Parte da imprensa esconde rolos de Guedes e Campos
Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles
Foi-se o tempo, e um longo tempo, que por uma razão ou outra, todas inconfessáveis, a imprensa dava-se ao luxo de desconhecer notícias importantes com a certeza de que, assim, o distinto público não tomaria conhecimento delas.
Antes do surgimento das redes sociais, era possível. Depois, a notícia omitida só serve para que logo se fique sabendo quem preferiu escondê-la. Elementar, não lhes parece? Mesmo assim, parte da imprensa ainda incorre no erro condenável.
Voltou a acontecer com a notícia de que Paulo Guedes, ministro da Economia, e Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, têm contas em paraísos fiscais para proteger suas fortunas e pagar menos impostos, ou nenhum.
Não é ilegal, desde que a Receita Federal saiba. No caso dos dois, ela foi informada. Ocorre que decisões de política econômica tomadas por eles no exercício do cargo afetam diretamente a sorte de suas fortunas investidas lá fora.
Um exemplo. Em julho último, em debate sobre o projeto de lei do Imposto de Renda enviado pelo governo ao Congresso, Guedes defendeu retirar dele a regra que tributaria recursos em paraísos fiscais. Disse que a discussão complicaria o debate sobre o texto:
“Ah, ‘porque tem que pegar as offshores’ e não sei quê. Começou a complicar? Ou tira ou simplifica. Tira. Estamos seguindo essa regra.”
A regra foi retirada pelo relator do projeto. E, agora, ao saber que Guedes tem dinheiro em paraíso fiscal, o relator admite devolvê-la ao projeto. A Procuradoria-Geral da República abriu um inquérito para investigar o caso de Guedes e de Campos Neto.
Dará em nada, como sempre. Augusto Aras, reconduzido pelo presidente Jair Bolsonaro ao cargo de Procurador-Geral da República por mais dois anos, está ali justamente para barrar o que possa criar constrangimento ao governo, e isso cria.
A prática de os milionários se valerem de paraísos fiscais para esconder dinheiro, transações, e escapar da tributação dos seus países é generalizada no mundo inteiro. E parte da imprensa, não só daqui, depende deles para sobreviver. Quando não é sócia deles.
Quem perde com isso? O distinto público já não perde. Ele tem outros meios para se informar. Perde a imprensa que assim procede. Credibilidade é seu único capital, e ela o desperdiça à toa.
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