Brasil caminha para estagflação

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Foto: Getty Images

Combustível mais caro para os carros e falta de combustível para impulsionar a economia, esse deve ser o cenário do próximo ano. O baixo crescimento econômico combinado com a inflação alta são os principais ingredientes para chamada estagflação, uma conjuntura desfavorável para a economia. O que não faltam são projeções que indicam que o Brasil caminha para nesta direção. A maior sinalização veio com o recuo de 0,14% no terceiro trimestre medido pelo Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) e as projeções de um PIB abaixo de 1% para o próximo ano pelo Boletim Focus, divulgados nesta terça-feira, 16, enquanto as projeções de inflação avançam semanalmente para cima, bastante pressionada principalmente pelos combustíveis.

Players do mercado como o Goldman Sachs e o Banco Ourinvest projetam um estagflação para a economia brasileira no próximo ano. Ambos os bancos indicam uma inflação entre 4,9% a 5% e PIB abaixo de 1% ou menos em 2022. “É um crescimento baixo, que indica estagnação da economia com agravante da inflação”, apontou o Banco Ourinvest. Segundo os economistas entrevistados por VEJA, o cenário de estagflação deve se instaurar no segundo semestre de 2022.

O problema não é exclusivo do Brasil, é global, o que pode dificultar ainda mais a tarefa de estabilização dos preços e retomada econômica, quando comparada a situação de outros anos, quando o ajuste de fatores internos era suficiente para a retomada. “Agora não são só pressões internas, mas também externas. É um cenário global e muito mais desafiador”, diz Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos

Fatores externos como a crise hídrica e o preço dos combustíveis devem continuar pressionando a inflação por aqui. O preço dos combustíveis vai continuar com fortes aumentos nos próximos meses. “Continuaremos com pressão no preço do petróleo no mercado internacional, pois os próximos meses são de grande consumo no hemisfério norte. Isso deve continuar forçando maiores altas, devendo seguir até o final do primeiro trimestre de 2022”, diz Joni Vargas, especialista da Zahl Investimentos.

Com alta de 10,67% no IPCA em doze meses, a inflação deve bater a casa de 4,79% em 2022, próximo ao teto da meta, de 5%, e distante do centro da meta de 3,5%. Para arrefecer a alta dos preços, a expectativa é que a taxa básica de juros (Selic), hoje em 7,75%, possa alcançar 11% ao ano. Economistas dizem que aumentar os juros é um “remédio amargo”, pelos seus conhecidos efeitos nefastos para o crescimento econômico. Essa é a primeira vez que o Boletim Focus revisa o PIB para abaixo de 1%, em 0,93%. Não bastasse essa projeção do mercado, o indicador do próprio Banco Central sinaliza uma recessão técnica no próximo ano. A combinação de inflação com alta na taxa de juros remete ao Brasil de 2015, quando o IPCA alcançou mais de 10% e a Selic 14,25% ao ano, levando a uma retração de 3,5% na economia.

Mas as questões internas também são fundamentais para a atual piora das perspectivas. Embora a pandemia tenha causado desequilíbrios na cadeia produtiva, afetando o preço dos produtos em todo o mundo, o cenário para o Brasil não era tão pessimista. Com a queda dos casos de covid-19 e a alta adesão da população brasileira à vacinação, as perspectivas de retomada econômica até eram bastante positivas por aqui. No primeiro semestre do ano, diversas instituições bancárias projetavam um câmbio abaixo de 5,00 reais. Mas os riscos fiscais com a PEC dos Precatórios e o furo do teto de gastos para bancar o Auxílio Brasil (novo Bolsa Família) deterioraram as perspectivas de retomada econômica, que seria de extrema importância em um momento de pós-pandemia. “O dólar aqui ficou mais caro nos últimos meses principalmente por conta dos ruídos políticos e fiscais”, diz Piter Carvalho, economista da Valor Investimentos. O dólar chegou a bater mais de 5,70 reais com o abandono da responsabilidade fiscal pelo governo.

O preço dos combustíveis no Brasil acompanha a variação internacional do dólar e do barril de petróleo no mercado internacional. Por isso, incertezas no cenário interno desvalorizam o real frente ao dólar e contribuem para maiores pressões inflacionários em preços já bastante inflados, como os combustíveis. Por conta desses fatores externos e da postura presidenciável com atitudes populistas em busca da reeleição, economistas alertam que o BC deve controlar a elevação da taxa de juros. Embora a elevação da Selic seja o único remédio para o Brasil, elevar demais pode não arrefecer esses preços e ainda prejudicar o crescimento econômico, que hoje também enfrenta um elevado nível de desempregados, de mais de 14 milhões. “É preciso tomar cuidado com esse remédio amargo, porque ele não vai fazer o preço da gasolina abaixar”, diz Carvalho, da Valor Investimentos.

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