Dispara o desmatamento no Brasil
Foto: Reprodução/ Uol
Novos números do desmatamento publicados nesta sexta-feira desmentem a estratégia do governo brasileiro na Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas de vender uma ideia ao mundo de que está comprometido com uma política ambiental sólida.
Nesta sexta-feira, enquanto um pavilhão do governo brasileiro em Glasgow tentava construir uma imagem verde do país, um informe do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais revelavam o pior mês de outubro desde que o banco de dados foi criado.
A área de alertas detectada pelo Deter no mês de outubro, portanto, foi de 877 km2, uma alta de 5% em relação a 2020 e recorde da série histórica de cinco anos.
“O dado do Deter é um lembrete de que o Brasil que circula pelos corredores e pelas salas da COP26, em Glasgow, é o mesmo onde grileiros, madeireiros ilegais e garimpeiros têm licença do governo para destruir a floresta”, diz o Observatório do Clima.
“O governo ainda não divulgou o Prodes neste ano — o dado oficial do desmatamento, também medido pelo Inpe, de agosto de um ano a julho do ano seguinte, costuma estar disponível no começo de novembro”, destacou.
“Na conferência do clima, o regime de Jair Bolsonaro vem tentando apresentar uma imagem de país preocupado com a crise climática: sob pressão internacional, assinou acordos multilaterais contra o desmatamento e as emissões de metano, vem deixando seus diplomatas trabalharem de forma construtiva na negociação e montou um esquema gigantesco de propaganda com ajuda dos lobbies do agro e da indústria”, afirmam.
“Em casa, porém, é que reside o tal “Brasil real” de que tanto fala o ministro Joaquim Leite (Meio Ambiente): um país que desmontou as políticas de combate ao desmatamento, maior causa de emissões de gases de efeito estufa, que gastou centenas de milhões de reais em operações militares inócuas e que tem ao menos cinco projetos de lei no Congresso que anistiam o roubo de terras, acabam com o licenciamento ambiental e ameaçam as terras indígenas, barreiras mais eficazes contra a devastação.”, diz a entidade
“As emissões acontecem no chão da floresta, não nas plenárias de Glasgow”, afirma Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima. “E o chão da floresta está nos dizendo que este governo não tem a menor intenção de cumprir os compromissos que assinou na COP26.”
Os números criam um constrangimento ao ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, que passou dias insistindo que o “futuro verde” do Brasil já era uma realidade. Em seus discursos, ele omitiu a alta no desmatamento e, ao ser questionado pela imprensa, insistia em dar respostas evasivas.
Um dos principais compromissos assinados por mais de cem países em Glasgow foi o de lutar contra o desmatamento das florestas até 2030. O Brasil aderiu à iniciativa, criando uma meta de acabar com o fenômeno ilegal até 2028. O tema era um dos maiores pontos de constrangimento internacional para o país e a adesão serviu, acima de tudo, para desmobilizar chantagens nas negociações.
Mas, sem credibilidade, o governo brasileiro não conseguiu convencer nem ambientalistas e nem cientistas de que o compromisso será cumprido. Além de não ser legalmente vinculante, o pacto não obriga o governo a agir imediatamente. Na prática, Bolsonaro usou a iniciativa para se blindar e, ao mesmo tempo, não ter de tomar medidas concretas.
Tanto o vice-presidente da Comissão Europeia, Franz Timmermans, como o enviado americano John Kerry, fizeram declarações no mesmo sentido: sem medidas concretas, não há como trabalhar com o Brasil e promessas não serão suficientes.
Mas, para ambientalistas, o governo americano pecou em dar crédito ao Brasil. Para Diane Ruiz, do Greenpeace, “Kerry está legitimando a destruição florestal com seus acordos florestais na COP26” e “permitindo que Bolsonaro avance mais na destruição das florestas e no abuso dos direitos humanos”.
“O Brasil está planejando atingir seu objetivo de reduzir o desmatamento ilegal, legalizando mais desmatamento”, disse. “Quando a delegação brasileira retorna de sua turnê de relações públicas em Glasgow, seu Senado está apressando a votação de uma legislação que recompensaria e incentivaria a apropriação de terras, uma atividade criminosa responsável por pelo menos um terço de todo o desmatamento na Amazônia brasileira”, alertou.
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