Presidenciáveis evitam criticar auxílio eleitoreiro
Foto: Clauber Cleber Caetano/PR
Buscando reeditar o pico de popularidade que obteve com o auxílio emergencial, no ano passado, e se viabilizar como candidato competitivo à reeleição em 2022, o presidente Jair Bolsonaro emparedou a equipe econômica com o novo Auxílio Brasil, de R$ 400 por beneficiário, num movimento que os demais presidenciáveis também evitam confrontar. Em que pesem preocupações com o rombo no teto de gastos — o governo defende uma manobra contábil para abrir R$ 83 bilhões de espaço no Orçamento de 2022 — e com um eventual descontrole da inflação, pré-candidatos como Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Ciro Gomes (PDT), João Doria (PSDB) e Eduardo Leite (PSDB) ou não se opuseram à reformulação do Bolsa Família ou sugeriram valores maiores do benefício, de olho na corrida eleitoral.
Presidentes de partidos e analistas ouvidos pelo GLOBO avaliam que seria inviável para pré-candidatos o custo político de ir contra um incremento em benefícios sociais, em um cenário de pobreza e desemprego galopantes. Todos os especialistas, no entanto, veem obstáculos para que o Auxílio Brasil traga novo salto às avaliações positivas de Bolsonaro, que chegaram a 37% no fim de 2020, segundo o Datafolha, e desceram continuamente até marcar 22% no último mês. Caso o índice se mantenha neste patamar até abril, a chance de Bolsonaro se reeleger seria menor do que oito em cem, de acordo com a consultoria Eurasia.
O estudo mapeou 224 eleições em diversos países e identificou que a chance de reeleição é maior do que a de derrota quando o candidato tem 40% de aprovação a seis meses do pleito. Para a Eurasia, ainda que “o fim da pandemia e um programa social mais robusto possam impulsionar ligeiramente seus números”, é “improvável” que Bolsonaro volte ao patamar de quando o governo começou a pagar o auxílio de R$ 600. Posteriormente, o valor foi reduzido pela metade e, em abril, após três meses sem pagamento, o benefício passou a variar entre R$ 150 e R$ 375 por pessoa. As parcelas se encerram neste mês.
“A perspectiva de deterioração no cenário econômico para 2022 em um contexto de inflação alta sugere ser improvável que sua popularidade se eleve a 40%”, diz o estudo.
O economista Bruno Carazza, professor do Ibmec e da Fundação Dom Cabral, avalia que “o tiro pode sair pela culatra” com o Auxílio Brasil devido à incerteza no mercado com o “populismo econômico” do governo. Ele lembra que o auxílio emergencial trouxe um ganho “efêmero” de popularidade a Bolsonaro, que regrediu após reduções no benefício e em paralelo ao avanço da inflação neste ano, puxado pela alta internacional do petróleo e pelo risco de escassez de energia no Brasil.
Ainda assim, a versão repaginada do Bolsa Família é uma aposta do presidente para ganhar pontos, especialmente no eleitorado de baixa renda, que hoje mostra preferência nas pesquisas pelo ex-presidente Lula, em cujo governo o programa foi criado.
— Com 25% de popularidade, Bolsonaro tem condições de ir ao segundo turno, ainda que não vença com uma rejeição alta. Vejo o auxílio mais como tentativa de estancar a sangria, embora possa ser um tiro no pé. Pode impactar os mais pobres, mas outros segmentos não tão lulistas tendem a ficar descontentes com a condução econômica — avaliou o cientista político Jairo Pimentel Jr.
Na última semana, Lula disse em entrevista à rádio A Tarde que o incremento do benefício médio do programa, passando de R$ 189 para R$ 400 sob o nome de Auxílio Brasil no ano que vem, não deveria receber oposição. “Tem muita gente dizendo que não podemos aceitar, é auxílio emergencial eleitoral. Não, eu não penso assim. (…) O que queremos é que Bolsonaro dê auxílio emergencial de R$ 600”, disse o petista.
Opositor do teto de gastos, o PT vem defendendo um maior endividamento público como forma de sustentar o aumento de benefícios sociais. O teto, instituído por emenda constitucional em 2016, estipula que a despesa do governo em um ano deve ficar ancorada pelo gasto do ano anterior, corrigido pela inflação. A sugestão de abolir o teto não tem consenso na esquerda. Para o presidente do PSB, Carlos Siqueira, sigla cortejada por Lula para uma aliança, é necessário equacionar benefícios com limites fiscais.
— É impossível alguém falar contra aumento de benefício nessa situação dramática, mas questiono a forma populista de Bolsonaro. O recurso poderia sair do fim de renúncias fiscais, e não furando o teto necessariamente. Todo governo responsável tem que ter um limite de gastos — disse Siqueira.
Em março, em entrevista à rádio Bandeirantes, Ciro Gomes foi outro a defender um auxilio de R$ 600 até o fim da pandemia. Na ocasião, ele argumentou que uma forma de abrir espaço fiscal para o aumento do benefício seria propor uma “contribuição” de 1% sobre patrimônios superiores a R$ 7 milhões. Ao GLOBO, o pedetista criticou a proposta de parcelamento de precatórios — o adiamento propiciará os recursos para turbinar o auxílio — e a falta de “fontes permanentes de financiamento” para o programa social.
Ciro já chegou a defender o fim do teto de gastos, mas hoje sua equipe busca uma solução intermediária, como mudar sua ancoragem — limitando investimentos, por exemplo, a percentuais da receita do país:
— É correto aumentar o Bolsa Família, mas estão destruindo ainda mais o equilíbrio fiscal. O mais urgente é que o pobre coma, mas queremos também que o orçamento fique equilibrado.
No PSDB, os governadores de São Paulo, João Doria, e do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, que disputarão em novembro as prévias do partido à Presidência, também frisaram a necessidade de responsabilidade fiscal, sem se opor diretamente ao aumento apresentado por Bolsonaro. Doria afirmou que o furo no teto de gastos “piora a situação fiscal” e o controle da inflação, causando “aumento da pobreza” mesmo com o novo Auxílio Brasil.
— O aumento de benefícios sociais deve ser obtido através do corte de gastos, com enxugamento da máquina pública, fechamento de estatais deficitárias e uma ampla reforma administrativa — declarou.
Além de reformas e privatizações, Leite citou possíveis enxugamentos de gastos com emendas parlamentares, que chegaram a R$ 37 bilhões neste ano.
— O teto não diz que o governo não pode executar políticas sociais, mas não se pode dar com uma mão e tirar com outra, com aumento de inflação, juros e desemprego.
Para a socióloga Esther Solano, que tem feito pesquisas qualitativas com eleitores das classes C e D, mesmo candidatos que mantenham propostas de limite de gastos e privatizações tendem a deixar esse discurso em segundo plano para falar às camadas mais pobres, que estão “vivendo no limite”.
— É uma retórica que não tem potencial mobilizatório nas classes C e D. Seria preciso passar uma ideia de redistribuição social da renda.
Para o presidente do União Brasil, Luciano Bivar, “é difícil dizer que as pessoas não merecem mais verba”:
— O que não pode é virar uma república que dá calote. Mas, num momento de guerra, não tem como não ter assistencialismo.
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