FMI reduz perspectiva de crescimento do Brasil
Foto: Andrew Harrer / Bloomberg
Os problemas persistentes na cadeia de abastecimento e aumentos de preços estão complicando a recuperação da economia global no pós-pandemia, disse o Fundo Monetário Internacional (FMI), nesta terça-feira, reduzindo as perspectivas de crescimento para os Estados Unidos e outras economias, como a brasileira.
Em seu relatório World Economic Outlook, o FMI reduziu a previsão de expansão do PIB global para 5,9% este ano, ante 6% estimado em um relatório inicial em julho. O Fundo manteve as estimativas para 2022 em 4,9%.
No caso do Brasil, houve redução de 0,1 percentual nas projeções para este ano em relação aos números de abril. O FMI agora espera que o Brasil cresça 5,2% em 2021 e 1,5% em 2022, em meio a um rápido ciclo de aperto nas condições monetárias para controlar a inflação.
“Esta modesta revisão das projeções, no entanto, contém reduções significativas para alguns países”, disse o FMI no relatório.
O Fundo alertou que as ameaças de crescimento aumentaram, destacando obstáculos como a variante Delta, problemas nas cadeias de abastecimento, inflação acelerada e custos crescentes de alimentos e combustível.
A atividade manufatureira global ainda foi atingida pela escassez de componentes-chave como semicondutores e contêineres de carga.
O número agregado também mascarou grandes reduções para alguns países, especialmente nações de baixa renda, onde o acesso às vacinas continua limitado.
“As perspectivas para o grupo de países em desenvolvimento de baixa renda escureceram consideravelmente devido ao agravamento da dinâmica da pandemia. O rebaixamento também reflete as perspectivas de curto prazo mais difíceis para o grupo de economias avançadas, em parte devido a interrupções no abastecimento”.
O descompasso entre oferta e demanda, alimentado em parte pelo excesso de poupança acumulado nos países ricos, elevou os preços, causando picos de inflação.
Com os investidores cada vez mais preocupados com a ameaça de estagflação, o FMI deu algum conforto ao dizer que a inflação cairá para 2% nas economias avançadas em meados de 2022, após atingir o pico nos meses finais deste ano. No entanto, é feita a ressalva que interrupções persistentes no fornecimento podem anular essas expectativas.
O Fundo aposta que as economias emergentes e em desenvolvimento ainda verão os preços ao consumidor subir 4,9% no ano que vem, após 5,5% neste ano.
De maneira geral, o FMI alertou que os riscos de inflação estão “inclinados para cima” e os de crescimento “inclinados para baixo”.
Para o FMI, o PIB para as economias avançadas recuperará seu nível pré-pandêmico em 2022 e até mesmo o excederá em 0,9% em 2024.
Em contraste, o Fundo avaliou que os mercados emergentes e em desenvolvimento ainda estariam abaixo de sua previsão pré-pandemia em 5,5% em 2024.
A disparidade se baseia, principalmente, nas diferenças no acesso às vacinas e no apoio às políticas. Cerca de 60% das pessoas são vacinadas contra a Covid-19 nos países ricos, mas menos de 5% nas nações de baixa renda, disse o relatório.
As economias emergentes também estão retirando o apoio às suas economias mais rapidamente e enfrentam problemas com a inflação de alimentos em alta, como no caso brasileiro.
O FMI disse que espera que a inflação volte aos níveis anteriores à pandemia no ano que vem, mas alertou que interrupções persistentes no fornecimento carregam o risco de anular essas expectativas.
Nos mercados financeiros, o FMI disse que “avaliações esticadas de ativos” significam que o sentimento dos investidores pode mudar rapidamente por notícias adversas sobre a pandemia ou política. Em meio a preocupações urgentes estão o impasse sobre o limite da dívida federal dos EUA e a possível fraqueza no setor imobiliário da China.
Os Estados Unidos suportam grande parte desses efeitos negatviso sobre a economia, o que levou o FMI a reduzir sua estimativa de crescimento em 2021 em um ponto percentual para 6%, de 7% em julho, um ritmo que não era visto desde 1984.
Mas as projeções para 2022 aumentaram de 4,9% para 5,2%.
O crescimento dos EUA pode desacelerar ainda mais, disse o FMI, porque suas previsões presumem que o Congresso – profundamente dividido em várias questões – aprovará os planos de gastos com infraestrutura propostos pelo presidente Joe Biden, avaliados em US $ 4 trilhões.
Os parlamentares agora estão tentando chegar a um consenso sobre um pacote menor, e o FMI disse que uma redução significativa nos planos de gastos diminuiria as perspectivas de crescimento para os EUA e seus parceiros comerciais.
