Dois milhões de paulistas estão sem água

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Foto: Reprodução-EPTV

Levantamento do UOL indica que, em ao menos 14 cidades do estado de São Paulo, o racionamento de água já começou. Juntas, somam 2 milhões de habitantes.

Em alguns municípios, as restrições de fornecimento não atingem toda a população. Em São José do Rio Preto, no interior paulista, o racionamento começou em maio. Cerca de 100 mil pessoas na cidade ficam sem água das 13h às 20h.

Sem chuvas há praticamente 180 dias, escolas chegaram a ser afetadas. O segundo maior colégio municipal, o Dom Luiz do Amaral Mousinho, vem sendo abastecido por caminhões-pipa.

Em outra cidade grande, Bauru, a falta de chuva agravou um problema que já é crônico. A queda acentuada no nível da lagoa de captação do rio Batalha obrigou a prefeitura a implantar um rodízio que deixa parte da população sem água por 48 horas, embora moradores já tenham relatado desabastecimento por até três dias.

Na cidade de Itu, as altas temperaturas resultaram em aumento de 50% no consumo de água. Sem previsão de chuvas até outubro, o município adotou um rodízio a partir de 5 de julho: as torneiras têm água por 24 horas, mas ficam secas pelos dois dias seguintes. “A cidade toda está nesse esquema”, informa a prefeitura.

Em Valinhos, o nível de suas barragens é crítico desde agosto, o que levou a autarquia municipal a suspender a captação nas barragens Moinho Velho, Figueiras e João Antunes.

“Temos que fazer com que os 61,3% do que temos disponível atualmente em água consigam atender aos moradores de todas as áreas da cidade”, diz o chefe do Caev (Departamento de Águas e Esgotos de Valinhos), Ivair Nunes Pereira.

O estado de São Paulo enfrenta a pior seca em 91 anos, de acordo o Serviço Nacional de Meteorologia, que em maio emitiu pela primeira vez na história um alerta de emergência hídrica para o período de junho a setembro. Ao menos três fenômenos explicam a falta de chuvas na região:

Aquecimento global, provocado pela queima de combustíveis fósseis;
Desmatamento da Amazônia, que reduz os “rios voadores”, que se formam no Norte e precipitam no Sul e Sudeste;
Fenômeno La Niña, que torna mais secos o verão e outono em São Paulo.
Desde a semana passada, Santa Cruz das Palmeiras vive um racionamento por tempo indeterminado. Todos os dias, das 7h às 17h, o fornecimento é cortado. A limpeza interna das casas com água de reúso só é permitida às quintas-feiras, enquanto quem for flagrado lavando calçadas e carros pode pagar multa de R$ 1.200.

Ao UOL, o prefeito de Mirandópolis, Everton Sodario (PSL), afirmou que as duas represas que servem a região, a de São Lourenço e Santa Helena, “secaram 100%”. O jeito é fornecer água dia sim —sempre por quatro horas no período noturno—, dia não.

“Fizemos uma operação de emergência, ativando poços artesianos particulares, injetando água na nossa rede”, conta. “Acionamos a represa dia sim, dia não e pedimos autorização para perfurar três poços artesianos.”

Na lista do UOL, a cidade de Atibaia enfrenta a situação menos preocupante. A prefeitura suspendeu o rodízio no começo da semana depois de dois dias sem água, em 25 e 26 de setembro.

A escriturária Karla Migani, 40, vive em Franca, no interior paulista, e é uma das afetadas. Ela conta que precisa encher baldes para lavar louça e usar a descarga de casa. Isso quando a região tem fornecimento de água.

“E, para beber, a gente compra água no supermercado”, diz Karla. “A água acabou ontem [29 de setembro] ao meio-dia e só voltará hoje à meia-noite.”

Franca é a única cidade paulista abastecida pela Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo).

Karla diz que “tem bairros há quatro dias sem água” e que “tem pessoas pedindo lugar para tomar banho”.

“Água virou um luxo. A minha casa continua suja depois da tempestade de areia no domingo”, conta. “A Sabesp pede para economizar água, mas não tem mais o que economizar.”

Na cidade, o rodízio, que começou no dia 2 de setembro e deveria acabar no dia 29, foi postergado até 6 de outubro. “A vazão dos mananciais de Franca não é suficiente para manter toda a cidade abastecida”, diz a Sabesp em nota.

Além de chover pouco no estado, o volume de chuvas em São Paulo ficará entre 10 milímetros e 50 mm abaixo da média histórica de setembro a novembro, podendo chegar a menos 100 mm em algumas cidades, segundo o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia).

Meteorologista do Climatempo, Pedro Regoto confirma que os níveis nas bacias não se elevaram na região desde o início da última década.

“Os níveis de todos os reservatórios vêm caindo desde a crise hídrica no verão de 2013 e 2014”, diz Regoto. “Tivemos boas chuvas no verão passado, mas não foram bem localizadas.”

O especialista é pessimista quanto ao período de chuva, iniciado na primavera e que deveria se intensificar no verão.

“Temos previsão de chuva boa na primavera, mas, quando o coração do período úmido chegar, o verão, provavelmente não teremos chuva suficiente”, diz ele, que não descarta racionamento maior em 2022.

Não será como o verão 2013 e 2014, sem chuva nenhuma. O problema são os níveis dos reservatórios, que hoje estão piores do que lá atrás. A gente precisa de um verão chuvoso, mas não vamos ter.”
Pedro Regoto, meteorologista

O desabastecimento de água também afeta a capital paulista, que vem registrando falta de água em diversas regiões da cidade. Desde a semana passada, a Sabesp aumentou o tempo de redução da pressão da água no período noturno, que antes ocorria entre as 23h e as 5h, mas foi antecipado para as 21h.

A intenção é reduzir os desperdícios causados por vazamentos nas redes. Reportagem do UOL informa que os desperdícios nos canos da Sabesp e os “gatos” poderiam abastecer uma cidade do tamanho de São Paulo.

Uol

 

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