou uma série de informações falsas sobre as urnas eletrônicas.

Foi no âmbito dessa apuração que a PF no Distrito Federal sugeriu ao TSE a ideia de barrar a monetização de canais com conteúdo político, o que atingiu aliados do presidente. “A prática visa, mais do que uma ferramenta de uso político-ideológico, um meio para obtenção de lucro, a partir de sistemas de monetização oferecidos pelas plataformas de redes sociais. Transforma rapidamente ideologia em mercadoria, levando os disseminadores a estimular a polarização e o acirramento do debate para manter o fluxo de dinheiro pelo número de visualizações”, diz a PF em um relatório enviado ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

A PF no Distrito Federal é ainda a responsável pela Operação Pés de Barro, que investiga supostas fraudes na aquisição de medicamentos de alto custo pelo Ministério da Saúde, entre maio 2016 e abril de 2018, período em que a pasta teve como chefe o atual líder do governo na Câmara dos Deputados, Ricardo Barros (Progressistas-PR), no governo Michel Temer. Dois ex-diretores do Departamento de Logística (DLOG) do Ministério da Saúde empregados posteriormente no governo Jair Bolsonaro foram alvos da ofensiva, aberta no último dia 21. Um deles é o “secretário do tratoraço”

Outra investigação conduzida pela superintendência no DF que causou desconforto ao Palácio do Planalto foi a que mirou o ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles. A operação que fez buscas contra o aliado do presidente Jair Bolsonaro foi deflagrada dias após Correia assumir a chefia da superintendência. No âmbito de tal apuração – cuja fase ostensiva foi batizada como Akuanduba – a PF apontou ‘fortes indícios’ do envolvimento de Salles com um possível esquema de corrupção para exportação ilegal de madeira, além de citar ‘operações suspeitas’ envolvendo o escritório de advocacia do ex-ministro.

Estadão 

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