O relatório, que foi divulgado no início das reuniões do FMI e do Banco Mundial, também cortou as previsões de crescimento para outras economias industrializadas. O crescimento alemão para este ano desacelerou em meio ponto percentual em relação à previsão de julho para 3,1%, enquanto a expansão do Japão foi reduzida em 0,4 ponto percentual para 2,4%.
A previsão do FMI para o crescimento do Reino Unido em 2021 caiu apenas 0,2 pontos percentuais, para 6,8%, dando-lhe a estimativa de expansão do PIB mais rápida de todas as economias do G7.
A previsão de crescimento da China para 2021 foi reduzida em 0,1 ponto percentual para 8,0%, uma vez que o FMI citou uma redução mais rápida do que o esperado nos gastos com investimento público. Para 2022, a estimativa caiu na mesma proporção e, agora, está em 5,6%.
O relatório também alertou para uma perigosa divergência nas perspectivas econômicas impulsionada pela “grande lacuna vacinal”, com países de baixa renda, onde 96% da população permanece sem inoculação, enfrentando crescimento mais lento por períodos mais longos. Além de mais pobreza e expectativa de alta inflação.
“Estima-se que mais 65 milhões a 75 milhões de pessoas cairão na pobreza extrema em 2021 em comparação com as projeções pré-pandemia”, disse o relatório, acrescentando que os países de baixa renda precisavam de cerca de US$ 250 bilhões em gastos adicionais para combater a Covid-19 e recuperar o caminho da expansão.
Prevê-se atualmente que esses países terão uma produção acumulada no próximo ano, que ficará 6,7% abaixo dos níveis pré-pandêmicos. Enquanto isso, as economias avançadas terão uma produção de 2022 quase 1% acima dos níveis pré-pandêmicos, disse o FMI.
Pensando mais à frente, o FMI ressaltou que se a Covid-19 tiver um impacto prolongado poderá reduzir o PIB global em US$ 5,3 trilhões nos próximos cinco anos em relação às projeções atuais. Isso poderia ser compensado se os governos intensificassem os esforços para equalizar o acesso às vacinas.
Mesmo com a leve redução na perspetiva de crescimento para o Brasil, os países latino-americanos crescerão mais do que o esperado neste ano, em grande parte devido ao rápido aumento dos preços das matérias-primas que sustentam suas exportações e à medida que avança a recuperação, ainda que desigual, da pandemia.
O FMI elevou a estimativa de crescimento econômico da região como um todo para 6,3%, um aumento de 0,5 ponto percentual em relação à projeção divulgada em julho e 1,7 ponto percentual acima das estimativas de seu último relatório oficial de abril.
Além do Brasil, outro país que teve a previsão de crescimento reduzida foi o México. Agora, as expectativas são de um avanço de 6,2% neste ano e 4% no próximo, uma leve redução em relação aos números anunciados em julho.
“As economias emergentes e em desenvolvimento, que enfrentam condições financeiras mais difíceis e maior risco de desaceleração das expectativas inflacionárias, estão retirando seu apoio monetário mais rapidamente, apesar das quedas significativas na produção”, destaca o relatório.
A Argentina, terceira maior economia latino-americana, terá neste ano expansão de 7,5%, com avanço de 1,7 ponto percentual em relação às projeções de abril, beneficiada pela forte alta dos preços dos grãos que exporta, apesar da possibilidade de prejuízos na demanda pela mudança na dinâmica de produção e consumo na China.
A economia colombiana, por sua vez, crescerá 7,6% neste ano, com alta de 2,5 pontos percentuais em relação à estimativa de abril. Em 2022, a expectativa é de crescimento para 3,8%.
O Chile, maior produtor mundial de cobre, crescerá 11% em 2021 e 2,5% em 2022, sustentado pelos preços do metal básico e pelo sucesso de seu programa de vacinação que permitiu reanimar sua economia. As expectativas para o próximo ano, porém, diminuem em função de efeitos externos, como a demanda da China.
O Peru, onde a campanha de vacinação avança lentamente, poderá ver neste ano uma recuperação quase total de seu PIB ao crescer 10%, após a grave recessão em que caiu em 2020, e marcará um avanço de 4,6% para o 2022, de acordo com o FMI.
Entre outros obstáculos, o FMI indicou que as economias em desenvolvimento “terão pressões inflacionárias que persistirão devido aos altos preços de alimentos e energia e uma depreciação cambial que aumentará os preços dos bens importados”.
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